Nos lábios da morte
A morte lhe teria presenteado com sua bem vinda chegada, mas teria que caminhar mais tempo no mundo, estava pagando alguma dívida que fez ao longo de sua tenebrosa vida naquele hospital de arquitetura soturna e de corredores de dar arrepios.
Dr. Paulus era o único médico a trabalhar naquele fim de mundo assolado pela trágica presença de homens da inquisição e de uma bem construída base para a fogueira e de uma guilhotina.
A figura solitária de Paulus andava pelas neblinas do lugarejo medieval, entre sua sóbria residência envolta em trepadeiras a pracinha e o hospital, os dias os viam assim, e por vezes a sombra misteriosa do Doutor fazia serões num banco mais na penumbra da pracinha.
O seu velho rosto enrugado, longas costeletas e fartas pestanas, lhe davam um tom romântico até, se não fossem as longas meditações e após o olhar trágico em direção ao infinito.
Eram todos burocratas aqueles homens da inquisição, e inocentemente quem ia morrer ou seus parentes não sabiam que nos momentos finais quem os assistia era o Doutor. Pois qual carrasco oficial vestia capuz e punha termo a vida dos miseráveis condenados pela inquisição.
Mas não eram em vão os longos devaneios daquele ancião, pois o seu pensamento não era só o açougue do seu dia a dia, mas nutria uma paixão, secreta, inconfessável, mas uma paixão avassaladora.
O centenário hospital recebeu naquela manhã uma jovem senhora com dores abdominais, e com o costumeiro vacilante andar Dr. Paulus veio de sua residência do outro lado da praça, subiu a escadaria do velho hospital e parou diante da figura excêntrica da enfermeira na entrada.
___Bom dia? O que temos hoje? Perguntou ele àquela enfermeira de confiança.
___Bom dia senhor, execuções as 10 e as 15, duas fogueiras de manhã e 1 guilhotina a tarde senhor, mais cedo, consulta com a senhora Ostrachn, com dores abdominais...
Paulus olhava a janela ao lado e depois de ouvir o nome daquela mulher ficou paralisado por instantes e depois seguiu para sua sala, com um sinal afirmativo na sua velha face.
Recebeu em sua sala a mulher fez alguns exames e pela primeira vez pode tocar aquela pele dos seus sonhos, finalmente deu o veredicto:
___Minha senhora, ficará internada até amanhã, sob medicamentos e amanhã cedo faremos a cirurgia de apendicite, fique tranqüila.
Logo depois a mulher saiu da sala e Paulus, virado para a parede sorria de felicidade, afinal poderia ver e cuidar daquela a quem amava.
Que importa se ela é casada, pensou ele.
09h45min h, Paulus encaminhou-se para um pequeno quartinho dentro do seu consultório, ficou ali pelo menos 10 minutos, e quando saiu os seus olhos vermelhos e a brusca mudança na face que de normal passou a conter traços de um genocida frio e de trejeitos confusos.
Mas ninguém via esta faceta de Paulus, porque Dalí ele seguia por um corredor subterrâneo de 100 metros até a sala de execuções, que somente meia dúzia de pessoas conhecia, é claro além de quem ia morrer.
10h15min h já era terminado a barbárie e Paulus voltava a seu consultório, agora sem os efeitos do psicotrópico que usava para ter a coragem necessária na hora da execução.
Mas porque fazia isso? A constância o tornara um escravo, primeiro da droga e depois da vontade assassina de matar, a realidade já não existia totalmente na mente doentia de Paulus.
Na medida em que o efeito da droga ia passando, Paulus era acometido de uma violenta depressão, que durava todo o dia, mas como naquele dia haveria execução também a tarde, não tinha esta esperança.
Pelo contrário, esperou silenciosamente pela hora da tarde, e encaminhou-se novamente ao seu quartinho...
Deitou num divã, pegou 3 ampolas, aspirou o conteúdo, os misturou e duas polegadas acima da parte interna do cotovelo, introduziu a agulha, injetou...
Segundos depois, na soma das doses, da manhã e da tarde, Paulus pode conhecer o inferno como nunca, violentas explosões lhe abalavam o cérebro numa confusão mental absurda, segurou com força os lados do divã, e como flashes vinham em sua frente cenas de amor entre a senhora Ostrachn e seu marido, e logo depois os que foram mortos em suas mãos, por fim, com as duas mãos recolhendo água da torneira para jogar no rosto, gemia e ofegante arrancou de uma gaveta algo, enfiou no bolso do paletó, abriu a porta de sua sala e saiu...
Cambaleante, e com feições demoníacas andou nos corredores do hospital, até chegar num quarto com uma grande vidraça na frente, parou.
Lá dentro sob o efeito de sedativos contra a dor, a senhora Ostrachn, dormia profundamente...
Paulus abriu a porta, lentamente caminhou até sua cama, sentou ao lado, a olhou profundamente, retirou duas cápsulas de cianureto e colocou na boca depois como se viajasse, enquanto descia sua boca até a boca da mulher mordeu as duas cápsulas e dividiu o conteúdo com a mulher adormecida num longo beijo ...
Malgaxe
A morte lhe teria presenteado com sua bem vinda chegada, mas teria que caminhar mais tempo no mundo, estava pagando alguma dívida que fez ao longo de sua tenebrosa vida naquele hospital de arquitetura soturna e de corredores de dar arrepios.
Dr. Paulus era o único médico a trabalhar naquele fim de mundo assolado pela trágica presença de homens da inquisição e de uma bem construída base para a fogueira e de uma guilhotina.
A figura solitária de Paulus andava pelas neblinas do lugarejo medieval, entre sua sóbria residência envolta em trepadeiras a pracinha e o hospital, os dias os viam assim, e por vezes a sombra misteriosa do Doutor fazia serões num banco mais na penumbra da pracinha.
O seu velho rosto enrugado, longas costeletas e fartas pestanas, lhe davam um tom romântico até, se não fossem as longas meditações e após o olhar trágico em direção ao infinito.
Eram todos burocratas aqueles homens da inquisição, e inocentemente quem ia morrer ou seus parentes não sabiam que nos momentos finais quem os assistia era o Doutor. Pois qual carrasco oficial vestia capuz e punha termo a vida dos miseráveis condenados pela inquisição.
Mas não eram em vão os longos devaneios daquele ancião, pois o seu pensamento não era só o açougue do seu dia a dia, mas nutria uma paixão, secreta, inconfessável, mas uma paixão avassaladora.
O centenário hospital recebeu naquela manhã uma jovem senhora com dores abdominais, e com o costumeiro vacilante andar Dr. Paulus veio de sua residência do outro lado da praça, subiu a escadaria do velho hospital e parou diante da figura excêntrica da enfermeira na entrada.
___Bom dia? O que temos hoje? Perguntou ele àquela enfermeira de confiança.
___Bom dia senhor, execuções as 10 e as 15, duas fogueiras de manhã e 1 guilhotina a tarde senhor, mais cedo, consulta com a senhora Ostrachn, com dores abdominais...
Paulus olhava a janela ao lado e depois de ouvir o nome daquela mulher ficou paralisado por instantes e depois seguiu para sua sala, com um sinal afirmativo na sua velha face.
Recebeu em sua sala a mulher fez alguns exames e pela primeira vez pode tocar aquela pele dos seus sonhos, finalmente deu o veredicto:
___Minha senhora, ficará internada até amanhã, sob medicamentos e amanhã cedo faremos a cirurgia de apendicite, fique tranqüila.
Logo depois a mulher saiu da sala e Paulus, virado para a parede sorria de felicidade, afinal poderia ver e cuidar daquela a quem amava.
Que importa se ela é casada, pensou ele.
09h45min h, Paulus encaminhou-se para um pequeno quartinho dentro do seu consultório, ficou ali pelo menos 10 minutos, e quando saiu os seus olhos vermelhos e a brusca mudança na face que de normal passou a conter traços de um genocida frio e de trejeitos confusos.
Mas ninguém via esta faceta de Paulus, porque Dalí ele seguia por um corredor subterrâneo de 100 metros até a sala de execuções, que somente meia dúzia de pessoas conhecia, é claro além de quem ia morrer.
10h15min h já era terminado a barbárie e Paulus voltava a seu consultório, agora sem os efeitos do psicotrópico que usava para ter a coragem necessária na hora da execução.
Mas porque fazia isso? A constância o tornara um escravo, primeiro da droga e depois da vontade assassina de matar, a realidade já não existia totalmente na mente doentia de Paulus.
Na medida em que o efeito da droga ia passando, Paulus era acometido de uma violenta depressão, que durava todo o dia, mas como naquele dia haveria execução também a tarde, não tinha esta esperança.
Pelo contrário, esperou silenciosamente pela hora da tarde, e encaminhou-se novamente ao seu quartinho...
Deitou num divã, pegou 3 ampolas, aspirou o conteúdo, os misturou e duas polegadas acima da parte interna do cotovelo, introduziu a agulha, injetou...
Segundos depois, na soma das doses, da manhã e da tarde, Paulus pode conhecer o inferno como nunca, violentas explosões lhe abalavam o cérebro numa confusão mental absurda, segurou com força os lados do divã, e como flashes vinham em sua frente cenas de amor entre a senhora Ostrachn e seu marido, e logo depois os que foram mortos em suas mãos, por fim, com as duas mãos recolhendo água da torneira para jogar no rosto, gemia e ofegante arrancou de uma gaveta algo, enfiou no bolso do paletó, abriu a porta de sua sala e saiu...
Cambaleante, e com feições demoníacas andou nos corredores do hospital, até chegar num quarto com uma grande vidraça na frente, parou.
Lá dentro sob o efeito de sedativos contra a dor, a senhora Ostrachn, dormia profundamente...
Paulus abriu a porta, lentamente caminhou até sua cama, sentou ao lado, a olhou profundamente, retirou duas cápsulas de cianureto e colocou na boca depois como se viajasse, enquanto descia sua boca até a boca da mulher mordeu as duas cápsulas e dividiu o conteúdo com a mulher adormecida num longo beijo ...
Malgaxe