As gárgulas de Londres
- Odeio gárgulas...
Meg sussurrou. Ela era jovem demais pra entender que aquelas coisas não eram reais. Os olhos dela passeavam sonolentos pelas esculturas das tres enormes gárgulas no alto da igreja. Os rostos de pedra pareciam avaliar os movimentos dela. Os dentes e garras reluziam e convidavam quem ousasse tocá-los. Deviam ser ótimas guardiãs, e assassinas. Pareciam incrivelmente medonhas.
Lembravam a ela menssageiros da morte que vinham pra espalhar uma terrível praga.
Aqueles animais asquerosos, aqueles demonios, não eram capazes de cuidar de ninguém.
"Como alguém confiaria em uma gárgula?", ela pensou, "Quer dizer, parecem ratos de esgoto!".
Ela olhava com nojo, mas um quase facínio os três rostos imóveis esculpidos."Por quê gárgulas?", ela teimava com a idéia de que gárgulas eram malvadas, "Parecem querer matar alguém. Por que gárgulas deixariam de matar?"
Ela pensou que se fosse uma gárgula, não teria piedade.
Mas ela não gostaria de se amontoar no topo de um prédio, com outras gárgulas, só esperando e esperando, pacientemente, a hora de matar.
As carrancas prendiam a atenção de Meg infinitamente. Ela queria correr, mas sentia como se seus pés fossem parte do chão. Meg sentiu que não conseguiria correr, fugir dali, se algo não a tirasse daquele transe.
Aqueles olhos de pedra nos seus olhos azuis.
Olhos de gárgula.
Olhos de gárgula empoleirada como um corvo, esperando e esperando.
Um corvo-gárgula esperando pacientemente a hora de matar.
Uma mão pousou no seu ombro, e ela gritou. A voz rouca a acalmou:
- Calma, Meg.
- Johnny, seu idiota! Que susto!
- Olha, Megan, são só gárgulas - O irmão passou os dedos nos cabelos lisos da irmã menor - Elas não vão te pegar.
Meg havia completado 12 anos no verão e era facilmente impresionável, Johnny tinha 16 e adorava a irmã mais do que tudo. Meg quase sussurrou, sem tirar os olhos das gárgulas:
- Eu sei que elas...
- Meg?
- Elas são medonhas, Johnny!
- Eu sei. Vem, "Vambora" logo.
- Vai indo.
- Vem, a mãe vai fica furiosa. Essa igreja tá abandonada a anos, mesmo.
- Johnny, vai.
Jon virou de costas, mas não queria sair. Nào queria deixar a irmã sozinha.
Eles estavam de férias em Londres. Meg, Jon, Mamãe e tia Lucy.
O papai era um babaca.
Todas sabemos que o papai era um babaca.
"é por isso que não falamos no papai", mamãe sempre diz, "Por que ele é um babaca."
Meg esperava como as gárgulas.
Deu pequenos passos subindo a escadaria, cada passo provocando um ruído na madeira, sem saber o que fazia.
Meg parou. Foram 2 segundos parada, quase voltando.
Daí, as gárgulas se moveram.
E Meg voltou a subir os degrais, devagar.
Os "Ratos de esgoto" ainda a olhavam e Johnny estava logo atrás, esperando como ela, esperando como as gárgulas.
A primeira gárgula parecia um touro muito, muito feio, com um chifre só, olhos redondos, garras pequenas e dentes de rato debaixo de um enorme nariz gordo.
A segunda gárgula era magra e torta, com enormes garras prontas para cortar e um rosto achatado. Os dentes eram afiados como o canivete do Tio Phill.
A terceira gárgula era a mais feia de todas. Se o medo tivesse forma, seria aquele rosto de rato deformado, esmagado com dentes trincados e pontudos e um enorme par de olhos.
Os olhos mais medonhos que Jon já vira. Meg estava dentro da igreja, com as gárgulas.
A terceira gárgula olhou para Jon, moveu os olhos e o corpo, a pedra se moveu rangendo.
E sem tirar os olhos das gárgulas, Johnny começou a subir os degrais da igreja.