Alcácer maldito

Implacável.

Envolto em eterno nevoeiro, encima uma considerável área na longa extensão de colinas...

Que fique certo, homens dos mais destemidos entregaram suas almas ao preço do atrevimento: pensaram poder adentrar no doce lar da perversidade, portando o halo da glória sobre as cabeças ao darem as costas aos umbrais de entrada!

Ora, vejam! Quando seus defuntos corpos foram encontrados em meio a lama, retorcidos como se um titereiro nefasto com os nervos dos mortos, ao invés de cordéis, trabalhasse... sequer lhes pertenciam as próprias cabeças! Corpos decaptados e ensandecidos pela dor inenarrável: a grande roseira do maldito castelo.

Dia após dia, os olhares suplicantes dos citadinos ajoelhados [estatelados, os mais temerosos e amargurados] ao chão, buscavam encontrar amparo divino. Preces inúmeras lançadas ao Céu, em trechos espirituosos de fé e esperança... Pois que se houvesse algum Senhor tomado de bondade, que por terra trouxesse à residência amaldiçoada! Que se derruísse, voltando às cinzas de onde adveio!

Inelutável.

Nos domínios do mau, não há bondade que possa atenuar seu poder.

De todos os cantos do casarão, expandiam-se os finíssimos fios da persuasão... estrangulavam o pescoço dos infelizes da região, que, ao exato momento, vomitavam o remanescente de suas poucas aspirações.

Aos poucos, os fios retrocediam de volta à casa... E tão logo amontoavam-se no sopé das colinas, nada mais que corpos desfalecidos, com olhares vagos, expressões apáticas e mentalidade entorpecida.

Poderia-se dizer que eram mortos que haviam-se esquecido do último suspiro.

Caminhavam com extremo langor...

Entregariam suas almas sem objeção.

Adentro, bailavam em ritmo de escárnio diversas criaturas sombrias... banqueteavam-se com o sofrimento humano. Extorquiam-lhes até a última gota do tênue júbilo.

De fora, enxarcavam a terra as lágrimas infindas dos que, por todos os futuros cadáveres, guardavam amor...

...

Tristezas e lamentos de nada adiantariam nos planos da expiação.

Sitiados por muralhas agourentas, aguardam os seres humanos o momento do chamado da Morte:

Bem-vindos à Casa Infernal.

Raphael de Oliveira
Enviado por Raphael de Oliveira em 11/06/2010
Reeditado em 27/01/2011
Código do texto: T2314789