O jardineiro

Ele sempre foi muito timido e diferente. Não se enturmava facilmente.

Tinha problemas de relacionamentos. Era um garoto problema.

O tempo foi passando e aparentemente ele melhorou.

Aprendeu jardinagem com seu avô e isso o distrai.

Se tornou mestre em esculturas com plantas, conseguia fazer tudo.

Animais, aves, castelos e outras coisas.

Era essa sua terapia.

Seus pais sofreram um grave acidente e faleceram.

Ele ficou sozinho e se fechou no casarão onde viveu com os pais.

Nunca mais saiu para exercer sua função de jardineiro.

Mas os jardins na frente do casarão era todo cheio de esculturas.

Ali era seu mundo e sua vida.

Poucas vezes se podia vê-lo nos jardins.

Falar com ele então era impossível.

Mas nunca fazia mal a ninguém.

Algumas pessoas zuavam com ele.

Mas ele nem ligava e nem respondia nada.

Saia de casa somente para fazer algumas compras essenciais e logo voltava.

Havia uma gangue de moleques que só faziam coisas erradas, e perturbavam a

vizinhança. Eram seis. Vandalos, desocupados e drogados.

Resolveram certo dia que a vítima seria o jardineiro.

A maldade: cortarem as cabeças das aves esculpidas nas plantas do jardineiro.

Combinaram e numa noite de lua cheia colocaram o plano em prática.

Pularam o muro e deceparam todas as esculturas.

Eram aves, anjos, animais e pessoas. Estavam agora todos sem cabeça.

Ao ouvirem um barulho correram para os fundos do casarão.

Quase morreram de susto ao verem um outro jardim nos fundos, mas com seres demôniacos, gárgulas, monstros alados e outras aberrações.

Mas apesar do medo e do susto, não perderam tempo, deceparam todos e fugiram na escuridão.

Amanheceu. Quando o jardineiro viu seu trabalho e sua vida sem cabeças, ficou chocado, mas não tomou nenhuma atitude, manteve-se calmo.

Ele sabia quem eram. Ele sabia.

Garotos, são apenas garotos.

No dia seguinte algo terrível ocorreu na pequena cidade.

Jogados na praça amanheceram seis corpos de garotos, amontoados e...sem as cabeças.

Uma cena dantesca, apavorante e aterradora.

Todos foram ver tamanha barbárie. Todos se perguntavam quem poderia ter feito aquilo. Era obra de um demônio. Não acreditavam que um ser humano faria aquilo.

Até o jardineiro passava por ali vindo de uma mercearia e parou para ver o que acontecia.

Quase desmaiou ao ver a cena. Teve de ser socorrido com copo de água com açúcar.

Os corpos foram recolhidos mas as cabeças simplesmente desapareceram.

Ao chegar ao casarão, o jardineiro olhou para suas esculturas que ficavam na frente do casarão sem cabeças e entrou cabisbaixo.

Voltou com suas ferramentas e as podou deixando sem formas humanas ou de aves ou animais. Apenas árvores e arbustos é o que eram agora. Apenas isso.

Olhou para elas com ar de tristeza e foi para o jardim dos fundos.

Olhou para as esculturas e sorriu, sentindo-se feliz como se tivesse terminado uma obra prima perfeita.

Alguns ainda estavam sem cabeças e prontas para serem remodeladas, mas haviam seis delas que estavam perfeitas.

Haviam perdido as cabeças sim, mas haviam ganhado novas, e perfeitas.

Como ele nunca conseguiria modelar.

E isso o deixava satisfeito.

Nunca, nunca ninguém conheceu o jardim dos fundos do casarão...

E as cabeças dos jovens assassinados também nunca foram encontradas.

Paulo Sutto
Enviado por Paulo Sutto em 05/02/2010
Reeditado em 06/02/2010
Código do texto: T2071531
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