O Terno...
João Avelino. Mais conhecido por vovô Lino. Na sua juventude. Comprou uma parelha de terno preto. Calça, palito e gravata. E dizia: “Quando morrer! tenho meu terno.” E os anos foram passando; da mesma forma que ele ia melhorando de vida. Seu João Lino também tomou um zelo exagerado pelo tal terno. Hora ou outra sua mulher o flagrava olhando demoradamente para o conjunto de roupa. “Que isso Lino?” Ela sempre perguntava.
E ele resmungava: “Nada não mulher.” Mas as coisas foram mudando. E João tornou um ritual: antes do café da manhã olhava o terno, voltava para o almoço outra espiadela no terno. À noite sua oração antes de se deitar era de olhos grudados no terno.
Vieram os filhos, os filhos dos filhos. E a rotineira vigia do terno continuava. Trancava a porta do guarda-roupa, a porta de seu quarto, e não entregava a chave nem para a esposa. Certa tarde de domingo após aquela feijoada com a família. Ele foi tirar uma cesta. E todos estranharam a demora dele no quarto.
Pois vovô Lino nunca dormia tanto. Pois além do terno sua maior fascinação era seus netos. E seu filho mais velho foi até seus aposentos. Encontrando a porta entre aberta ouviu vozes vindo de dentro do quarto.
João Lino falava ofegante: “Como venceu?” “Você ta maluco!” “Ah! ah!” ele gargalhava. O filho espantado correu La fora e chamou os outros parentes. Que também como ele ficou na espreita a escutá-lo. “Tudo bem! Parto, mas levo o palito comigo.” “O que?” “Mai eu comprei, paguei, é meu!” (...) Silencio dentro do quarto. (?) Os ouvintes nem respiravam direito e se questionado. O que se passa?
“Ah, ah, ah!” de novo a sinistra gargalhada. “Eu queimo hem!” “Não to nem ai.” (...) Novamente o terrível silencio. De repente o grito: De dor, de pânico! Apavorando todos La de fora. Que não suportando mais aquela tortura. Entram com tudo no quarto. E se amedrontam mais ainda com acena. O terno sentado numa espreguiçadeira e João Lino ajoelhado de frente ele, suando com um olhar de suplica.
Parecendo a implorar algo, para o terno. Quando deu por si olhou ensandecido para a família falando: “Eu vou queimar ele.” Com um vidro um vidro de álcool na mão esquerda segurando. E com a direita vestia o terno. Quando seus filhos o atentaram já havia embevecido todo o corpo dentro do terno ateando fogo.
Morreu João Avelino, mais conhecido por vovô Lino. Queimado por suas próprias mãos. Dentro do terno que ele adorava. Na avenida central um jovem. Passa por um brechó, e se encanta com a vendedora que lhe oferece uma parelha de terno negro. “Pode levar moço.” “Dentro de trinta anos você estará rico.” “ E se não estiver rico!” “Já terá um terno para sua morte.”