FACÍNORAS
Aquele velho herói de guerra já não tinha mais a força para combater, a sua batalha agora era pela vida em sua pequena lojinha de armarinhos, dividia com a velha esposa os turnos de trabalho, pela manhã ele ficava a tomar conta e a tarde ela ficava. Isso para facilitar os afazeres domésticos da esposa.
Os parcos dividendos conseguidos na lojinha eram divididos para a sua subsistência e o tratamento de uma doença incurável que há anos lhe afligia, esta adquirida na ultima guerra, devido a ataques químicos do inimigo.
No outono de 1978, numa tarde, no meio da poeira levada pelo vento, o cabelo esvoaçante daquele velho, tornava mais trágico o seu destino, pois parecia à encarnação do desespero indo em acelerado na direção da sua lojinha...
Ofegante, arrastou-se até a porta do estabelecimento, parou, amparou-se com as mãos, uma de cada lado da porta, e uma lágrima correu em seu rosto marcando onde a poeira havia se depositado.
No chão sobre uma poça de sangue a sua esposa, brutalmente assassinada por ladrões.
Uma fita de isolamento fora colocada em volta do corpo, e a polícia se limitou a aguardar o proprietário para fornecer detalhes do dinheiro que tinham e da mercadoria.
Nada fora roubado, e o dinheiro, revelou ele, que também, nada fora roubado.
A noite, depois de providenciar o velório da esposa, retornou a lojinha.
Girou a chave na porta, empunhou com raiva a maçaneta e entrou lentamente, como a remoer o ódio, no chão marcas de sangue, alguns miolos da pobre mulher pelo chão mal lavado e um cheiro de morte no ar...
Baixou mais uma vez o olho na direção do chão, devagar o levantou e girou o rosto direcionando o olhar para uma pequena porta na lateral da lojinha, que permanecia fechada.
Durante vários anos soube de assaltos na região e da violência com que eram perpetrados.
Ex combatentes, desempregados, viciados, assassinos profissionais, todo tipo de bandidos tinha como meio de vida esta prática.
O velho era especialista em contraguerrilha e a surpresa era sua especialidade maior.
Ele já sabia o que encontraria atrás da porta lateral...
Olhou tudo em volta, colocou as mãos no bolso, e caminhou em direção a porta.
Antes mesmo de abrir totalmente a porta sentiu ambos os sapatos pisarem em algo como esponjas no chão...
Terminou de abrir a porta, caminhou até um dos lados do pequeno quarto, puxou uma cadeira, sentou, acendeu um cigarro, deu uma, duas baforadas e começou a analisar...
No chão havia vinte pedaços de corpos, em meio ao sangue...
Colocou a mão embaixo do queixo e pensou... Eram dois homens, mas cadê as armas?
O cofre do velho soldado era uma máquina de matar, preparada para estas ocasiões.
Olhando o cofre de pé ele tinha 1 metro de largura e 1 metro e meio de altura e meio de fundos...
Nunca abrigou dinheiro, mas uma engenhoca digna de ser chamada de máquina do inferno.
Na direção de cima para baixo ele possuía 10 guilhotinas paralelas uma a outra e presas embaixo, e na direção lado a lado mais uma, também presa em um dos lados, tudo isso camuflado por uma película que imitava a cor do chumbo.
Por isso 20 pedaços de cadáveres.
Dois homens se postaram lado a lado e ao tentar abrir o cofre acionaram a engenhoca que em dois movimentos rápidos e vigorosos reduziu a pedaços os assassinos, e o sangue vazou abundantemente no chão.
Levantou da cadeira, olhou a eficiência de seu invento, sorriu e disse... Poderia ser melhor...
Passou lentamente o dedo em uma das guilhotinas, resvalou o dedo indicador no polegar, e balbuciou...
E as armas? E... Sorriu.
Caminhou até os fundos da lojinha, e numa porta aberta parou...
Jogados mais adiante sobre as pedras brita dois fuzis metralhadoras e ali ao lado da porta outro homem morto.
Saiu pegou os fuzis e da mesma maneira que aos outros ficou analisando...
Ao abrir a porta o assassino, acionou 40 afiadas lanças enfiadas no chão, não as viu, e ao pular...
Dali onde estava o velho soldado ergueu as duas metralhadoras e descarregou no corpo empalado do criminoso e balbuciou... Isto é pela minha esposa.
xxeasxx