A freira
 
A viagem seria longa, mais ou menos 2 horas de lento sacolejar por estradas vicinais, de macadame.
Madre Felícia no auge dos seus 80 anos tinha uma lucidez de causar inveja a qualquer adolescente.
Passava de meia hora de viagem, resolveu baixar a poltrona para descansar, e esticar as pernas.
Fechou os olhos e um diálogo lhe chamou a atenção nas poltronas de trás.
Parecia o planejamento de algo, apurou mais a audição e então...
___Mamãe, se fosse pra matar o coitado, porque não fizeram logo isso?
___Pois é... Minha filha e você têm dúvidas que isso vai acontecer?
___Pela seqüência dos fatos mãe, me parece óbvio, pelo menos os preparativos dizem isso.
___Alguém ficou lá pra cuidar disso, mamãe?
___Sim, a própria diretora, me parece que vai ser ela mesma, hoje.
___Hojeeeeeeeeee, Hojee, cochichou, a filha.
___Sim, tem que terminar hoje isso, pois amanhã haverá outras tarefas.
O suor escorria pelo corpo todo da freira, sem dúvidas estava diante do planejamento de um homicídio horroroso, teria que saber detalhes como local, hora e exatamente quem praticaria a selvageria.
Pelo que deu pra entender, ali estavam duas criminosas, mãe e filha, e em outro lugar uma diretora, deveria ser em uma escola, ou algo parecido...
Virou para o lado da janela, a freira, sem deixar de prestar atenção nos detalhes da maquiavélica armação.
___Mamãe olhe isso, você acha que vai ser útil, na hora H, indagou a filha.
A freira esticou o olhar para cima, daria tudo pra ver que tipo de arma carregava a pivete... Meu Deus balbuciou.
___Sim filha sempre é possível usar no encerramento do trabalho.
Não havia mais dúvidas, aconteceria um crime e ela, com 80 anos, teria que impedir...
5 kilometros depois, o diálogo recomeçou...
___Olha filha, estamos chegando, disse a mãe.
De longe observou a feira que havia em frente ao colégio onde ficariam mãe e filha 3 viaturas policiais.
Já que desceria logo adiante, resolveu ficar ali pra assistir de camarote, o desfecho daquela história e a prisão dos criminosos, a polícia já deveria estar sabendo.
Primeiro desceram, mãe e filha e depois a freira, que afastou-se uns 6 metros de um festivo encontro.
Pelo menos 6 pessoas entre policiais e paisanos, recepcionavam as duas.
___Então, termina hoje a série de palestras, policial Mirian?
___Sim senhora, a diretora fará e nós a ajudaremos, a comunidade aguarda ansiosa.
___Mamãe, pergunta do peru, o peruuuuu.
___Ah sim, minha filha quer saber se vão mater hoje o peru.
___Sim querida, e eu mesma vou preparar, mais tarde, disse a diretora, animada.
___Terminaremos as palestras hoje e teremos mais tarde a festa. Trouxeram os talheres?
___Olha aquiiii diretora, mostrei pra mamãe no ônibus, e ela disse que pode ser útil, quando encerrar os trabalhos e começar a festa, arrematou a filha...
A freira, após ouvir aqueles diálogos, mordeu os lábios, passou a mão na testa molhada de suor, baixou a cabeça, fez uma cara de desiludida, caminhou uns 10 passou, parou, olhou para o colégio ao seu lado, o grupo animado de pessoas, e enfim sorriu...
 
xxeasxx
 
Malgaxe
Enviado por Malgaxe em 04/03/2010
Reeditado em 28/07/2010
Código do texto: T2119737
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