Casarão (miniconto)
O casarão parece chorar os infortúnios dos seus donos por suas frestas. Carcomido pela umidade se desfaz em fungos esverdeados. Nem sempre foi assim! Ali houve muita movimentação de crianças pelo jardim. Brincadeiras, festas e risos varrem seus salões. Os espelhos refletem as imagens passantes. Cada uma carrega a força da juventude. O vento entra com o seu cheiro de mistério. Vozes abafadas pelo temor. A cadeira de balanço geme em movimentos histéricos. A dor emudece o relógio. Castiçais e candelabros acessos reivindicam a atenção. O tapete persa carrega “il delirio tremante” do moribundo. As vísceras estripadas ainda guardam o calor do seu dono. Um estampido rói a carne estraçalha os ossos. No espelho da entrada a luz engole a escuridão. No casarão majestoso a morte germinou.