Apenas um office boy

Já havia se passado 2 horas desde que a vi. Não queria acreditar ainda. A dor da alma me chegava aos ossos, as mãos estavam amortecidas, trêmulas. Os lábios secos me incomodavam, de uma maneira estranha. É engraçado o modo como nosso pensamento voa quando estamos com medo e perdidos. Ela fora minha obsessão até então. Eu era apenas um auxiliar de escritório, um office boy quando ela surgiu em minha vida. Linda, esguia, loira. Olhos verdes que luziam a cada vez que ela sorria. Eu, um garoto de 19 anos, ingênuo e encantado pela vida. Ela passava pela minha mesa e me dava um bom dia educado. Dirigia-se até sua sala e sentava-se em sua imponente cadeira, da não menos imponente mesa. A secretária sempre ao seu dispor, dando a pauta do dia. Eu deslumbrado olhava-a pela parede de vidro que nos separava. Quando ia até sua sala, no final do expediente, ela já não se encontrava mais lá. Eu recolhia o lixo, e aproveitava para ver seu conteúdo. Papéis amassados, planilhas rasgadas, um lenço sujo de batom (que eu guardava às vezes), copinhos de café.... Seu doce perfume ainda pairava no ar. Eu me sentava em sua cadeira e sonhava que estava com ela, beijando-a, acariciando seu corpo....

Até que houve uma noite.... fiquei sonhando acordado por tempo demais e ela voltou. Tinha esquecido algo, e me viu ali, sentado, feito um panaca. Olhou para mim como quem olha para uma mercadoria com defeito e barata. - O que faz aí, garoto ? - Levantei-me rapidamente e pedi desculpas. Disse que estava cansado e resolvi me sentar por um minuto. Desculpa esfarrapadíssima. Ela fingiu que acreditou e me encarou:

- Você tem compromisso agora ?

- Eu ??? - respondi estupidamente.

- Claro que é você, ou tem mais alguém nesta sala ? - disse ela, rindo com desdém.

- Não senhora.... respondi, suando frio.

- Então me acompanhe .... como é seu nome mesmo ?

- Plínio, senhora - respondi, coração aos pulos.

- Vamos - e me levou escritório afora, até a garagem. Pegamos seu carro e saímos. Não fazia idéia de seus planos, mas só de estar perto dela, iria até o inferno.

- Chegamos - disse ela, já saindo do carro.

Paramos em frente a uma casa bonita, de muro alto. Entramos. Eu não conseguia raciocinar. Ela me deixava mais tonto do que já era.

Ao abrir a porta ela me deu licença para que entrasse antes. Mal entrei e ela me abraçou. Tirou minha camiseta e me beijou avidamente. Correspondí prontamente, como não ? Eu era loucamente apaixonado pela chefona do escritório. Passamos 3 horas daquela inesquecível noite nos amando sofregamente. Tudo o que pedi me foi dado e dei em dobro, com todo meu ser. Adormeci e acordei com ela me sacolejando.

- Vá embora !! Saia já ! - gritava a mulher que minutos atrás fora docemente cavalgada por mim.

- Como assim ? O que foi que eu fiz ? - respondi, coração aos pulos, assustado, com medo de lhe ter feito algo que a contrariasse.

- Apenas saia ! Não banque o idiota e nem fale sobre o que aconteceu aqui esta noite prá ninguém, nem prá você mesmo diante do espelho, está me entendendo ?

- Mas eu .....

- Suma !! Se você contar a alguém sobre esta noite eu nego e te ponho no olho da rua.

- Quer dizer então que esta noite não significa nada prá você ?

- Ah, minha criança ! Bonitinhos e bobinhos assim como você, eu já peguei pelo menos uns 8 se não me falha a memória, e com você 9... vocês me fazem bem para o ego, é só isso, entende ?

Dizendo isso, pegou minhas roupas e jogou na sala, já me empurrando para fora.

Não consegui falar nada, um pobre cretino que sou.

Me vesti rapidamente enquanto ela se preparava para um banho, calmamente, como seu já lá não estivesse.

Tentei ainda balbuciar algo,nem eu sabia o que. Ela era importante demais prá mim, eu não poderia mais viver sem ela, não depois dessa noite, mas fui ignorado por completo.

- Encoste a porta ao sair - disse de dentro do banheiro.

Saí, batendo a porta. Sentei no degrau da frente da casa, me sentindo mal. Tinha vontade de vomitar. Estava puto comigo mesmo, por ser tão idiota. Ela havia mechido com meus brio. Achei que era a hora de tomar uma atitude de homem de verdade. Voltei.

Pude ouvir sua voz macia e sensual ao telefone.

- Mais um ! ...ahahahaha..... sim, é um carinha lá do escritório. Que nada, foi fácil demais. Ele está caidinho por mim, minha amiga. Não, essa coisa de sexo virtual não é comigo. Prá mim tem de ser ao vivo. Amanhã ? Ah, sei lá. Daqui há algumas semanas mando ele embora do escritório. Alego incompetência.... hahahaha..... Coitadinho, até que ele era bem gostoso, sabe. Uma pena....

Então eu era o carinha idiotinha, cretininho do escritório que estava caidinho por ela. Sim, eu era.

Não consegui mais pensar nem responder por mim. Como um seria killer esperei pacientemente ela terminar a ligação exibicionista. Nem sei se ela teve tempo de raciocinar sobre o que ocorreu depois. Peguei o fio do telefone, o mesmo telefone onde ela falou com a amiga sobre o panaca apaixonado do escritório, e enrolei em seu pescoço... lindo e suave, perfumado pescoço. Apertei com toda a força do meu ser. Não disse nada, e nem ela disse, só se debateu um bocado. Mas ela merecia, a vadia.

Quando ela escorregou pela beirada da cama, eu me sentei calmamente ao seu lado. Acariciei seus lindos e recém lavados cabelos por um bom tempo. Isso foi, creio eu, há duas horas. O dia já está amanhecendo. Vou tomar um banho e ir para o escritório. Não quero chegar atrasado.