Eu no banco da praça
Mais uma vez ele chega e senta.
Parecia arruinado pelas peripécias de sua vida. Começava a acreditar em destino e sua barriga roncava. Tinha a aparência de um vampiro doente, respirava pesado naquele começo de noite. Seu rosto transparecia a confusão de uma mente doentia. Um tormento que causava medo a quem passava.
"A MORTE COMO COMPANHIA", declarou num berro louco e voltou a sentar. Ninguém parou para escutar. Era só mais um gemido de um coração definhando. sabia ele, estar ausente do mundo e suas coisas de algum valor monetário. saboreava seu estado letárgico. Sua confusão aumentava a medida que o sol se punha.
A dor no peito o fustigava com uma força e demência incontidas, perdera o gosto por sensações típicas, achava, em algum lugar em sua perturbada mente, que seu sistema fisiológico agia de maneira independente. Seu corpo havia se rebelado. Seu cérebro já não o ordenava. Estava suando frio, frio como o vento que soprava, deixando desertas as ruas.
Algumas flores se fechavam também.
"A PAZ É UM BRILHO NO ESCURO", mais uma vez gritou, no silêncio da noite que começava, acordando alguns mendigos que dormiam em seus papelões nas calçadas das lojas. Ele não voltou a sentar. Seu corpo independente tremia...
Alucinado, o tempo também tremia. Seu relógio parou. A hora havia enfim chegado. sabia ele que o tempo é crucial quando se delimita as principais virtudes. Sabia que o coração, quando esvaído, funciona como uma ampulheta, cuja a areia é um sentimento seco. Era a partida, o fim de um lamento ruidoso.
A poesia brincou pela última vez e sua boca: "MINHA ALMA SE CALA. MAS NOVOS MUNDOS SE ABREM E O MEU RAIO BRILHA ACENDENDO MEU GÊNIO DE CERTEZA VIVA". Seu corpo morto caiu liberto.
A poucos metros, numa enfermaria da maternidade, nascia um menino saudável que trazia no ensaio de rosto que todas as crianças recém-nascidas têm, um semblante alíviado e um destino cheio de luz sobre as trevas.
"Para se encontrar é preciso primeiro se perder".