Itália - Parte Final

O corredor começou a aparentar ser mais longo do que o normal, a cada passo que era dado o quarto se tornava mais distante e enquanto caminhavam em direção ao funesto aposento o coração de Elvira começou a bater mais forte, apertado, sofrido e isso ela não conseguia entender o porque. O desespero começa a dominar sua mente e a sensação que Elvira tem é de estar entrando em um túnel sem saída, Lucas aperta o passo e chega primeiro a porta do quarto onde aguarda a jovem se aproximar, enquanto espera pela doce moçoila ele a contempla com um brilho diferente no olhar o sorriso maudoso aparece em sua face. Mesmo com a pouca luz produzida pelas velas do candelabro Elvira percebe a feição sinistra de Lucas, o que a deixa mais apavorada, mas mesmo assim ela continua a se aproximar tentando disfarçar o desespero que já se apoderou de seu coração. Ela chega até a porta do quarto e fingindo indiferença aos olhares de Lucas o encara como quem aguarda ele tomar alguma atitude:

- Então.... não vai abrir a porta? Estou esperando! Aqui eu não durmo mais!Não paguei dez liras para dividir meus aposentos com um fantasma suicida.

Lucas não respondeu e continuou a encarar Elvira com um olhar intenso, o sorriso maudoso retornava nos lábios do homem, na mente de Lucas o desejo aflorava cada vez mais forte e mais intenso, a necessidade de possuir aquela moça o fazia delirar, enquanto ele se perdia nos próprios pensamentos uma forte batida vinda do quarto o faz sair do transe. O susto foi inevitável ambos olharam em direção a porta com os olhos arregalados um vento forte saiu do aposento que congelou os corpos dos presentes uma voz sofrida mas nítida ecoou por toda estalagem.

- Quero minha amada de volta! Quero minha amada de volta! Volte pra mim meu amor!

A voz do fantasma fez Elvira estremecer dos pés a cabeça, sentiu que não teria forças para sair do lugar, pensou até mesmo que iria desfalecer naquele instante, por sua vez incrédulo Lucas ficou sem saber o que fazer pois até então nunca havia presenciado nada parecido na sua vida. Enquanto Elvira ficava imóvel presa em seu desespero na frente do quarto Lucas decide entrar para pegar os pertences, em sua mente ele acredita que ninguém o faria perder a oportunidade de ficar com Elvira ainda que fosse um fantasma. Ao adentrar no quarto a porta se fecha por detrás de Lucas, assustado pega as coisas de Elvira e vai até a porta para sair o mais rápido possível, leva a mão na tranca da porta e nada, força a porta mais uma vez e nada, começa a bater e gritar por Elvira e nada. Do outro lado está Elvira encostada na porta tentando ouvir algum movimento que indique que Lucas está bem, mas nada ouve o pavor começa a tomar conta dela novamente, bate na porta e nada, chama por Lucas e ninguém responde. Já em completo pânico a jovem sai correndo buscando ajuda em outros quartos, batendo porta a porta para ver se alguém sairia a ajudá-la mas para a sua surpresa ninguém responde. É como se a estalagem estivesse vazia e apenas os dois se encontrasse naquele lugar de terror. Desesperada Elvira retorna ao quarto e procura qualquer móvel que ela possa usar para tentar abrir a porta, ela encontra uma cadeira de madeira e violentamente arremessa contra a porta, mas nada acontece a porta nem mesmo se mexe com o peso da cadeira o desespero se torna maior e Elvira já não sabe o que fazer para tirar Lucas do quarto medonho, ela insiste novamente com socos e ponta pés, bate com força na porta, começa a gritar chamando por Lucas chamando por socorro, mas ninguém responde. Dentro do quarto Lucas corre para a janela na tentativa de sair do quarto mas a janela se fecha, ele bate, força, empurra mas a janela não se move, derrepente o som de passos podem ser ouvidos caminhando em direção do rapaz, o aproximar daqueles passos soava como o barulho de mil demônios, um mal estar começa a tomar conta do corpo de Lucas e ele começa a se sentir sem forças para ficar de pé e de súbito apaga. A noite passa e Elvira adormece ao pé da porta do quarto cansada de tanto tentar abrir a porta. Os primeiros raios de sol aparece lá fora e a porta tranqüilamente se abre, nesse momento Elvira acorda com a porta se abrindo por debaixo de sua cabeça, assustada ela cuidadosamente se levanta do chão e percebe que Lucas está caído ao lado da cama próximo da janela mas apenas os pés é possível de se ver. De ponta de pé ela se aproxima de Lucas e quando fica em frente ao corpo de Lucas a imagem que ela vê é aterradora a pele de Lucas está branca como papel e os olhos saltados das órbitas cheios de sangue e pus a língua roxa e para fora da boca, sangue seco espalhado no rosto e uma corda muito antiga presa ao pescoço. Um grito de pavor é emitido por Elvira e em pânico ela sai do quarto aos gritos pedindo socorro, o quarto se enche de curiosos e hóspedes que estavam nos outros quartos. O dia segue belo e ensolarado, mas para Elvira uma nuvem negra se estabelece em sua mente e coração, o corpo de Lucas é removido do quarto pelos moradores da vila e assim que o rapaz é retirado do aposento Elvira corre para pegar os poucos pertences em segurança crendo que o fantasma não apareceria na presença de muita gente. O enterro aconteceu ao entardecer e alguns moradores e Elvira estavam no cemitério da vila que fica ao lado de uma pequena igreja. Todos os presentes vestiam trajes preto, menos Elvira que apenas possuía a roupa do corpo, na mente da moça as coisas começavam a se embaralhar ela tentava entender porque o fantasma atacou Lucas, porque em outras noites anteriores nada aconteceu, porque somente agora esse fantasma demonstraria tanta raiva e sede de vingança. Perdida em seus pensamentos o corpo da jovem foi tomado por sensações estranhas de calor e pavor, a mesma sensação que ela teve quando chegou a aquele vilarejo, o medo foi tomando conta e os olhos da moça começaram a olhar em redor como se procurasse alguém que pudesse estar escondido em algum lugar pronto para atacar, mas acabou se acalmando visto que não havia nenhum perigo por perto, aos poucos as pessoas foram se retirando do cemitério até que Elvira se viu só em frente ao túmulo de Lucas, com alguma flores pequeninas em mãos fez repousar sobre do descanso final do jovem. Com lágrimas nos olhos foi se afastando do túmulo e enquanto caminhava em direção a saída do cemitério teve a sua atenção voltada para um sepulcro em particular, na lápide negra estava escrito em um idioma estrangeiro possivelmente russo, ao se aproximar ainda mais pode ver a foto da pessoa falecida. No momento em que percebeu quem era quase teve um surto de pânico misturado com uma profunda tristeza, a imagem da pessoa era o antigo namorado, aquele o qual havia lhe tirado a inocência e depois a abandonou, sem acreditar no que estava vendo começou olhar ao redor para ver se encontrava algum coveiro, e levantando os olhos pode avistar um senhor de cabelos brancos, magro parado na porta do cemitério. Com as pernas tremendo e meio fora de si foi em direção ao homem que estava perto do portão ao chegar perto daquele senhor ela perguntou:

- O Senhor é o coveiro daqui ? A pergunta saiu como se fosse um resmungo, misturado as lágrimas.

- Sim, senhorita trabalho aqui a muitos ano. Porque?

- Gostaria de saber se o senhor conhece ou se lembra de uma pessoa em particular que está enterrada aqui?

- A vila é pequena conheço a maioria das pessoas que descansam aqui, mas vamos até o túmulo em questão quem sabe eu posso ajudá-la. O coveiro disse com um sorriso simpático.

Enquanto caminhavam juntos em direção ao túmulo do ex amor de Elvira o coveiro a observava com curiosidade e espanto.

- Chegamos! É este aqui! O senhor conhece esse rapaz? Elvira pergunta com lágrimas nos olhos.

- Ah, sim me lembro desse rapaz eu mesmo o enterrei. Mas já faz tempo que ele faleceu.

- Quanto tempo faz? O senhor por acaso sabe o motivo da morte dele?

- Bom ele morreu faz mais ou menos uns dez anos e se eu não me engano ele cometeu suicídio.

- Suuu...iiiii...cídio? A pergunta quase não saiu. - Mas porque? O senhor sabe me dizer?

- Bom... se é que não me falha a memória este jovem queria casar com uma moça que morava em outro lugar mas a família dele como era muito rica, não aceitou que ele se casasse com a jovem que até onde se sabia era de uma família muito humilde, por isso quando o pai tentou impedi-lo ele fugiu para uma estalagem que tem aqui por perto certo que no dia seguinte correria para os braços da amada. Mas não foi assim que aconteceu.... o coveiro deu um grande suspiro.

- E o que foi que aconteceu? Angustiada Elvira perguntou.

- Bem o dono da estalagem que Deus o tenha pois não está mais entre os vivos! Avisou o pai do rapaz que ele estava escondido em um dos quartos de sua estalagem, foi quando tudo aconteceu. O rapaz ouvindo o pai na porta do quarto batendo dizendo que o levaria a força para casa nem que fosse amarrado. Pegou a corda de arreio que ele tinha guardado junto aos seus pertences e se enforcou.

Ouvindo as palavras do coveiro que foram como facas afiadas sendo cravadas no peito, Elvira pensou que desfaleceria naquele momento. O coveiro vendo que a jovem empalidecera com as informações ficou preocupado e lhe perguntou:

- A senhorita está bem?

- Sim estou, foi apenas um mal estar repentino, mas já estou melhor. Elvira respondeu tentando se conter.

- Se a senhorita está bem peço por gentileza que se vá pois já está na hora de eu fechar os portões do cemitério.

- Sim, estou indo. Obrigada pelas informações.

Tentado conter as lágrimas Elvira sai com passos apressados em direção a saída do cemitério, quando ela já se encontra na praça da vila a dor começa a consumir o coração. Ela começa a ter lembranças do amor que um dia partira o seu coração e percebe que o homem o qual ela amara nunca havia a abandonado e que preferiu se matar a viver sem ter ela por perto. O remorso corria o seu coração, enquanto perambulava pela praça um vento doce envolveu o corpo de Elvira e naquele momento ela pode sentir um beijo na face, um beijo carinhoso.

Então sem mais delongas ela decidiu que se uniria ao seu amor e que não mais retardaria o tão esperado encontro. A noite não demorou a chegar e Elvira voltou para estalagem, que naquela altura estava vazia e fechada, um pouco assustada com ar sombrio do lugar ela deu a volta pelos fundos do estabelecimento e entrou pela porta da cozinha. Tentando se manter calma ela foi em direção aos quartos e quando ela atingiu o corredor o medo tomou conta do seu coração, a escuridão era imensa e o vento gelado que percorria o corredor fazia qualquer coração parar de bater. Elvira deu um profundo suspiro e se enchendo de coragem seguiu em direção ao quarto do terror. A cada passo dado o medo aumentava com uma força maior, quando enfim chegou a porta do tal aposento, Elvira suspirou profundamente e com as pernas tremendo como varas verdes abriu a porta. Um vento forte soprou do quarto e derrepente pôde se ouvir uma voz doce e gentil a chamar Elvira:

- Elvira meu amor! Quanto tempo eu te esperei! Quanto tempo eu venho sofrendo por não te ter por perto!

- Eu sei, e é por isso que eu estou aqui! Para ficarmos juntos para sempre! Respondeu Elvira.

Os dias se passaram e com o tempo os vizinhos da estalagem começaram a sentir um forte cheiro de carne apodrecida, então alguns homens entraram na estalagem imaginando que poderia ser algum animal morto, mas ao vasculharem os quartos encontraram o corpo de Elvira deitado graciosamente sobre a cama em avançado estado de decomposição, ao lado da cama em cima da mesinha havia um pequeno pedaço de papel onde estava escrito a seguinte mensagem:

“Não se preocupem, parti em paz por favor peçam ao coveiro para que me enterre ao lado do meu amado Yvan Volk”

Fim....

Uchoas
Enviado por Uchoas em 08/02/2010
Código do texto: T2076087
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