Quaresma

Sua mãe sempre falou qye na época da quaresma, o inferno abre suas portas e tudo de ruim está à solta.

Ela nunca acreditou nisso.

Sempre foi rebelde. Sempre enfrentou os conselhos de sua mãe batendo de frente e fazendo exatamente o contrário.

Gostava de desafiar.

Sua mãe seguia à risca todos os costumes católicos.

Ela ria.

Numa sexta feira resolveu junto com uns amigos fazerem um baile de garagem.

Naquela cidadela de interior foi uma heresia total.

A mãe esbravejou, gritou e quase a trancou para não sair.

Mas sabia que de nada adiantaria isso.

E o baile aconteceu como combinado, poucos jovens se arriscaram a participaram.

Muita dança, muita bebida e muita farra. Uma festa diriamos, exatamente como o diabo gosta.

Nem notaram que a hora entrava madrugada adentro.

Quande se deram por si já passava das duas da madrugada.

Cada jovem foi para seu canto. Ela moarva um pouco mais distante mas disse que iria sozinha sem problemas.

Rua estreita com poucas casas, terrenos baldios, construções inacabaadas e cães andando a esmo.

Ela nota que de vez em quando um rajada de vento passa por ela arrepiando seu corpo todo. Ela parece ver vultos correndo por entre as construções e pelos terrenos baldios.

Ela sente um medo se apoderar dela quando ouve um som a acompanhar.

Ela conhecia aquele som. Da sua infância.

Um som típico de um triciclo que seu primo tinha quando criança.

E fazia um rangido de algo que se esfregava com falta de óleo.

Medo de se virar para olhar. O priminho. Não podia ser.

Ela parava e o som parava também

Seu priminho havia sido assassinado pela própria mãe que se suicidara depois.

Três vezes ela parou e o som também.

O desespero tomava conta dela e os vultos a ciracularem pareciam agora uma multidão. Fazendo sons estranhos, grunhidos, pequenos gritos, sussuros e gemiodos.

Ela parada, suas pernas travadas. Silêncio. De repente o som recomeça e se aproxima. Ela consegue andar a passos acelerados.

A impressão é de que será atropelada pelo trciclo.

Ela para novamente, mas dessa vez o som continua, se aproximando mais e mais. Ela tem medo de olhar.

Mais perto. O medo a deixa travada, imóvel, tenta gritar mas a voz não sai.

De repente ao seu lado. O triciclo com uma criança. Ela tem medo de olhar mas sabe que é seu primo.

Ele pedala e sai devagar. Bem devagar.

Ela continua ali, travada, sem ação vendo os vultos correndo de lá para cá.

Seu coração acelerado. parecendo querer sair pela boca.

Para seu desespero ela ve a criança parar e se virar e olhar para ela.

Ele está sorrindo e olhando para ela.

Seu medo aumenta. A crinaça está com olhos arrancados, somente as cavidades com um liquido negro escorrendo.

Continua sorrindo, mas aos poucos vai se desfigurando se sua boca toma formas anormais, grande e asustadora.

E com uma voz gutural lhe dirige as palavras que ela nunca mais esqueceria:

- Menina tola. porque desprezas os conselhos de sua mãe? Estamos todos soltos sim. Estamos fazendo nossa festa. Mas não vamos te fazer mal dessa vez. Pela sua mãe, que está acordada até agora ajoelhada e rezando por você.

Mas na próxima vez poderá não ter tanta sorte.

Ela só se lembra de ser encontrada no outro dia deitada na calçada em posição fetal, tremendo de frio e medo.

Ficou em trauma por alguns dias, sem dizer uma palavra.

Quando se recuperou abraçou sua mãe e disse:

- Você sabe o que aconteceu não sabe? Me perdoe.

- Sim, eu sei o que aconteceu sim, e te perdoo sim. Eu sabia que você precisava ver para acreditar neles.

- Sim, eu os vi e os senti. Agora sei.

Existem coisas que são assim.

Precisamos sentir e ver.

Paulo Sutto
Enviado por Paulo Sutto em 25/01/2010
Código do texto: T2050838
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