Burlando a morte - Parte II e Final

A impressão que Gwineth tinha era que todos estavam olhando para ela, conforme ela alcançava o corredor em direção a saída do prédio laboratorial ela passava por alguns colegas da Universidade que percebiam o sorriso de glória alcançada no rosto da pesquisadora, com passos firmes e confiantes ela atinge a saída. O sol irradiava o seu brilho, a sensação que a jovem tinha era que os seus sentidos estavam mais apurados, e que ela sentia o mundo com mais força do que antes a vida corria em suas veias como um rio que corre para o mar, alcançando o estacionamento onde estava estacionado o seu carro um Corsa Comfort 1.2, Gwineth sentia que precisava testar o seu novo corpo, precisava saber se realmente havia encontrado o elixir da imortalidade. A caminho de casa enquanto passava por uma rodovia ela teve a grande ou a imbecil idéia de fazer o teste, mirou o carro em direção a um poste e pisou o acelerador do carro até o fim, a batida foi tão violenta que praticamente partiu o carro em dois, dentro da sucata encontrava-se Gwineth presa as ferragens em meio a dor de ossos partidos e pele rasgada e sangue jorrado por todos os lados, a pesquisadora vê o milagre. Em questão de segundos os ossos se ligam a pele se reconstitui fechando os buracos no corpo, ela sente a recomposição de maneira extraordinária as dores aos poucos vão sumindo, quando o socorro chega já não tem mais nada a ser feito, boquiabertos os socorristas percebem que Gwineth não tem sequer um arranhão. Ela sai das ferragens como quem sai de um carro com a porta aberta e adentra a ambulância apenas por precaução, a partir de então ela percebe que não é imune apenas da degradação feita pelo tempo ela também o é por qualquer tipo de degradação, ou seja ela tem o corpo fechado, nada poderá destruí-la. Mais tarde estando em casa a jovem contempla a foto de sua querida mãe entre as suas mãos, pensando que se tivesse conseguido o elixir mais cedo, hoje não estaria sozinha, uma pequena lágrima cai do olho esquerdo e escorre pela face bela da moça. Os dias passam e os meses também mesmo após ter feito uma grande descoberta científica como essa, Gwineth começa a perceber que viver para sempre não é assim tão bom quanto ela imaginava que poderia ser. Sem falar que a pesquisa deveria ficar em segredo, pois imagine se o elixir cai em mãos erradas, e criminosos tornem-se seres imortais, como seria o mundo? Por essa razão Gwineth decidiu destruir todas as provas de seus quatro anos de pesquisa e guardar os segredo da vida eterna somente consigo. Conforme o tempo passava as pessoas que ela tinha contato como colegas de faculdade e de trabalho começavam a envelhecer e conseqüentemente a morrer e a solidão apenas aumentava a cada ano que passava, sem falar que com o tempo ela teve que mudar para outro lugar onde ninguém a conhecesse, pois sendo incapaz de envelhecer as pessoas perceberiam facilmente, o que a fez sentir a solidão com uma força maior ainda.

Os anos se passaram todos os conhecidos de uma geração inteira estavam mortos e Gwineth estava enfim só, o que ela mais temia que era ficar sozinha acabou se tornando a sua cruel realidade, a vida não tinha mais cor. Cada dia que passava a dor da solidão aumentava, a eterna jovem não tinha coragem de se aproximar das pessoas com o medo de se apegar e enfim de perder as pessoas amadas para morte, foi nesse momento que pela primeira vez ela desejou morrer e no mais profundo da sua alma ela pediu para que os céus a atendesse e desse esse descanso para a sua alma atribulada e solitária. Em meio as lágrimas e soluços Gwineth adormeceu, enquanto a noite atingia o seu ápice a moça acorda assustada com um barulho de janelas se abrindo com violência e assustada ela senta na cama com os olhos esbugalhados imaginando que poderia ser um ladrão, ela não temia que alguém pudesse fazer algum mal a ela até porque nada na terra poderia feri-la mas apenas pelo desconforto de ter um invasor em seu quarto. A escuridão da noite era cruel com a jovem ainda que a mesma tivesse os sentidos aguçados ainda assim não conseguia enxergar quem havia entrado no interior do seu quarto. A moça começou a ouvir passos caminhando em sua direção passos pesados e firmes um cheiro de podridão terrível o que a assustou, de repente o silêncio e foi então que Gwineth assustada toma a atitude de se levantar e ir em direção ao interruptor para acender a luz do quarto. Nada é o que ela encontra, um frio na espinha percorre todo o corpo e a impressão que ela tem de estar sendo vigiada é certa. Mas a pergunta é por quem? E a outra que segue a essa é porque ela não conseguia ver? Mas seus questionamentos foram interrompidos pelo som aterrorizador de uma voz rouca e grossa que a chamou para uma estranha conversa:

- Do que você tem medo? A voz perguntou.

Assustada com aquela voz Gwineth nada respondeu apenas ficou olhado para o seu quarto tentando ver de onde viria aquele som, por um momento achou que estava tendo alucinações e imaginou que poderia estar perdendo a lucidez e então veio mais uma pergunta em sua mente se ela era indestrutível como poderia ter algum tipo de transtorno psicológico? Mas suas perguntas foram novamente interrompidas com a voz que insistiu em dizer:

- Do que você tem medo? Da solidão? Do juízo? Do que há atrás das finas cortinas que separam o seu mundo do outro que espera por todos?

Naquele momento então o desespero tomou conta do coração da pobre pesquisadora e ela percebeu que não estava enlouquecendo e que não se tratava de uma alucinação. Reunindo todas as forças que ela possuía respondeu:

- De tudo isso um pouco! Respondeu sussurrando.

- Hum, então porque estava chorando desejando que eu viesse a levá-la como a todos que habitam nessa terra eu tenho levado? Todos sem exceção, pobres, ricos, saudáveis ou doentes, bons e maus, homens e mulheres, velhos, adultos, jovens ou crianças e até os animais. Tudo que respira ainda sentirá o fio do corte da minha foice a todos um dia eu levarei, porém você não parece interessada em passar por essa parte, não é mesmo? Sempre teve medo da solidão e de morrer e de viver! Agora que conseguiu se ver livre de mim porque quer agora que eu a leve? Criou coragem? Em tom sarcástico a voz perguntou.

Percebendo de quem se tratara Gwineth ficava se questionando se seria possível que a própria morte estivesse ali naquele quarto, sempre ouvira dizer sobre a morte que era branca e usava roupa negra como a noite e que levava em sua mão a famosa foice a qual ceifava a vida dos seres que possuía o fôlego de vida. Ainda em seus questionamentos é interrompida novamente por mais uma pergunta:

- É incrível como você é cética! Se a sua situação não fosse trágica eu diria que no mínimo seria cômico! Uma jovem que consegue alcançar o impossível que grandes e brilhantes pesquisadores que vieram antes de você, tentaram por uma vida inteira e não conseguiram. A imortalidade! E ainda assim duvida do óbvil do certo, daquilo que todo ser que respira um dia irá fazer o de conversar com a morte? Com tom de incredulidade a voz perguntou.

- Não sei o que dizer. Com voz de choro Gwineth respondeu.

- Que tal começar pela verdade? Já é algum começo. Insistiu a morte.

- Quero morrer porque não quero mais viver sozinha, estou cansada de ver tudo o que amo virar pó com o tempo. Pensei que se não morresse seria livre de certas tristezas mas me enganei.

- Oh sim! Você sempre viveu como uma covarde, achou que se livrando de mim se livraria dos seus problemas não é mesmo? Tola! Eu não tenho o poder de somente tirar eu também sei ajuntar! Se você não fosse tão estúpida hoje estaria junto dos que lhe são tão caros, inclusive de sua amada mãe! Mas não, você não! Não é mesmo? Dentre todos os mortais da terra você queria ser a privilegiada e não passar por mim não é? E agora me diga o que é que tens? A única coisa que lhe sobrou foi o pó que você tanto temeu, e a morte que você tanto fugiu! A morte respondia com certo prazer ao ver a tristeza nos olhos da jovem.

- Oh sim!! A morte em vida é a pior das mortes! Atravessar os séculos sem ter um dia de descanso, sem ter um dia de paz! Sozinha sem ter alguém que você possa dividir as suas alegrias suas dores, suas vitórias ou derrotas. A vida é bela porque tem um fim se ela fosse eterna da maneira que o mundo é seria insuportável! Você pensou que a morte seria o fim de tudo, mas para o seu azar é apenas o começo de uma longa jornada. A morte respondia com tom de sabedoria milenar.

Em meio as lágrimas e com o coração partido pelas verdade ditas, Gwineth sentia a sua alma se contorcer em quanto as palavras de maldição era proferida pela ceifadora de vidas. Ao olhar para atrás e perceber as pessoas que haviam partido e a vida que ela havia perdido em busca de alcançar algo tão estúpido e inútil fazia com que a dor que havia em seu coração apenas aumentasse. Mas nada disso faria com que a morte se comovesse e deixasse de lhe espetar o coração.

- É fato que poderia atender o seu pedido, mas simplesmente não vou! Você atravessará os séculos e aconteça o que acontecer e faça o que fizer eu não virei até você. Talvez um dia eu virei ao seu encontro, talvez! Só que se esse dia chegar será quando você tiver aprendido a viver e a enfrentar os obstáculos da vida que no seu caso serão muitos e não como uma covarde, como sempre foi!Até lá estarei ausente pra você! Não adianta me chamar eu não virei! Adeus!

E assim como a morte veio do nada assim ela retornou para o nada, deixando aos prantos a pobre jovem que se corroía por dentro tendo em seu coração o desespero como companheiro. Então naquela noite viu a besteira que havia feito o mal que havia cometido e que era tarde demais para voltar atrás. Também sentiu que não se pode enganar a morte, pois ela vem de uma forma ou de outra. E a maneira que a morte decidiu vir pra ela “em vida”foi a pior maneira que ela poderia ter encontrado o seu fim ou o começo de suas dores. Atravessar o séculos foi o que a ceifadora disse para jovem. Foi a sentença decretada para aquele que tentar burlar a morte!

Uchoas
Enviado por Uchoas em 25/02/2010
Código do texto: T2107210
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