O Mago e o caçador
Já fazia algum tempo que eu ouvia falar de um curupira, um defensor das matas, estava andando pelas minhas terras e adjacencias, as pessoas que iam caçar a noite diziam que viam um anão com um machado nas mãos, seus cabelos eram vermelhos e suas pegadas iam na direção contrária do seu movimento, ele já havia assustado alguns homens corajosos que andavam na mata a noite, atrás de caçar animais.
Foi sabendo disso que o coronel Alfonso, dono das terras vizinhas das minhas, foi na minha casa pedir minha ajuda para acabar com "a praga", como o próprio coronel dizia, particulamente, eu nunca simpatizei com o coronel, era um homem rico mas, eu sabia que estava metido com algum tipo de negócio sujo, vivia com os seus "capangas", como eu costumava chamar, mulher e filhos na fazenda.
Combinamos, a noite eu, ele, seus 2 filhos e 5 de seus capangas iriamos entrar mata adentro para tentar expulsar o defensor de nossas terras. Eu só fui pois, o coronel me garantira alguns bons negócios com o gado.
Ia alta a meia noite quando eu coloquei o mel e o fumo em oferenda ao curupira traçei mais um círculo mágico ao redor de toda a área, e ficamos todos entocaiados esperando pelo monstro.
De repente, ouvi ao longe seu assobio, um sílvio alto que cortava a noite como um relâmpago corta as nuves em dias de tempestade, e vinha se aproximando, cada vez mais perto. De repente aquela criatura esverdeada pulou no meio do círculo para pegar o fumo, imediatamente corri para fechar o círculo mágico, nesse momento vi os "capangas" do coronel correndo com medo, fechei o círculo, a criatura fora capturada.
O coronel correu em redor do círculo dizendo:
- Te peguei seu diabrete até que enfim, você não vai mais, nunca mais meter o dedo onde não é chamado.
Ao ser surpreendido, o monstro tentou fugir deu um grito mas, estava preso dentro do feitiço do círculo, me aproximei de onde ele estava, acho que ele logo notou que eu não era a ameaça, e me disse:
- Qual o motivo de você me prender? Será que a sede de saber de um mago nunca é saciada?
- Afinal, quem é você?
- Eu sou como você, sou de uma raça que é conhecida por vários nomes, na Grécia antiga nos chamavam de Pã, em Roma, Lupércio e entre outros nomes. Então, você não é um defensor de vidas como eu?
- Você bem sabe que eu nunca fiz nenhuma promessa, quero que você saia das minhas terras e nunca mais volte. - falei com voz firme
- Você é sim, um defensor, não tem como fugir.
- Não, eu apenas defendo os meus interesses.
- Então, você prefere ajudar um contrabandista de animais do que o protetor das matas?
- Contrabandista? - fiquei surpreso.
- O seu amigo coronel não lhe contou tudo não é? Qual é o motivo de ele querer me exterminar? Eu sou uma pedra nos negocios dele, não posso permitir que ele continue. Deixe-me mostrar para você. - e estendeu a mão em direção a minha testa.
Deixei que ele me revelasse a visão, vi animais sendo brutalmente mortos por homens do coronel, vi uma pequena raposa se contorcendo de dor pois, estavam tirando sua pele, com ela viva, vi um tatu tendo o casco arrancado com uma faca, enquanto o pobre animal agonizava, as tripas de um gato do mato dependuradas e a pele de um filhote de onça pintada estava dependurada curtindo.
Não aguentei ver mais, disse ao defensor:
- Você tem razão, estou lutando pelo lado errado.- dizendo isso desfiz o círculo mágico que o prendia - vá e faça o que tem que fazer.
Voltei para casa, só depois soube que o coronel e seus filhos haviam ficado loucos, perdidos na mata. A partir daquela noite, nunca mais nunguém voltou a caçar naquelas terras ou nas redondezas.