Lua Azul. Conto II "Asas de Fogo"
Conto II – Asas de Fogo
O cemitério seria o palco ideal para aquele encontro. Deixou a brisa tocar seu corpo permitindo uma sensação de alivio cair sobre o manto de seus pensamentos. De braços abertos, olhava para majestosa Lua Cheia que brindava a noite com sua presença estelar. Tinha escolhido o Jardim da Paz por um motivo. Manter os humanos longe de seu caminho. Por sorte não existiam parentes seus enterrados ali, isso a confortava bastante. Achava aquele lugar bonito, cheio de flores sobre as covas escondidas pelo gramado baixo. Lugar possui altos e baixos com uma estrada de pedras. Caminhou até uma flor que gostava muito. Rosas brancas. Rosas brancas lembravam-na de momentos bons. Ela já as tinha ganhado de seu grande amor. Homem que a fazia sorrir em horas impróprias, que injetava coragem quando ela já nem acredita mais possuir. Dono do sorriso mais lindo que já viu. Uma lágrima seca desceu sobre a maçã do rosto, provocando nela uma sensação desagradável. Pelo fato dele não estar mais ali, por ela não saber onde encontrar um pedaço dele se quer. Ela ensaiou um choro resistindo bravamente. Olhou a sua volta certificando de que estava ainda sozinha. Desconcertada com as lembranças se afastou das rosas brancas. Caminhando para qualquer caminho, parou colocando a mão no rosto, puxando o ar para o pulmão morto, que fingiu funcionar bem. Então depois de um tempo acalmou-se, conseguindo recuperar o fôlego e o controle das emoções. Virou-se para trais quando um farfalhar mais alto do que das flores e dos pequenos pinheiros chamou sua atenção. Um homem de pele clara pousou no moro acima com suas asas de penas vermelhas. Ele estralou o pescoço o movendo para os dois lados e sorriu flexionando as asas junto de seu corpo. Vestia uma camisa marrom surrada e uma calça larga cinzenta. Seus fios negros moviam tentando seguir a leveza do vento.
- Não foi fácil te achar, sabia? – Ele gritou sorridente.
Viver como ela vivia, era apenas evitar o inevitável. Ilhina tinha os fios loiros dançando timidamente ao som do vento, seus olhos são de um azul claro profundo. Ela vestia uma blusa branca com estampas em verde de ramos com decote canoa, uma calça jeans azul e uma bota preta.
- É porque não quero ser achada. – Gritou confiante.
Ele mordeu o lábio, pensativo, depois abriu um sorriso concordando com a resposta. Estralou outra vez apenas o pescoço no lado direito.
- Vou te dar uma chance. – fez uma pausa para então finalizar. – Eu te levo de volta e ninguém precisa lutar.
Ela levou um tempo até balançar a cabeça negativamente. Isso fez o homem perder a calma. Ele espreguiçou os braços que foram acompanhados pelas asas. Seus olhos que eram pretos, deram lugar a um amarelo escuro. Ele saltou sem aviso, flexionando o braço esquerdo para trais e pousou com um joelho no chão e o punho na gramado. A força e a pressão fez a grama subir e vaso flores tombarem. Quando olhou para o lado, lá estava ela. Ele não fez questão de esconder sua irritação. As veias de seu pescoço cresceram de mostrando todo o ódio que surgia dentro de si. Esticou as asas e correu cerrando os dentes até a mesma. Ilhina bloqueou com o braço o primeiro soco, gingou para esquerda desviando de um golpe reto, por fim, faltou rasteiramente para trais fazendo o chute alto atingir o vento. Assim que ele desfez a posição de ataque relaxou os músculos até agora tensos de mais. Ficou sério por um tempo, fitando a mulher com desgosto. Ele tinha ficado mais poderoso, mais confiante e também cego e burro em achar que isso seria suficiente para vencer Ilhina. Ele fechou os olhos, no exato momento um cheiro de queimado se misturou ao ar, cheiro que ganhava força a cada segundo que passava, não demorando muito até dedar o culpado. As asas de penas vermelhas tinham virado asas de penas de fogo. Ele abriu os olhos batendo as asas lentamente, fazendo as chamas seguir o movimento das asas. Isso preocupou Ilhina pela primeira vez. Tanto que ela tirou a expressão fria do rosto trocando por uma pensativa. Ela então cerrou os punhos sumindo e reaparecendo frente ao corpo do inimigo momento exato em que seu punho atinge o nariz dele. O golpe veio com tanta força que a cabeça recebeu uma grande pressão de ar empurrando o corpo para trais. Ele voou alguns metros descendo um moro já com as costas raspando a grama indo para há mais ou menos quinze metros de distância de Ilhina. As asas deixaram pequenos focos de incêndio sobre o caminho no gramado percorrido. Sendo que no local onde estava estendido o corpo as chamas queimavam tudo a volta. Levou alguns segundo até ele arquear a cintura para frente, lançando as asas para o céu alçando vôo. Abaixo dele as chamas consumiam flores e mato. Com dor segurou o nariz torto com a mão o colocando no lugar. O sangue escuro escorria pelas narinas cobrindo todo o buço. Após um grito de dor, sentiu-se mais confortável ao perceber o nariz em seu local de origem. Quando a encarou novamente, percebeu uma luz artificial surgir moro acima deles. Preocupado apagou as chamas de suas asas apontando para luz. Ilhina assim que virou empreitou sua velocidade apegando os focos de fogo com os pés e mãos. Quando terminou, surgiu a frente do inimigo colocando dos dedos sobre os lábios e lançando os ao ar. Quando o vigia chegou até o local, encontrou o que nos seus quarenta anos de profissão não tinha visto. Um cheiro forte de enxofre no ar, pontos de fumaças e flores espalhadas e queimadas.
- Malditos jovens! – Esbravejou.
Sobre um prédio residencial. Aonde o vento era mais forte permitindo sentir os cheiros que viam de longe, estava o homem olhando para Lua, hipnotizado com sua beleza. Limpou o sangue com a mão observando o liquido escuro. O ódio subiu novamente pelo seu corpo.
- Ilhinaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa! – Gritou mais alto que pode.
Sobre a rua abandonado pela noite, caminhava uma mulher de olhos castanhos. Não parecia se importar com o silêncio macabro da rua, nem os sons bizarros que vinham do nada. Apenas seguia seu trajeto com uma calma maldita. Olhou para Lua Cheira ouvindo seu nome. Estão pela primeira vez naquela noite, ficou feliz.