O Corpo sem Alma

O Corpo sem Alma tinha sido publicado dia 13, pelo menos foi o que eu tinha pensado, seria o meu décimo terceiro conto, lançado a meia noite da sexta feira 13 de agosto( desgosto) mas, por causa de um minuto foi lançado no dia 12, fiquei chateado e resolvi relançar hoje, deixando de baboseira, vamos ao conto:

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A noite escura estava em cima de mim, sem estrelas, sem luar, finalmente, eu conseguia sair da minha cova, minha cabeça doía, acho que são os vermes. Minhas roupas estavam muito sujas de alguma espécie de gosma negra e terra, sentia minha língua inchada e minhas unhas estavam enormes, meus olhos doiam, estavam afundados em meu crânio, era um pouco difícil andar pois, o rigor mortis tinha endurecido meus músculos.

Mil demônios haviam me perseguido, eu tinha olhado nos olhos de meu carrasco, depois, tudo o que eu vi foram as chamas então, tudo ficou escuro, não me lembro bem o que aconteceu mas, aqueles olhos vermelhos surgiram nas trevas e não saem da minha cabeça, não conseguia encará-los, eles me queimavam por dentro, aquela sensação de queda livre ainda era assustadora, sentia ainda como se estivesse dentro de uma panela de pressão, até cair em uma espécie de rio mas, não era água, ainda não sei o que era mas, será que era o Aqueronte? Não sei mas, quando dei por mim estava deitado em meu caixão, sete palmos abaixo do chão.

Pude ainda limpar a terra em minhas roupas, notei que minha pele estava com uma cor verde-azulada, aquele cheiro de carne podre me era muito estranho, até eu constatar que na verdade, o cheiro vinha de mim, era horrível. Aquela situação me fez olhar ao redor, estava em um descampado, todo cercado por altos muros mas, do lado de fora, eu pude ver uma mata, depois fiquei me perguntando o que era aquilo, finalmente, entendi, era o cemitério municipal, era muito grande, entre as sepulturas que tinha ali, pude reconhecer a da minha família, era a menor, uma pequena capela, cercada por outros dois túmulos, o do lado direito era todo coberto de azulejos verdes e o outro era branco com uma grande cruz preta em cima, minha sorte era que a sepultura da minha família estava cheia e fui enterrado em uma cova simples, lembro que minha tia vivia me explicando como era aquilo, quando o túmulo estava cheio, uma cova era aberta em frente a ele e o cadáver era enterrado no chão mesmo, até poderem coloca-lo dentro, lembro que quando enterraram a vovó, havia um caixão dentro do jazigo, e quando tocaram nele, virou pó, só então, puderam coloca o caixão dela.

Resolvi andar entre as covas, percebi que eu não fazia sombra, pensei que fosse por culpa da escuridão mas, notei que uma luz fraca de uma lâmpada incandecente iluminava o lugar, bem longe de onde estava, era verdade mas, as sombras eram projetadas mais longe ainda e eu não projetava nenhuma. Me sentia tão sozinho, como nunca antes, um vazio intenso me consumia, não sabia o que estava acontecendo, angústia, solidão, tédio e uma dor que queimava meu ser por dentro, sentia ainda sede, muita sede, como se estivesse sem beber nada há dias. Escuto um choro, bem distante e vejo uma neblina mágica, o choro vem de dentro dela, de repente vejo ao longe, sentado sobre uma pedra, uma mulher, ela parece um cadáver em um vestido de noiva, pensei por um instante, que fosse outro cadáver em uma sina como a minha mas, não era, pude me reconhecer nela, pude ver que ao seu lado havia um vulto negro, me aproximei um pouco mais, não conseguia ver o que era o vulto pois, era apenas uma sombra mas, era mais escura do que qualquer sombra que eu já vira em toda minha vida, agora em minha morte, só então notei que a mulher vestida de noiva, não era apenas parecida comigo, na verdade, era parte de mim, ela era a minha alma.

O vulto que estava parado ao seu lado a envolveu em seu manto negro, e rasgou-lhe o vestido, pude ver seus seios, e de suas costas nuas brotatam pequenas asas negras, o vulto se revelaria para mim depois, como um enviado, Satã recebera seu pagamento, não sabia qual era a minha divida mas, sabia que estava sendo paga ali. Cai de joelhos, implorando por misericórdia, ainda fiz uma oração mas, não fui atendido, o vulto e minha alma foram envoltos pela neblina mágica e finalmente, sumiram, não sabia o que seria de mim, teira uma sina pela frente, vagar morto naquele cemitério, assustando os vivos? Dormir de dia e andar a noite? Eu não sabia, o que eu era agora? Talvez, um vampiro? Um zumbi? Tudo o que eu sabia é que eu estava preso em seu encantamento, eu era agora um corpo sem alma.

João Murillo
Enviado por João Murillo em 15/08/2010
Reeditado em 29/11/2010
Código do texto: T2439933
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