VALE DAS SOMBRAS
No vale das sombras ronda a tristeza, naquele grande vale dentre tantas almas, uma vaga penosamente. Há muito se perdera e vive a vagar naquele imenso vazio sombrio e frio. Na passagem da vida, soprava o vento revolto, levava histórias, consumida pelas lamentações e lágrimas, virando a moenda, acariciando a relva, derrubando casas, propagando o mundo de cinzas e lamúrias.
Nem sempre é tudo como queremos, por vezes entramos num emaranhado de coisas que, por mais que tentamos não conseguimos sair. Denise hoje talvez pensasse diferente, Talvez não com o mesmo sentimento que uma pessoa normal teria, mas sim com a curiosidade de quem se pergunta “por quê”? Há algo completamente desconhecido que por vezes tentamos desvendar.
Num momento de fraqueza, covardia talvez, querendo estar livre das amarras dos acontecimentos terrenos, acaba escolhendo o pior caminho. Denise sobe em uma cadeira, enlaça uma corda na viga de madeira na varanda da casa passa pelo pescoço e salta. Sua vida se esvai lentamente, nem imagina o sofrimento da alma. Segue flutuando pelos ares, sem a energia das potências que vão transpassando pelo corpo e o resto de razão que pelejava para ficar no controle, finalmente se desvanece.
Chega a princípio num bosque sem o apoio dos membros se arrastando enfraquecida, em volta de si sombras negras, vultos escuros sugavam o resto de suas energias. Acabou entrando num mundo perigoso, num vale sombrio e lúgubre.
Não tinha ainda consciência de que havia desencarnado. Pensava sair correndo daquele lugar, clamava por sua mãe: ___mãe! Porque não me ouve? Tire-me daqui! Quando uma voz responde: ___ você está morta! Ninguém vai te ouvir, lembre-se você tirou sua própria vida, está agora no vale das sombras. Denise pensou na possibilidade por alguns segundos, sair correndo daquele local, quando novamente a voz e o vulto em meio a um feixe de luz aparece, e do nada desaparece. Enfim adormeceu em sono profundo por vários dias seguidos.
Ao acordar levanta-se e começa então caminhar, sem rumo sem saber para onde, o vale era tempestuoso, sombrio e tenebroso. Segue por um desvio gélido barrento passo rápido muito medo, sua percepção observa as sombras, desconfia que algum deles possa a estar seguindo, tenta acelerar mais ainda os passos, porém, sem forças não consegue, observa os mendigos, prostitutas, viciados, que se rastejam tentando se esconder tamanho o pavor do lugar. Denise sussurra: __ não quero ficar aqui, assim prossegue sua busca tentando achar uma saída, enquanto uma luz amarelada ilumina as ruas de forma ilusória, fantasmagórica. Faz agora companhia aos habitantes do vale. O cabelo enfeita sua cama de folhas podres fétidas, acabou se enrolando em sua própria sujeira e repousou.
Talvez, sua desventura termine quando encontrar sua luz em meio às trevas. Quem sabe, suas iniqüidades terrenas possam ser absolvidas da culpa. Sim da culpa de por fim a própria vida. Quem sabe em algum momento noite se faz dia, o sol renasça no firmamento, o vale deixa de ser trevas dando lugar a um lindíssimo céu azul cujos raios solares venham iluminar o seu coração, deixando de assolar essa triste alma que inconsolavelmente vaga no grande vale das sombras. Entre flores pútridas envelhecidas, desprovidas de brilho e aroma, flores que se igualam a ela. Tão sem vida e esperança, entregue a própria sorte.
Quando me deito para repousar, procuro não me atormentar com essas questões, sei que existem enigmas que não me serão desvendados, pois jamais saberei entender. Não está ao meu alcance esse entendimento, sei também que sou mais um componente deste enigma. Sendo assim serenamente fecho meus olhos e aguardo novamente a noite tranqüila e serena chegar para quem sabe novamente viajar.
ROSA RIGHETTO
11/07/10