O Mago do Sertão e o Lobisomem

A lua cheia ia surgindo bela por detrás de uma nuvem, o que fazia com que toda a estrada de terra batida se revelasse mais uma vez, nada que viesse por ali me pegaria de surpresa, meu facão, velho amigo de guerra está amolado, fora banhado em agua benta, a pistola e a escopeta cal. 12mm com as balas bentas (fui a três missas com elas nos bolsos), e o punhal de prata, dado a mim pelo meu velho tio João, que ja enfrentara monstros como esse, que logo virá, estão todos aqui, preparados para o combate, não sei bem ao certo o que irá aparecer no meio daquele caminho, mas sei que irá me atacar e ira tentar comer minha carne e beber meu sangue.

Meu coração bate compassado, quase que normal mas, um frio esquisito percorre minha espinha, será medo? Não sei bem ao certo mas, aquele circulo mágico, lançado com a ajuda do meu cajado, está ao meu redor deve me proteger contra o mal que irei enfrentar. Na minha cabeça não sabia se deveria combater o mal com ajuda pagã ou de maneira cristã, resolvi misturar tudo e ver no que daria.

Acendo mais um cigarro, um gole de cachaça desce queimando minha garganta, sinto-me mais calmo agora mas, um uivo distante me faz tremer mais uma vez, ele está chegando e eu tenho que me preparar, verifico mais uma vez as minhas armas, todas carregadas prontas para abater a besta, o lobisomem que assombra as minhas terras e as terras de meus vizinhos. Antes ele matava apenas animais como galinhas ou filhotinhos de cachorros mas, depois daquela maldita sexta-feira da quaresma do mês passado, não sei o motivo mas, o bicho ficou zangado com alguma coisa e passou a atacar pessoas, toda semana de quinta para sexta feira e até tentou invadir algumas casas onde havia crianças recém nacidas.

Minha casa foi violada dessa maneira, e eu desafiei o lobisomem, há uma semana, lá pelas onze e meia da noite, eu estava fumando um cigarro antes de ir dormir, minha mulher, minha mãe e meu filho recém nascido estavam no quarto já se preparando para dormir, quando ouvi um baque surdo na porta dos fundos, pulei da velha cadeira de balanço no alpendre e corri para os fundos de minha casa, levava a velha espingarda cartucheira de meu pai, lá a porta estava quase arrombada mas, não havia sinal de coisa alguma, de repente meus cachorros, começaram a latir e a avançar em alguma coisa na frente da casa, enquanto corria para a frente da casa ouvi uma estaladeira de ossos, chegando lá, meus cachorros haviam sido devorados vivos. Entrando em casa, corri para o quarto onde minha mãe e minha esposa estavam desacordadas, todas cobertas com uma baba fedorenta a carne podre e uma inhaca miserável de suor e lama estava espalhada no quarto. Corri para ver a criança, felizmente estava deitada em seu berçinho mas, uma sombra alta estava ao lado do berço, olhando fixo para ele, não pensei duas vezes, tomei a posição de atirar mas, o pensamento de acertar meu filho me fez recuar, então reuni todas as minhas forças e dei um grito, a sombra pulou por sobre a parede da casa,corri para ver o menino estava quase sufocando naquela baba nojenta, me voltei para a sombra e gritei:

- Criatura amaldiçoada, eu vou matar você, daqui uma semana vou esperar na encruzilhada, e você irá encontrar seu destino, minha vigança será maior que sua sede de sangue. Agora saia daqui seu maldito.

A sombra caiu e eu pude ver apenas suas costa peludas, deu um grito e saiu correndo em direção a janela, fugiu para dentro da escuridão da noite.

E aqui estou eu preparado para matar o desgraçado, a lua cheia surge mais uma vez, agora o uivo esta a uns 500 metros de distância de mim, jogo o cigarro fora e seguro firme a cal. 12 apoiada no ombro, penso que eu, um homem do século XXI, iria enfrentar um mal mais antigo que o próprio Cristo, de repente, ele aparece, há uns 5 m de mim, fico firme mas, é impossivel não tremer, quando a besta me viu ficou abaixado imóvel, podia vê-lo apenas como um cachorrão enorme, todo preto mas, com os olhos vermelhos como duas brasas quentes no fogo, quando a luz da lua finalmete o revelou, ele se pôs de pé nas patas traseiras, pude ver que era um ser horrendo, seu peitoral todo cabeludo, as pernas eram fortes e agéis, mas o seu rosto era a face de um velho demônio esquecido pelo tempo, os olhos em brasa, o focinho me fazia lembra um velho cachorro, ao longe podia ver de relançe os seus dentes, uma imagem horrivel.

O bichão soltou um uivo, que me arrupiou dos pés a cabeça, quando eu menos esperava, ele saltou sobre mim, dei-lhe um tiro com a cal.12 mas, errei pois suas longas mãos conseguiram rebater o cano da arma, e o tiro foi mais longe do que eu imaginava, felizmente, cai no baque que ele me deu, o maldito circulo mágico não serviu para nada, levantei atordoado e vi que ele estava bem na minha frente com os olhos em mim, puxei o facão e enrolei a mão com um peaço de pano que trazia no bolso, quando ele partiu para cima de mim, corri em sua direção, quando ele saltou por cima de mim, eu me joguei de costas no chão, ele iria passar por cima de mim, saquei a pistola e dei-lhe 3 tiros no seu ventre, ele caiu se contorcendo de dor, joguei o facão de lado e puxei a adaga de prata do meu tio, e pulei em cima dele cravando-a bem no coração. O bichão soltou um urro de dor, e começou a se debater, notei que a transformação estava retrocedendo e uma figura humana iria aparecer ali, finalmente, iria saber quem era o lobisomem. Foi para o meu terror que eu vi ossos estalando e pernas se contorcendo, pude ver cabelos grisalhos se formando e para minha tristeza que eu descobri que o lobisomem era na verdade meu velho tio, que antes de morrer ainda me disse:

-Obrigado,meu filho você me libertou da maldição, dessa sina maldita mas, agora é com você, pois mesmo o homem que é puro no coração que antes de dormir faz sua oração, pode se tornar um animal. Se o lobo de dentro o chamar e a lua brilhar em seu quintal. - e morreu.

-Agora é comigo? Lobo de dentro chamar? -eu pensei em voz alta.

Foi para minha surpresa que percebi que no meu ombro havia uma marca de sangue saindo por baixo da camisa, eu fora mordido por um lobisomem.

João Murillo
Enviado por João Murillo em 01/08/2010
Reeditado em 29/11/2010
Código do texto: T2412201
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