Quer Brincar Conosco?

"O Senhor da Guerra não gosta de crianças..."

Renato Russo

Sentia frio, um frio intenso que não era apenas o reflexo dos 12 graus marcados pelos termômetros da cidade, mas um frio que vinha de dentro dela, das pessoas ao seu redor, da estória daquela vila, tudo parecia ser frio e distante.

Até as crianças que sempre são barulhentas e irrequietas naquela vila tinham os olhos baços, perdidos, sem esperança. Esse era um dos motivos dela estar ali o governo estava preocupado com a repercussão de estranhos acontecimentos que envolviam o desaparecimento de crianças naquela região, principalmente naquela vila.Fora mandada para levantar dados sobre o ambiente, estado psicológico e situação em geral de vida daquelas crianças, pediatra experiente e formada também em psiquiatria e parapsicologia Nel tinha todas as qualificações que seriam necessárias para desvendar aquele mistério.

Mas mesmo com todas as suas qualificações ela encontrava dificuldade em encaixar as peças do quebra cabeça e desvendar o mistério, desde a sua chegada entrevistava os mais diversos, tipos de moradores, solicitou a outros profissionais competentes que fizessem exames em amostras de água da região receando algum tipo de contaminação, com os resultados em mãos teve de descartar essa possibilidade.

Na verdade tudo naquele lugar era “normal” a localização era um pouco afastada das demais vilas, o que poderia contribuir para o estado de animo de seus habitantes, a terra era fértil e escura o ambiente lembrava as florestas irlandesas escuras e habitadas por fadas boas e más.

Durante as entrevistas com as pessoas da vila, Nel não conseguia entender como aquelas pessoas conseguiam lidar, pelo menos aparentemente, tão bem com os desaparecimentos freqüentes que ali aconteciam, todos pareciam extremamente resignados, as famílias os amigos dos desaparecidos todos sem exceção pareciam aceitar com resignação tal situação que para outras pessoas seria motivo de dor e desespero.

Cansada dessa apatia geral da população e sem conseguir vislumbrar uma luz no fim do túnel que elucidasse os desaparecimentos, Nel resolveu conhecer a floresta que circunda aquela estranha vila, ela espera conseguir mais informações sobre os desaparecimentos das crianças que invariavelmente aconteciam ali naquela floresta densa, com suas árvores que escondem o sol durante boa parte do dia, com suas alamedas cobertas de folhas secas nessa época do ano. Ao entrar na parte mais escura e fria da floresta, sons de crianças chegam ao ouvido de Nel, são risadas em tom baixo, murmúrios e pequenos gritos de alegria que aumentam de intensidade a cada passo de Nel rumo ao interior da floresta.

Aproximando-se de uma clareira cercada de pequenos arbustos enfeitados com flores e do qual pendem cachos de pequenos frutos vermelhos, os sons se tornam cada vez mais próximos Nel podia perceber também sombras brincando entre as arvores, sombras de tamanhos variados, pequenas como são sombras de crianças e altas e singelas também como sombras de mulheres jovens e altas.

Uma doce musica enche os ouvidos de Nel, que perde a noção de quanto tempo faz que está ali, entre aquelas árvores, o tempo não tem lugar ali naquela clareira encantada agora ela consegue ver plenamente são crianças sim, crianças bem diferentes daquelas da vila, crianças risonhas e saudáveis que brincam sem parar juntamente com jovens moças enfeitadas com flores nos cabelos e nas roupas, brancas como a lua, cheias de serenidade e graça bailam entre as alegres crianças na clareira, sem perceber Nel se vê envolvida naquela brincadeira que não tem fim, as moças lhe oferecem suas mão juntamente com as crianças e todos se juntam repetindo aquele convite que Nel não consegue recusar: Quer brincar conosco?

Selva
Enviado por Selva em 15/09/2006
Reeditado em 13/04/2009
Código do texto: T241060
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