Azarão

Azarão

“O Dia da Pátria tem que ser brilhante. Para isso vou exigir muito de todos os meus alunos.”

O professor de Educação Física, além de desfilar nas ruas, com seus alunos precisa escolher dez para participar de uma solenidade no Palácio dos Bandeirantes, junto ao governador e demais autoridades. E, logo, no dia seguinte, estes mesmos alunos participam da competição estadual no Estádio do Morumbi.

Meses antes da competição a escolha começa a ser feita. A escola passa por reforma. Alguns caibros demarcam a quadra. Uma corda é fixada por prego em cada caibro. Professor Wilson não gosta da improvisação.

O segundo colegial B se movimenta na quadra. Os alunos são conhecidos pela competitividade. Na sala de aula os troféus conquistados deixam alunos, direção, pais, professores orgulhosos. Toninho é visto como o azarão da turma. No último jogo de basquete falta apenas um segundo para o time ficar campeão, Geraldo, o pivô sofre falta, se machuca. Professor Wilson pede para Toninho substituí-lo.

O juiz considera uma falta antidesportiva. A falta foi muito grave. O jogador foi contra o espírito esportivo ao jogar a bola de propósito, e, com muita força sobre o Geraldo. Com isso, o time ganha dois lances livres, mais um lateral de ataque. O placar está 65 a 64. Toninho se prepara para o arremesso. Respira e erra o primeiro lance. Respira e erra o segundo lance. É vaiado. Força a barra no lateral e entrega a bola para o adversário. O relógio zera o tempo. A partida foi perdida.

Ruim no basquete, excelente na matemática. Ganha a olimpíada municipal, regional, e logo a seguir, a estadual. Medalhas no peito. A direção, como prêmio, o escolhe à vaga como reserva no time de futebol. Em todo o campeonato não saiu uma única vez do banco de reservas. A escola arrebenta e fica primeira na chave.

Último jogo do campeonato uma série de contusões graves acontecem. Barão de Rezende Futebol Clube está à frente. O time da escola adversária consegue marcar um gol e empata a partida. Intervalo do jogo, o professor recorre a Toninho para entrar jogando no segundo tempo. A partida recomeça. Inacreditável, Toninho recupera a bola, dribla um, dribla mais dois jogadores adversários, e chuta para o gol.

Gooooooooooooooooooool! Uns gritam em estrondosa alegria, outros tampam os olhos para não ver! O gol foi contra! Rezende Futebol Clube não consegue mais se recuperar e perde o jogo e o campeonato.

Mas, voltando à escolha para o Dia da Pátria...

O professor explica uma das provas:

“Vocês erguem o saco de areia de 40 quilos correm ao outro lado da quadra e o coloca no chão! Vou cronometrar o tempo da corrida de cada um!”

Os alunos competiam. Toninho ergue o saco com muita dificuldade, cambaleia. Apruma o corpo, mas, cambaleia de novo. Quase cai. Vai para um lado e para o outro.

“Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii. Ai, ai, ai.... Rasguei o saco! Professor, eu rasguei o saco.”

“Deixe ele aí mesmo no chão, que já vou providenciar outro.”

“Ai, socorro. Não! Não, rasguei o saco de areia, mas, o meu saco! Socorro!”

Todos, então presenciam uma cena dantesca; a calça e um pedaço do saco de Toninho ficam enroscados no prego do caibro da marcação da quadra. Ambulância, hospital e oito pontos dados no saco de Toninho!

PS: publiquei como conto de terror, pois foi um terror o que aconteceu com o Toninho.