Um Drink com o Diabo
Naquela sexta-feira, alguma coisa me dizia que eu não deveria ter saído de casa mas, o meu amigo Pedro fez questão de me levar para uma festa na serra, em um lugar que eu não conhecia direito, mesmo assim resolvi ir, afinal, tão cedo não teria outra chance de sair com os amigos, dançar um pouco e beber umas e outras pois, dois dias depois, eu iria para a escola de sargentos das armas do exército, as festas no interior sempre começavam cedo e iam até altas horas da madrugada ou terminavam quando o sol expulsava os participantes, bons tempos aqueles, só achava muito perigoso as brigas, por qualquer motivo, as pessoas armadas de facas "peixeiras", partiam para cima dos outros, as vezes, até amigos se enfrentavam, até hoje não acredito como metade das pessoas que eu conhecia nessa época não foram assasinadas.
Por volta das nove da noite, o safoneiro tocava alguma coisa do Luiz Gonzaga, quando uma briga estourou bem próximo de onde eu estava, derramaram nossas bebidas, passaram entre as colunas, davam socos, insultos e facadas que felizmente, não acertavam o alvo, um homem baixo e entrocado lutava com um mais alto e magricela, não sei bem qual era o motivo mas, o que me chamou a atenção foi que por detrás deles um homem alto, de chapéu e vestido de preto, olhava para eles, com uma cara de prazer, seu olhar doentio foi o que mais chamou minha atenção, de repente notei que ele percebera que eu o encarava, me encarou de volta e eu desviei o olhar, nesse momento meus olhos recaíram sobre aquela menina, era linda, estava vestida de branco o que realçava seus traços angélicais, ela não dava atenção para os homens brigando, ela olhava para algum outro lugar, que eu não pude ver mas, a briga já estava tão estridente que o tocador parou de tocar e a menina na mesma hora foi para perto da confusão, no momento em que ela chegou, eu pude reparar que o homem de preto saiu tão apressado que derrubou uma criança, na mesma hora os homens pararam com a confusão, foram separados por amigos que pediam calma. Continaram a festa.
Em um curto espaço de tempo houve umas quatro brigas, em todas as vezes eu via o homem de preto gostando do que via e depois a menina de branco chegava e acalmava tudo, pensei que era um demônio e um anjo em um combate ali mesmo, depois da sexta briga, Pedro e eu resolvemos ir embora, "aquilo lá é lugar de gente", vinhamos dizendo, de repente, surgiu em nossa frente o cemitério do lugar, era pequeno, mistérioso mas eramos destemidos e estavamos bêbados, passamos enquanto faziamos o sinal da cruz, passamos pela igreja do lugar e começanos a descer a ladeira, nos dirijimos para o pé da serra, em meio a neblina e a fumaça que se formava de algum lugar e se acumulavam em uma pequena passagem, pude ver ainda que um circo estava no local mas, aquela hora estavam todos dormindo. Seguimos pela estradinha de terra batida mas, alguma coisa me incomodava, apesar de estarmos bêbados, não a ponto de cair mas, a ponto de cambalear, quando na nossa frente surgiu um bar. Era uma casinha bem típica da serra, toda coberta de palha, e o que mais chamou minha atenção foi que tinha duas pessoas sentadas nos banquinhos e o dono do bar também estava lá, tinham duas mesas de madeira, feitas em baixo de uma grande algaroba, sentamos e pedimos meio litro de cachaça, o dono do bar, um homem meio calvo mas, muito atencioso, ainda nos trouxe algumas asas de frango frias para tirarmos o gosto (petisco).
Nesse momento, olho para a estrada e vejo um vulto preto se aproximando, para minha surpresa era o homem de preto da festa, ele vinha com um sorriso no rosto e olhava para mim, fiquei m pouco preocupado pois, achei que ele viria atrás de confusão pois, haviamos trocado olhares nada amistososna festa mas, eu estava enganado, ele veio sorrindo para mim e pediu uma dose de cachaça, imediatamente, Pedro colocou a dose no copo e ele bebeu, pediu mais uma e bebeu outra vez, sentou-se na mesa junto conosco e depois de uma agrádavel conversa sobre alguma coisa que eu não me lembro mas, lembro que tinha uma lábia enorme, ele puxou do bolso uma garrafinha de vidro com a tampa metalica, havia uma caveira esculpida na tampa, dentro havia uma bebida verde, ele encheu nossos copos com ela, imediatamente, nós viramos, não me lembro do gosto mas, lembro de ver o mundo rodar, ao longe no caminho eu pude avistar um vulto branco vindo em nossa direção, logo reconheci a menina de branco da festa, ainda pude ver o homem me olhando nos olhos e vi a menina correndo em nossa direção mas, nesse momento cai desmaiado.
Acordei pela manhã, em baixo de uma grande árvore em cinzas, olhei ao meu redor procurando Pedro, ele jazia morto ao meu lado, sua última expressão era de um horror indescritível, a casa não passava de uma tapera, e os bancos que outrora nós estavamos sentados era duas cruzes de beira de estrada.