Espíritos
Olha, estão todos ali.
Sim, nos olhando.
Essas foram as palavras assustadores que ouvi da mãe de um amigo meu.
Uma doce senhora já com idade pouco avançada.
Olhamos mas não vimos nada, apenas um cachorro enorme feito de gesso que ficava sempre no canto da sala, com muitos móveis antigos.
Ele me olhou e disse:
-Depois te explico.
A senhora percebendo que eu não via nada além do cachorro de gesso e talvez notando minha cara de assustada, veio e sentou-se ao meu lado, segurou minha mão, deixando sentir sua pele macia e disse:
- Entendo que talvez você não veja, mas estão ali, o cachorro, um senhor bem alto e forte, sua esposa magra e elegante, e um jovem que acredito ser o filho deles.
Sempre aparecem, ficam circulando pela casa, mas não consigo ver o rosto deles.
Falo com eles mas nunca me respondem.
Não tenha medo. Não fazem mal algum. Moram aqui conosco.
Me arrepiei ao ouvir essas palavras. Não sabia se acreditava ou não. Ela falava com tanta convicção.
Fiquei mais um tempo lá com meu amigo, conversamos.
Às vezes a mãe dele conversava conosco, outras vezes falava com os espíritos.
Quando estava saindo, meu amigo me acompanhou até a porta e me explicou que sua mãe estava desenvolvendo uma esclerose e que vinha vendo coisas.
Mas que não havia espírito algum e que eu ficasse tranquila e sem medo.
Esse meu amigo sempre foi especial. Muito amigo, muito compreensivo, quase um irmão.
Fui para casa mais calma. Dormi tranquila.
Os dias foram passando, fiz outras visitas à sua casa, me apeguei à sua mãe, conversávamos muito.
Ela contava muitas coisas sobre seu passado.
E segundo ela, os "espíritos" sempre estavam por ali, e que eles também gostavam de minha companhia por ali.
Em uma manhã meu amigo me ligou com a voz embargada, e mesmo antes que ele me falasse algo eu já sabia o que era.
Sua mãe, sua doce mãe havia partido naquela noite.
Sem dor, sem sofrimento. Havia dormido para sempre.
Ele estava muito triste, mas ao mesmo tempo ele trasmitia um sentimento bom, no fundo ele sabia que sua mãe estava bem.
Os dias se passaram, ele aceitou bem a situação, estava feliz,
Sempre saímos e nos divertíamos.
Uma noite, após eu ter ido para casa, ele me ligou, percebi que estava assustado, com medo.
- Eles estão aqui. Estão bem na minha frente. Minha mãe os via de verdade.
Mas agora são 4. Um homem alto e forte, uma mulher magra, um garoto e uma outra senhora.
E essa senhora, preciso te dizer isso, ela usa um echarpe muito parecido com o que minha mãe usava.
Fui outras vezes até sua casa, mas nunca os vi, apesar de meu amigo insisitir que estavam ali e falar com eles.
Eu nunca comentei com ele, mas sabia que um dia eu também os veria. Só que quando isso acontecesse, seriam cinco.
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