BRINCADEIRAS DE CRIANÇAS
Levanta! Dormiu quase a tarde toda! Vamos brincar, ainda é cedo, deu seis e meia agora!
Não posso! – Respondeu o menino encolhido em posição fetal, suspirando, ainda sentido no corpo, a lassidão.
Por que não? – Insistiram os irmãos.
Porque eu moro dentro de um monstro, quando o monstro dorme, eu não posso sair do lugar.
Ha ha ha ha ha. Que monstro? Não tem monstro nenhum! Você está dormindo ainda, sonhando, acorda, vamos brincar!
Estou contando um segredo para vocês e vocês não acreditam? O monstro é invisível, ele é muito grande e poderoso e quando irritado, pode aparecer.
Mas por que você mora dentro desse monstro?
Por que ele me escolheu para morar dentro dele, acho eu – diminuindo a voz. - Ele me protege, mas acho que virei escravo dele. Quando ele sente sono, eu sinto um pouco também, quando ele tem fome eu sinto também. Eu e ele acabamos tendo os mesmos horários para fazer tudo.
Ai, estamos ficando com medo! Você não tem medo? E desde quando você mora dentro dele?
Não, eu não tenho medo dele. Ele é uma espécie de fantasma sem forma definida, que morava no jardim dessa casa. Ele me contou que adiante tinha um cemitério de escravos que vinha quase até a casa. Depois fizeram por cima os jardins, a piscina, o açude, os pastos, o campo de futebol. Ele deve ser a energia que restou dessas almas todas. Mas disse que elas não são revoltadas, já encontraram seus caminhos. Eu moro nele desde o primeiro dia em que chegamos aqui. Eu olhei para ele, ele olhou para mim e eu senti que ele era meu dono. Oba! Ele acordou. Nós podemos brincar agora. Vamos brincar de quê?
Pique-esconde.
E todos saíram correndo pelo interior do velho casarão de móveis coloniais, quadros e tábuas corridas.
***********
Depois de ter escrito este texto, lembrei-me de Horla, conto do grande mestre Guy de Maupassant. Monstro invisível que perseguia o protagonista e que saiu de um cargueiro brasileiro.
***********
Convido-os a ouvirem meus áudios musicais. Beijos.
Levanta! Dormiu quase a tarde toda! Vamos brincar, ainda é cedo, deu seis e meia agora!
Não posso! – Respondeu o menino encolhido em posição fetal, suspirando, ainda sentido no corpo, a lassidão.
Por que não? – Insistiram os irmãos.
Porque eu moro dentro de um monstro, quando o monstro dorme, eu não posso sair do lugar.
Ha ha ha ha ha. Que monstro? Não tem monstro nenhum! Você está dormindo ainda, sonhando, acorda, vamos brincar!
Estou contando um segredo para vocês e vocês não acreditam? O monstro é invisível, ele é muito grande e poderoso e quando irritado, pode aparecer.
Mas por que você mora dentro desse monstro?
Por que ele me escolheu para morar dentro dele, acho eu – diminuindo a voz. - Ele me protege, mas acho que virei escravo dele. Quando ele sente sono, eu sinto um pouco também, quando ele tem fome eu sinto também. Eu e ele acabamos tendo os mesmos horários para fazer tudo.
Ai, estamos ficando com medo! Você não tem medo? E desde quando você mora dentro dele?
Não, eu não tenho medo dele. Ele é uma espécie de fantasma sem forma definida, que morava no jardim dessa casa. Ele me contou que adiante tinha um cemitério de escravos que vinha quase até a casa. Depois fizeram por cima os jardins, a piscina, o açude, os pastos, o campo de futebol. Ele deve ser a energia que restou dessas almas todas. Mas disse que elas não são revoltadas, já encontraram seus caminhos. Eu moro nele desde o primeiro dia em que chegamos aqui. Eu olhei para ele, ele olhou para mim e eu senti que ele era meu dono. Oba! Ele acordou. Nós podemos brincar agora. Vamos brincar de quê?
Pique-esconde.
E todos saíram correndo pelo interior do velho casarão de móveis coloniais, quadros e tábuas corridas.
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Depois de ter escrito este texto, lembrei-me de Horla, conto do grande mestre Guy de Maupassant. Monstro invisível que perseguia o protagonista e que saiu de um cargueiro brasileiro.
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Convido-os a ouvirem meus áudios musicais. Beijos.