O Homem Sem Medo

Esse conto não é bem de terror, na verdade, essas são algumas das "aventuras" do meu tio Miguel, resolvi publicar aqui pois, são meio cabulosas mas, com o final "alternativo" (se é q vcs me entendem) mas, é bem legal sim, forte abraço a todos vcs. recanto, Amém

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No interior, as pessoas tem o costume de fazer farinha, é um processo no mínimo demorado, planta a manilha, colhe a mandioca, transporta no lombo dos jumentos, descarrega nas casas de farinha, onde é descascada, moída, prensada, penerada e finalmente, assada no forno específico. Antigamente, faziamos farinhada por vários dias, meu pai fazia para toda a família, eram oito filhos, todos ajudavam o velho e ele fazia a farinha pra todos, eu era o forneiro, fazia tapioca, beiju e assava a farinha. De todos os filhos, eu era o que morava mais longe, morava a uma légua da casa de farinha, eu ficava lá, até o final da farinhada, as vezes vinha em casa mas, era muito difícil.

Nunca fui uma pessoa assustada, andava toda hora da noite, as vezes andava a noite inteira, enquanto as pessoas falavam de assombração ou de outras coisas, nunca vi nada, passava em lugares ditos assombrados e nunca um bicho quis me comer, como minha tia dizia, afinal, quem não deve não teme.

Uma vez, eu vi uma coisa, que realmente me arrepiou, foi quando eu vinha andando em um matagal, tinha apenas uma trilha entre uma verdadeira floresta, vinha caminhando, pensando alguma besteira, quando ouvi um bufado bem do meu lado, parei e estremeci dos pés até a cabeça, um frio me percorreu a espinha, quando novamente o bufar do meu lado, tremi um pouco devo confessar, puxei minha velha faca doze polegadas, resolvi ir olhar, quando entrei embaixo do matagal a primeira coisa que eu vi foi um par de chifres sobre uma enorme sombra negra, aquilo me fez passar a mão nos olhos para ver se não estava delirando, pensei que fosse me encontrar com um demônio, ali na minha frente aquela massa negra se mexeu, outro bufar e outro arrepio na espinha, puxei minha lanterna e acendi bem nos olhos da sombra, pude ver a contração das pupilas da coisa, até então desconhecida para mim, só então, notei que meu demônio, na verdade era um grande boi preto deitado no chão, acho que se ajeitava para dormir.

Outra vez, em um outro dia, ou melhor noite, eu ia andando em um lugar, que o pessoal diziam que aparecia uma bola de fogo e ela perseguia as pessoas, passei pelo lugar olhando para os lados para ver se via algo, vi uma moita se mechendo, ja me preparava para correr, quando vi que nenhuma luz surgia, nem nada, ouvi um pequeno grito, era roco e baixo, fui atrás de ver o que fazia aquilo, coloquei a mão na moita para afastar-la, senti um puxão e um beliscão na mão, por reflexo, puxei a mão e vi que sangrava, afastei a moita com a perna e pude ver que era uma galinha choca, estava muito violenta protegendo seus ovos.

A única vez que eu vi alguma coisa que não achei expicação, foi na dita farinhada do começo da história, quando a farinhada acabou eram duas e meia da manhã, meu pai pediu que eu dormisse lá mesmo e só fosse para casa de manhâ mas, eu resolvi ir logo, afinal queria amanhecer em casa pois, tinha mais coisas para fazer. Saí com minha mochila nas costas, levava um punhado de roupas sujas, uma tapioca para o café de manhã e um litro de farinha. Ia caminhando, pensando na morte da bezerra, quando levantei a cabeça e na minha frente estava um enorme juazeiro, era o juazeiro da curva do norte, quando estava chegando perto, o juazeiro balançou como se um furacão estivesse proximo mas, não estava nem ventando, parei olhando para o juazeiro, ele ia lá e vinha cá, quase caia no chão. De repente, parou, olhei para ele e gritei:

- Pode balançar mais, se quiser, derrube logo.

O juazeiro deu uma balançada tão grande que várias folhas cairam, nesse momento sai correndo sem olhar para trás.

João Murillo
Enviado por João Murillo em 15/08/2010
Reeditado em 16/11/2010
Código do texto: T2440263
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