O paladar do diabo
 
Era o quarto dia e em todos os quatro dias ele planejou, viu possibilidades, agora era uma questão de tempo até chegar o momento da execução do que ele mesmo
decidira, foi o advogado, o juiz e seria o executor da medida educadora. 
Chamou o mais novo dos cães e lhe deu algo tirado da geladeira, depois mais um e outro pedaço. Devolveu-o a cela, nos olhos do filhote a satisfação por ter digerido
tão macia carne, era assim que tratava seus anjinhos, somente com carne.
A expressão “medida educadora” ele mesmo inventou, do alto de seu comando no mundo do crime necessitava a cada dia provar aos olhos alheios quem é que mandava
de quem deveriam ter medo, por isso decidia quem deveria viver e morrer sob a sua famigerada jurisdição.
Enfileirados em curva, como se fosse uma aldeia indígena, 22 canis, com a nata assassina do mundo dos cães, e estranhamente todos obedeciam ao comando dele, até para cessarem uma contenda por um único osso, ouviam o seu comando.
A noite trouxe as ultimas horas da sua vítima, tomou pelo menos 8 ansiolíticos, adormeceu e com os primeiros raios de sol da manhã acordou, foi até a garagem, pôs a sua veraneio para funcionar, saiu do carro e deu mais uma ou duas espreguiçadas, passando as costas da mão na boca, era um costume seu.
Encaixou com mais precisão a pistola na cinta, ajeitou a metralhadora no banco do carro, e começou a subida.
Em curva, saindo do açougue em que morava, eram 3 km até o alto do morro, bom asfalto, sem movimento, pois mandara fazer este asfalto respaldado pelas ótimas relações que tinha com as autoridades.
Depois de uns 3 minutos chegou ao alto do morro, olhou mais uma vez lá pra baixo os seus anjinhos, acendeu um cigarro e agora começava 5 km de descida até o local onde deveria “pegar” o alimento dos seus cães.
Quantas vezes a sola de seu coturno derrubou portas para em meio a gritos de terror subtrair de seus lares, miseráveis viciados, ou alguém que não lhe devolveu a tempo o dinheiro emprestado para comprar comida.
O sadismo não tinha limites, para ele o cotidiano de quem deveria mandar e para as vítimas que ouviam histórias de horror a sentença inevitável.
O modus operandi dele consistia em pegar as vitimas, três dias antes da execução e prende-las onde ia buscar para a derradeira viagem, sabia assim não despertar suspeitas nem de parentes e nem de honrados policiais.
Nos seus olhos a satisfação era evidente e como não queria lamentos, passou fita adesiva na boca do infeliz e jogou no porta malas.
Quando estavam para começar descer os 3 km para os canis ele parou a veraneio.
Desceu, foi ate atrás deu duas ou três batidas no capo do porta malas e disse:
____Já chega a tua hora marginal...
Entrou no carro, logo depois na primeira acelerada viu que tinha algo errado...
Pisou uma vez no freio, duas, três vezes... Nada, e o carro continuou a descer, agora os barrancos passavam rapidamente e como flashes ele viu toda a sua vida surgir-lhe a frente, enquanto o carro adquiria mais velocidade...
Há 100 metros dos canis numa desesperada tentativa, num largo da estrada, golpeou para a direita e depois para a esquerda o volante, neste momento, abriu o capo traseiro e a sua vítima foi jogada ao lado da estrada sob a grama macia... Capotou uma, duas, três vezes...
Mais 10 metros e o impacto do carro no grande portão dos canis pôs o corpo ensangüentado e desfalecido dele em meio a todos os seus anjinhos...

 Malgaxe
Malgaxe
Enviado por Malgaxe em 15/07/2010
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