CUMPRIMENTO DE DESPEDIDA
CUMPRIMENTO DE DESPEDIDA
Bill andava distraidamente pelo longo corredor humano formado por uma multidão de pessoas que se espremiam e se empurravam para conseguir comprar os produtos em promoção. A feira estava lotada. Bill parecia ser o único tranqüilo naquela chusma, estava somente passeando como era de costume todos os domingos pela manhã, usava uma bermuda jeans que passava um pouquinho dos joelhos, um tênis sem meia e uma camisa de gola pólo, esta era vermelha com listras branca horizontais, costumava dizer que era sua roupa preferida, usava um relógio prateado no qual marcava oito e vinte. O ambiente era quente e abafado, a temperatura estava sufocante. Ele resolveu parar em uma pequena barraca, nela possuia um anúncio escrito de caneta azul sobre um papel já um pouco engordurado “Refrescos naturais”, quis experimentar apesar de não acreditar na naturalidade daquele produto, porém eram consuntíveis.
Pediu um suco de laranja, pagou e continuou sua caminhada matinal, o líquido gelado descia refrescando seu corpo quente, era realmente brilhante aquela sensação.
Após caminhar mais alguns metros, Bill chegou em uma divisão de artigos usados, eram na sua grande maioria materiais antigos, alguns de grande valor. Olhou alguns relógios de parede, eram de madeiras resistentes por sinal, não pareciam funcionar tão bem, mas possuíam uma beleza única. Na barraca ao lado, Bill parou subitamente ao observar um artigo muito estranho, era um pequeno punhal, seu cabo possuía o formato de uma mão, na qual parecia fixar fielmente à mão de quem a segurava, parecia o encontro e cumprimento de dois amigos. Bill perguntou ao vendedor, um senhor de idade avançada que trabalhava sem camisa mostrando sua proeminente barriga, na qual apoiava uma grande cruz de prata pendurada em um grosso cordão _ quanto custa este objeto? _ apesar de perigoso, despertou a atenção de Bill _ acreditava não possuir um preço alto. O velho respondeu com uma voz rouca e baixa _ Custa 2 dólares _ Estava incrivelmente barato, era um objeto bonito e mostrava um certo mistério. Bill comprou o punhal e guardou-o em uma capa própria no qual ganhara de brinde.
Bill retirou o punhal ainda embutido em sua capa do bolso, olhou ao redor para ver se não existiria alguma velhinha por perto, esta poderia gritar estéricamente pensando se tratar de um assalto. Parou e observou o material, a mão de metal possuía grandes unhas, pareciam garras e eram rugosas e ásperas. Alguns que transitavam olharam para o objeto estranho nas mãos de Bill, e mostraram-se espantados. Bill parecia estar enfeitiçado com aquele objeto, seus olhos estavam presos e fixados sobre o metal do punhal misterioso. Acordou do feitiço e girou o rosto para ambos os lados. Viu vários rostos estranho o observando, formava um circulo em sua volta.
_O que foi! _gritou Bill um tanto nervoso, nem ele mesmo reconhecera aquele lado selvagem, seu rosto estava vermelho e gotas de suor percorria seu rosto, sua respiração estava ofegante, não sabia o motivo, mas estava em completo pânico.
Todos saíram em retirada espantados, alguns falavam _ Isso é coisas do demônio! _ o lugar voltou ao seu movimento normal.
Bill continuou a caminhar, agora com passos mais fortes e longos. Passou entre duas barracas que vendiam sapatos de couro falsificado na tentativa de se ver livre daquele longo corredor humano. Parou e respirou fundo, olhou novamente para o punhal, retirou a capa, passou a lâmina lentamente sobre o dedo indicador direito, e observou um pequeno corte se formar, liberando um traço de sangue. Limpou o dedo sobre a bermuda jeans. Deu mais um passo e repentinamente se viu a desabar sobre o chão, uma pedra foi a grande causadora da queda, Bill tropeçou e foi ao chão como um boxeador nocauteado no primeiro round. Seu corpo estava estendido, esticado sobre a calçada, estava de bruços, uma poça de sangue se formava abaixo de sua barriga, o ambiente parecia estar vazio, todos estavam distraídos com um palhaço que alegrava as crianças da feira. Um velho senhor que passava pelo local estranhou aquele corpo caido, aproximou-se e virou o corpo, o rosto de Bill agora estava a vista de todos, seus olhos olhavam para o céu. Sua camisa polo não possuía mais linhas brancas horizontais. Fixado a seu abdome, estava a lâmina afiada do punhal. A mão direita de Bill segurava-o firmemente. Agora pareciam dois amigos se despedindo de uma longa conversa. O velho segurou uma cruz de prata que balançava sobre sua barriga e beijo-a, se levantou lentamente e se retirou, nem sequer se despediu de Bill.