Vampiro

1710. Esse era o ano de que ele se lembrava.

Tudo parecia girar em sua mente.

Correira. Gritos. Tochas de fogo.

Escuridão. Um breu.

Apaga tudo.

De repente ele sente a dor. A estaca entrando, rasgando sua carne.

O sol queimando sua pele. Rostos disformes em sua volta.

Risos. Sente seu corpo sendo jogado para dentro de algo parecido com caixão.

A cabeça bate com força. A estava causando uma dor insuportável.

Ele se sente fraco agora. A madeira ainda enfiada onde havia carne, hoje somente restos de pele e ossos.

Ouve vozes. Jovens. Risos. Algazarra.

Mas está preso. Tenta sair. Sem efeito.

Ouve passos se aproximando. Um riso irônico em seus lábios.

Torce para que abram a tal caixa.

Liberdade enfim.

"Olha, uma velha caixa meio enterrada aqui no fundo.

Como teria vindo parar aqui???

Vamos abrir. Não é nossa.

AH, deixa disso, pode ser algo valioso..."

Eram as palavras que consegui decifrar num sotaque quase desconhecido.

Abram. Era seu desejo.

Enfim percebeu algo forçando a tampa. Abrindo.

Percebeu que estava escuro. Noite. Apenas uma luz estranha. Nem vela, nem tocha.

Uma luz azulada que ele nunca imaginaria ser de um celular.

Sentiu um ar entrando em seus pulmões.

Tinha fome. Sede.

Três jovens o olhavam de boca aberta como se tivessem visto um fantasma.

Infelizmente não se mantiveram vivos o suficiente para contar o que descobriram.

No dia seguinte nas ruinas da velha igreja medieval, apenas restava um caixão de aspecto estranho com a tampa aberta.

Restos de algo que seriam três jovens, talvez devorados por animais selvagens ou coisas parecidas.

Mas para onde as pessoas jamais olhariam, nos restos do que foi algum dia um teto, dormia tranquilamente e bem alimentado o ser das trevas.

Que passara muito tempo trancafiado em um caixão de chumbo com uma estaca de madeira, que graças ao erro de cálculo de um aldeão apavorado, passará bem próximo a seu coração.

Agora estava desperto, apenas esperando a noite chegar para ele sair e procurar alimento e o líquido tão precioso.

Carne e sangue humano.

E ele sentia que ali sempre voltaria jovens de carne tenra e sangue quente.

Dormia o sono dos anjos, ou seria dos demônios?

Paulo Sutto
Enviado por Paulo Sutto em 24/02/2010
Código do texto: T2105334
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