A terceira estação
A tarde de outono banhava de dourado o lago em frente a igreja, em um tom surreal estavam refletidos os galhos dos salgueiros que beiravam a bela imagem.
Mas uma sombra tremulava na água também e por fim silenciando os movimentos, parou.
Via-se um jovem senhor em seus 42 anos, rosto pálido, bigodes abundantes, cabelos negros e na boca, um cigarro.
Ao lado esquerdo uma bolsa a tiracolo, em que caberiam tranquilamente embalagens de 5 Quilos ou mais.
Uma, duas, três tragadas...Jogou o resto do cigarro no chão, ajeitou a bolsa e seguiu para dentro da igreja.
Parou na entrada diante da água benta, mas não a usou, sentou na primeira fileira.
Olhou para todos os cantos da igreja, as pilastras onde estavam as inscrições das estações da cruz.
Mais uma vez olhou para a entrada da igreja e viu que o afluxo de pessoas era intenso, olhou no relógio, faltavam 15 minutos para o início da missa e logo depois...Bem, pensou, não vai demorar...
Demorou-se sentado até a hora da via sacra, e então levantou-se para acompanhar mais de perto, abriu sua bolsa retirou uma flor, foi até o altar, depositou-a e voltou para o imenso aglomerado de pessoas.
Lentamente, dirigiu-se antecipadamente para a terceira estação, e atrás da pilastra baixou-se de joelhos, deixando a bolsa escorregar até o piso, bem junto da pilastra.
Minutos depois, estava no lado oposto do lago olhando de frente para a igreja a uns 300 metros...Sem a bolsa...
O clarão e o barulho ensurdecedor que se seguiram provocaram um leve sorriso no homem...
Uma face iluminada pela explosão de 50 Quilos de TNT, e uma carga inimaginável de ódio...
Edilson Antonio de Souza