A Despedida

Eu estava assistindo algum programa chato na televisão, eram umas 8 ou 9 horas da noite, quando a campainha tocou, fiquei um ou dois segundos pensando quem seria, coisa que eu sempre faço antes de levantar da poltrona, meu apartamento de 4 comodos aqui nessa área pouco nobre da cidade, morava perto do terminal rodoviário, a rodoviária dos pobres como é conhecida. Era pouco visitado, principalmente, agora que eu trabalhava o dia inteiro e sofria a noite toda com a minha insônia, três vezes maldita insônia que me fazia ficar noites inteiras sem dormir e dias com sono.

Voltando a campainha, levantei-me e fui ver quem era, não havia ninguém na porta.

Quando meu velho relógio marcava 10 e meia outra vez a campainha tocou, fui olhar novamente, e para minha agradável surpresa encontro com minha tia Matilda, uma mulher de seus 80 anos mas, ainda era forte e saudável, era uma de minhas paixões, uma sugunda mãe quando mais novo, todo dia quando minha mãe saia para trabalhar, eu ia na casa dela, e sempre a boquinha da noite, ela aparecia lá em casa trazendo algum doce ou um pedaço de bolo para o "seu sobrinho",ela me ensinara a jogar xadrez, diversos jogos de baralho, me ensinou alguns dos seu truques de "mágica" e ainda me ajudou a conseguir o meu primeiro emprego mas, desde as festas de final de ano que eu não há via, já estavamos no mês de junho.

- Titia, entre, a senhora anda perdida? - brinquei com ela.

- Ah meu querido, vim aqui conversar com você e se você deixar, vou dormir aqui pois, amanhã vou viajar. - disse-me ela com um grande sorriso.

Ela entrou e sentou-se na minha poltrona, pedi-lhe licensa para ir preparar um chá de cidreira, que eu usava para tentar dormir mas, não estava servindo muito.

- Amanhã, meu querido, eu vou viajar. - disse, sorrindo pra mim.

- A senhora é uma turista né? - respondi com um sorriso.

- Axo que vamos nos demorar a nos rever, tanto tempo que você não me visitava, desde o natal , se não estou enganada, veio uma saudadezinha, e eu resolvi vir aqui. - e deu outro grande sorriso.

- E a senhora vai pra onde? Vai sozinha?- perguntei-lhe.

- Eu vou com o meu amigo Gabriel, alías, pedi para ele vir dormir aqui. Tudo bem pra você? -disse enquanto tomava um gole do chá.

Nesse momento, a campainha tocou mais duas vezes, minha tia disse:

- Ai deve ser ele. Vá abrir a porta querido.

Fui abrir a porta e para minha surpresa do outro lado estava um garotinho de cabelos cacheados loiros, vestindo uma roupinha branca, parecia um marinheiro, confesso que axei estranho uma criança sozinha naquela hora mas, fiquei calado. Gabriel entrou e deu um abraço apertado em minha tia, ela me disse:

-Querido, está na hora de dormir. - nesse momento eu a interrompi.

-Tia, a senhora e o pequeno vão dormir no meu quarto, eu posso dormir aqui mesmo, na sala, aliás, dormir não passar a noite, últimamente, tenho tido uma insônia miserável, rolo de um lado para o outro na cama e não durmo, me da calor, fico suado é horrivel.- fiz uma careta para ela.

O menino olhou para mim, só entao reparei que ele tinha os olhos azuis, ele disse:

-Você já pensou em dormir de rede? - disse com aquela vozinha de criança.

Começei a rir pois, eu sabia que naquela noite eu dormiria na rede, levei-os para meu quarto, ajeitei-lhe os lençois, armei uma rede para minha tia, sabia que ela amava uma boa redinha para se deitar. Quando ia saindo do quarto eu disse:

-Boa noite, titia a sua bença.

- Boa noite, querido, que deus te abençoe.

Sai do quarto e armei outra rede para mim na sala, ajeitei o despertador para não atrasar a saida da viagem de minha tia.

Fiquei acordade até a metade do Programa do Jô mas, de repente me bateu um sono, e dormir até o outro dia.

Domingão, acordei assustado, as oito da manhã, olhei no despertador e vi que havia sido desprogramado, afinal coloquei para despertar as seis horas e ja eram oito, minha tia deve ter acordado cedo, saiu e nem me deu um até logo, teve pena de me acordar, fui até o quarto e estava tudo arrumado,o lençol exatamente onde eu deixara a noite, a rede ainda armada, bem típico de minha tia, fui na cozinha e vi que ela não tinha feito café. "Não tomou nem café, ave maria, comer essas comidas de rodoviária é horrível." Preparei a cafeteira, e fui tomar banho, tirei a barba, quando ia sentar para tomar o café o telefone chamou, era meu tio Zeca:

- Oi tio, tudo bom com o senhor?

- Rapaz, tudo bom não, num te digo uma coisa. - disse ele com um pesar na voz.

- O que foi rapá, já tá me assustando. - respondi

- É que é difícil de contar mas, já que eu tenho uma pessíma notícia para lhe dar, se você estiver em pé, se sente.- tipico do meu tio não saber falar direto, sempre fica enrolando mas confesso que fiquei meio zonzo nesse momento.

- O que foi rapaz, diga logo.

-É que ontem a noite, a Matilda sofreu um acidente de carro, por volta das oito da noite, e morreu por volta das dez horas.

Nessa hora senti o chão me faltar, o mundo girar e a vista escurecer.

João Murillo
Enviado por João Murillo em 02/08/2010
Código do texto: T2414882
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