A escuridão
Em vão agucei o olhar na tentativa de atravessar a densa escuridão que me cercava. Apenas uma ilha de luz, estreita e circular, me protegia. Uma voz me chamou:
- Não me escutas? Vem por aqui antes que seja tarde!
- Não consigo! É muito escuro o caminho e apenas esta pequena luz me protege!
- Guia-te pela minha voz! É tudo que te resta!
Segurando o pranto, respondi:
- É muito difícil... A escuridão me confunde! Acaso não podeis falar mais alto?
A voz gargalhou:
- Infelizmente não será possível! Só eu te resto...
Meu peito se contraiu na agonia do pânico:
- Mas... se eu sair da luz esta treva me afogará e eu jamais encontrarei a saída!
- Silêncio! – disse a voz – Não escutas um som que se aproxima?
Por um instante eu nada escutei, até que um som indistinto fez-se ouvir:
- Sim! Sim! Um tambor se aproxima!
E realmente, esse terrível presságio estava vindo em minha direção; chegando-se em movimentos que descreviam uma espiral ao meu redor. Meus ouvidos, contudo, não distinguiam a sua origem, de modo que esse feroz predador poderia estar onde lhe aprouvesse.
- Não reconheces o que bate o tambor? – perguntou-me a voz.
Arregalei meus olhos, indefeso, subjugado pelo medo e pelo esmagamento de espírito:
-... A marcha fúnebre...
Ajoelhado, pranteei o meu pavor... e a escuridão me abraçou para sempre.