O cão branco
Em dias de verão sempre me sentava à noite na calçada para tomar um ar fresco.
Percebi que sempre aparecia por ali um cão branco, totalmente branco. Um viralata.
Era um cão feliz, sempre abanando o rabo. Andava de um lado para outro. Agitado.
E quando me distraia já não o via mais. Como por encanto sumia. Mas isso não me preocupava, pois ele sempre aparecia do nada mesmo.
Certo dia me decidi a ficar atento e a segui-lo.
Me sentei na calçada como sempre e não demorou lá estava ele, circulando como sempre.
O chamei, ele só olhou e deu o sorriso e abano de rabo.
Ficou por ali e não tirei os olhos dele.
Notei que ele estava mais agitado do que o normal, parecia que percebia que eu não tirava os olhos dele.
Me encarou e saiu como se me chamasse.
Me levantei e fui atrás dele ligeiro.
Circuloi, andou, andou e olhava para trás à vezes.
De repente, para em frente de uma casa abandonada, dá mais uma olhada para mim e adentra à casa.
Tive um certo calafrio pela hora mas entrei.
Andei pelos cômodos mal cheirosos. Nada. Só um cheiro de morte, de abandono.
Como já avançava a madrugada, resolvi ir embora e voltar outro dia e descobrir algo sobre a casa abandonada.
No outro dia quando voltei, para meu espanto não havia mais uma casa abandonada. Só um terreno com restos de uma casa destruída, tijolos e telhas amontoados.
Fiquei pasmo e devo ter mudado de cor. Senti um mal estar. Uma senhora me perguntou se eu estava bem.
Perguntei a ela sobre a casa demolida.
Então ela me falou que faziam 6 meses que a casa abandonada fora demolida, depois que vários mendigos foram assassinados dentro dela. Mas ninguém conseguiu explicar os motivos do crime.
Fiquei calado olhando o nada.
Por fim perguntei:
- Por acaso algum desses mendigos tinha um cachorro?
Ela pensou por uns instante e respondeu:
- Bem, já que falou nisso, na verdade havia um cão que acompanhava um deles sim.
Só um vira lata muito branco, mas porque a pergunta?
Dei um sorriso sem graça e lhe respondi:
- Por nada não. Nada não.
Voltei para casa.
Naquela noite o cão branco não apareceu.
Mas às vezes ele aparece, mas parece menos agitado, circula, me olha e vai embora.
Mas nunca se aproxima muito.
Ele sabe que sei seu segredo.
Nosso segredo.