Bailes de carnaval
Carnaval é coisa do capeta.
Sempre ela ouvia sua avó dizer isso.
E como sempre ela ria, achando graça das crendices dos mais velhos.
Sempre frequentava os bailes de salão na pequena cidade onde morava.
Mas nesse ano foi diferente.
Por ser uma cidade no circuito turistico, nessa época sempre ficava lotada de turista, que obviamente estavam nos bailes.
Foi logo no primeiro dia que o conheceu, alto, magro, muito bem apessoado, com um perfume amadeirado.
Ele estava com uma fantasia muito exótica.
Algo que lembrava um vampiro, mas muito mais elegante, uma capa negra, e a roupa toda negra também, com detalhes vermelhos. Sua pele era muito branca, mas notava-se que não era maquiagem e nem suas olheiras.
Ele se aproximou dela e se apresentaram.
Ficaram a noite toda juntos. Riram, se divertiram, dançaram, pularam e tomaram algumas bebidas. Fim de baile, ele a levou pra casa em um carro que ela nunca tinha visto antes.
Muito luxuoso.
Ela estranhou, ele não sorria, sempre inflexivel mantendo a mesma seriedade.
Noite seguinte, lá estava ele, seu coração disparou.
Mesma rotina, divertiram-se, ele a leva pra casa e some na penumbra da madrugada.
Terceira noite, mesma coisa, e isso a deixa curiosa.
Última noite, ela está ansiosa.
Chega ao salão e lá está ele.
Dançam e brincam.
Ela nota que ele está sempre com a mesma fantasia. Ou teria várias iguais.
Ele diz que é a última noite que se encontrarão, e que depis vai partir.
Ela diz que quer ir com ele.
Tem certeza, ele diz.
Sim tenho. A moça responde.
Ok, se prepare então.
Ela se assusta.
Olhe bem para meus pés.
Até então ela não tinha nem sequer olhado para os pés dele.
Ela gela, quase desmaia, mas sente as mãos fortes a segurarem com força.
Ela sente que é tarde demais, já fez sua escolha.
Não pode se soltar, ela disse sim.
Apavorada continua olhando para os pés dele.
Que na verdade não são pés, e sim cascos.
E não fazem parte da fantasia, são reais.
E ainda olhando para o chão cmeça a notar que muitos homens naquela sala tem os pés como os dele.
E ao olhar para as outras moças dançando nota nelas o mesmo pavor estampado no rosto, o mesmo desespero, o mesmo medo.
Ela percebeu então que sua avó, já falecida tinha toda razão.
Carnaval é coisa do capeta.
Mas ela descobriu isso um pouco tarde, assim como as outras garotas do baile.