A maldição da fazenda Monte Belo
A história que eu passo a narrar aconteceu com meu primo José, em uma fazenda não muito longe da cidade onde moro, onde aconteciam coisas no mínimo estranhas.
Moravam nessa fazenda José e sua esposa Estela, havia bastante tempo, certa feita foram contratados peões para trabalhar na fazenda juntamente com José.
Os peões eram bem experientes, e o mais experiente deles era João lobo, um homem de meia idade que dizia não ter medo de nada e de fato ele era bem corajoso e sistemático.
Certa tarde depois que cuidaram dos afazeres que lhes cabiam, sentaram-se na varanda e foram conversar fiado, coisas sobre a labuta diária da fazenda. Os peões ficavam numa casa pouco afastada da casa de José, onde dormiam e tomavam banho, nos restante do dia cuidavam do trabalho, Estela nesse momento fazia o jantar para eles.
Num momento o assunto passou a ser sobre assombrações, uns diziam que nunca tinham visto, mas que acreditavam, outros diziam que não acreditavam que isso era coisa de gente supersticiosa.
Eram ao todo quatro peões, sendo eles, Jackson, Geraldo, Antônio e João Lobo.
Estela terminou de preparar o jantar e chamou o pessoal, que famintos, foram voando comer a deliciosa refeição que Estela havia preparado.
Comeram bem, conversaram mais um pouco, fizeram um quilo, nesse tempo já passava das 21 horas, estavam todos exaustos, sendo assim os peões foram se recolher, Estela e José, decidiram assistir um bom filme que estava passando na TV, era um filme sobre exorcismo, e como não tinham cisma em relação a isso, estavam gostando do filme, mas como José estava muito cansado acabou pegando no sono, antes que o filme terminasse.
Estela viu e não o acordou, mas quando olhou na direção do marido, já que o sofá em que ele estava dormindo ficava logo abaixo de um vitrô, que tinha vidros transparentes, onde se podia ver claramente os arredores da casa, devido a forte luz do luar, que iluminava tudo ao redor, com a luz Estela pôde ver claramente a figura de um homem que usava chapéu preto abrindo a porteira que levava a casa deles, vendo isso, ela pensou que seria um dos peões que tinham vindo falar alguma coisa com José.
Estela sentou-se no sofá para acordar o marido, que acordou assustado, Estela disse que achava que era um dos rapazes, que estava abrindo a porteira, para falar alguma coisa com ele, quando se levantaram do sofá, não viram mais ninguém e nem ouviram nada.
Estela começou a apavorar-se, e disse para o marido acender a luminária de fora e olhar ao redor da casa, pra ver se tinha alguém os espreitando.
José pegou a velha filobé, e abrindo a porta da sala, deu a volta na casa inteira, e no terreiro e nada viu.
Voltou pra dentro, e disse a Estela que ela devia ter se enganado, provavelmente um efeito do filme de terror que estavam assistindo.
Foram se deitar, já beirava a meia-noite, mas Estela estava certa do que vira, não era uma alucinação, era real, e ela sabia disso.
José roncava, mas Estela não conseguia dormir, foi quando ouviu passos pesados dentro da casa, eram passos fortes, como se fossem de um homem bem grande.
Estela estremeceu, seus pêlos da nuca se arrepiaram, ela acordou José, que foi correndo revistar a casa em busca do intruso, mas não encontrou nada, nem vestígios de que alguém pudesse ter entrado, resolveram dormir, o resto da noite transcorreu normalmente, com um pio ou outro de coã, e barulhos de grilos.
De manhãzinha por volta das 5 horas, José acordou, Estela preparava o café, e ele vestiu-se e foi chamar os peões, para tomaram café, comerem pão caseiro, e cuidarem do serviço.
Chegaram todos, cumprimentaram Estela com respeito, e foram comer e beber o café, nesse momento Estela virou-se para eles e perguntou se algum deles havia ido a casa deles a noite, ou mexido na porteira, a resposta negativa dos peões deixou Estela ainda mais apavorada.
O dia transcorreu bem, Estela cuidou da horta, tratou das galinhas, lavou as roupas de todos, tomou um banho e começou a fazer a janta afinal, eles já deviam estar chegando do pasto, e estariam famintos.
Todos os peões e José chegaram, jantaram, conversaram e foram embora para sua casa dormirem, Estela e o marido também decidiram dormir mais cedo, José tomou um bom banho e foram se deitar.
De repente, quando já estavam cochilando, Jackson chega correndo, ofegante a casa deles, bate na porta quase a derrubando, José levantou rápido e foi ver o que estava acontecendo, Jackson disse que alguma coisa muito errada estava acontecendo ali, que na casa onde estavam, quando todos já haviam se deitado, houve um barulho ensurdecedor de panelas caindo no chão, e de repente ouviram também pessoas brigando em voz alta, dando gritos agudos, pareciam ser de um homem e uma mulher.
José pegou a lanterna, acendeu a luminária e chegando lá, viu o restante dos rapazes do lado de fora da casa, com os olhos arregalados, foram até a cozinha da casa e tudo estava no lugar, nada de panelas ou qualquer outra coisa no chão e nada de pessoas brigando, nisso José pensou em Estela, no que ela havia visto e ouvido na outra noite e que a essa altura ela devia estar em casa apavorada.
José disse aos peões que não havia nada de estranho, mas ele mesmo estava com medo.
José foi embora acalmar Estela e os peões não conseguiram dormir pelo resto da noite, nem José conseguira pregar o olho.
Com o dia clareando, Estela novamente fazia o café, e José estava no banheiro lavando o rosto, quando chegaram Jackson, Antônio e Geraldo com os cavalos selados e as tralhas amarradas na garupa, dizendo que os desculpasse, mas que naquela fazenda maldita não ficavam nenhum segundo a mais, disseram também que já haviam ouvido coisas algumas outras vezes, ou visto luzes, mas que não tinham sido tão assustadoras quanto as da outra noite, e que não quiseram dizer nada para não se passarem por medrosos.
José tentou ainda dissuadi-los da idéia, mas não tinha jeito, eles estavam decididos a deixar a fazenda Monte belo.
O único que sobrou foi João Lobo, o mais corajoso e mais experiente de todos, disse que não ia porque quando começava uma empreita ia até o fim, e assim foi, os dias foram se passando, uma ou outra coisa estranha acontecia, mas iam levando, João Lobo parecia ansioso que a empreitada terminasse logo, já que só faltava marcar e vacinar o gado novo que haviam buscado.
Mais uns três dias e terminariam, se os outros tivessem ficado talvez dentro de um dia e meio acabariam, mas como estavam só os dois duraria um pouco mais.
Depois disso João estaria livre para sumir daquele lugar amaldiçoado.
Findado o prazo da empreita, agora João Lobo iria embora.
Arrumou sua pequena tralha, selou o cavalo, e quando foi despedir-se de José a de Estela, disse a José para ir embora dali e tirar a mulher daquele lugar, porque ali era morada de alguma coisa muito ruim.
José ouviu o conselho e disse que ali não ganhavam mal, já que ele administrava a fazenda, e que poderiam fazer o pé de meia para quando tivessem seu primeiro filho, que já estavam planejando.
João Lobo despediu-se e seguiu estrada a fora, levantando poeira atrás de si.
Naquela mesma tarde José foi ao vizinho de cerca, seu Amador, que era o morador mais antigo naquela região, um velhinho de voz mansa e que conhecia como ninguém a história daquela região a da fazenda onde José trabalhava há 3 anos.
José nunca havia tido curiosidade de saber da história da fazenda, afinal, só estava ali para trabalhar e ganhar dinheiro, porém depois do que vinha acontecendo na propriedade, teve uma certa curiosidade.
Seu Amador disse a José que por ele ser jovem, pois tinha apenas 27 anos ele poderia não acreditar em certas coisas, mas que ele por ser bem mais velho, já tinha visto e sabia de muita coisa.
Chamou José para fora e pondo-se em um ângulo onde pudessem ver as casas da fazenda onde José morava disse para ele observar que em cima de cada casa da fazenda, inclusive em cima do paiol de milho, tinha uma estrutura que pareciam ser chifres, chifres do diabo, e que ele sempre via a noitinha olhando pro lado da casa de José, vultos passeando pelo terreiro e quintal, mas que nunca tinha dito nada a ele, para não assombrá-lo, mas que o pai do dono daquela terra tinha um pacto com o demônio, e que aquela terra sempre seria amaldiçoada enquanto o diabo não levasse todos os descendentes do velho.
Ouvindo isso José pegou sua esposa, que ficou muito feliz com a decisão do marido de ir embora porque desde que as coisas estranhas começaram a acontecer ela não dormia direito, estava um caco.José pediu contas e foi viver na cidade, mora do lado da casa de minha mãe, e até hoje ele conta essa história e se arrepia, lembrando da maldição da Fazenda Monte Belo.