O escravo sexual
Não me arrependo de tudo que passei, acredito até que faria tudo de novo, não por loucura, algo mais como sentir uma tensão elétrica percorrendo todo o meu corpo, uma adrenalina intensa que encheu cada espaço vazio do meu corpo, uma loucura que durou apenas uma semana. Não guardo mágoas daquela pessoa, só espero que ela tenha saído desse negócio, mas duvido muito, nasceu dominadora e para sempre será. Quero relatar sobre a semana que passei, a fuga do inferno, quando quase perdi minha vida, minha família nunca soube que passei por isso. O inferno todo talvez tenha começado por conta de um mísero sanduíche, na verdade comi mais que um sanduíche, mas confessei apenas ele, o que talvez tenha sido o meu erro.
Minha faculdade é um saco, quando comecei pensei que fosse ser uma coisa, mas era completamente outra, não investiguei direito e acabei me frustrando, o que salva é morar sozinho, meus pais são de outra cidade, mas me enviam dinheiro suficiente para alugar essa pequena casa, pagar a faculdade e minhas despesas pessoais. Embora ache um porre as aulas, o ambiente acadêmico é muito interessante, altas festas, churrascos, orgias, um tempo excelente para a diversão, um tempo que iríamos sentir falta para sempre. Foi em uma dessas festas que eu conheci a “princesa dominadora”.
- Deixa que eu pago a bebida. – Ela se ofereceu.
- Me acompanha nesse drink?
Confesso que não sei o que aconteceu para que eu aceitasse a sua oferta de drink, ela não fazia o meu tipo de mulher, era loira, nunca de loiras, era gorda, nunca gostei de gordas, mas acho que fiquei fascinado com o seu sorriso. Era um sorriso genuíno, envolvente e ao mesmo tempo misterioso, olhando melhor, ela tinha um rosto muito bonito e era bastante simpática, ficamos um bom tempo conversando, até que ela veio com a proposta:
- O que acha de ser meu escravo sexual por uma semana?
Caramba, essa pergunta tinha me pego completamente de surpresa, até cheguei a engasgar com a cerveja que descia pela minha goela. Uma pergunta direta exigia uma resposta direta, mas o assunto em questão era bastante complicado, não era com “sim” e “não” tão fácil, queria saber um pouco mais como isso funciona, perguntei:
- E o que realmente um escravo sexual faz?
Antes de responder, ela levantou a saia, pegou a minha mão e colocou em seu órgão sexual, aquilo tinha me deixado louco.
- Você irá me alimentar, realizar os meus desejos, fazer amor na hora que eu quiser, irá me obedecer e respeitar em tudo, você será totalmente meu por uma semana, depois disso eu liberto você.
Pessoas loucas no mundo se tem aos montes, porém os mais loucos são os que caem na loucura dos loucos. Estava um pouco cansado da rotina, mesmo adorando a baderna, estava precisando de alguma coisa diferente, acabei embarcando na idéia. Ela anotava o endereço em um guardanapo, nem esperou pelo meu “sim”, parece ter o dom de escolher as pessoas certas, aquelas que certamente não vão rir ou sair de perto falando mal. Ela apostou em mim e acertou em cheio, me esperava no dia seguinte, não me contou o seu nome, disse que eu devia chamá-la de princesa mistério sempre me intriga.
Em casa fiquei pensando, ela não tinha me feito nenhuma recomendação, na verdade eu ia praticamente as cegas, ia colocar algumas roupas, meus livros da faculdade e algumas conveniências na bolsa, não sei se é para voltar em casa de noite ou dormir lá, amanhã iria saber.
Eu não tinha a mínima idéia do que iria ocorrer, tinha em mente que poderia desistir a qualquer minuto se não estivesse gostando da situação, mas não foi bem assim que as coisas correram, na teoria tudo é sempre mais fácil, na prática você sempre descobre da pior maneira.
Era uma casa bonita de dois andares, muitas janelas trancadas de madeira, duas pilastras em estilo jônico, pelo menos acho que seja, não era bom em artes. A cor da fachada era de uma tonalidade marrom, degraus em mármore, um quintal magnífico com buxinhos podados em formas de anjos, uma casa realmente bastante aconchegante por fora, restava saber por dentro.
Quando ela abriu a porta, trajava um robe transparente e dava para ver que não usava nada por baixo, seios volumosos, uma semana de sexo grátis, na hora que eu quisesse, pensamento iludido, ela começou me puxando para dentro da casa.
- Tira logo suas roupas! – Ela falou em tom de exigência.
Fiquei um pouco espantado, mas aquilo era uma brincadeira de senhora e escravo, por uma semana eu teria que obedecer. Fui lentamente tirando as roupas e ela me olhando impaciente, assim que eu terminei, ela me estendeu uma coleira e me obrigou a colocá-la, não me sentia humilhado, confesse que não, estava começando a entrar naquele jogo, que com o tempo iria se transformar em jogo doentio.
Nesse primeiro dia passei por umas situações simples, porém embaraçosas. Primeiro, quando eu senti sede, fui me levantar para pegar um copo com água, ela foi tirando essa idéia da minha cabeça, eu só poderia beber água quando ela deixasse, tentei rebater e reclamar, mas ela foi logo me dando uma chicotada, aquele pequeno chicote de couro quando sibilava era um martírio, doía demais e ainda por cima deixava marcas. Agüentei algumas horas até que me deixasse beber um copo, ela me trouxe, mas não deixou mais que isso, mas tudo bem, em breve estaria partindo para as minhas aulas, lá poderei beber e comer o que quisesse.
Quando anunciei que iria partir para a aula, ela ficou desesperada, não queria permitir que eu fosse, estava perdendo o controle, tratei de acalmar a minha princesa, disse que estaria de volta de manhã cedinho sem falta. Ela estava duvidando de mim, mas pediu que eu continuasse obedecendo, durante esse período eu não poderia beber e nem comer, não entendia o motivo dessa exigência, não fazia o mínimo sentido não comer ou beber.
- Vá meu bebê e volte para a sua princesa. – Falou isso e me deu um beijo no rosto.
No primeiro minuto de liberdade, me senti um pouco aliviado, ao mesmo tempo em que queria voltar, não tinha desfrutado ainda das coisas que tinha em mente, não tínhamos feito sexo e nenhum tipo de perversão sexual, o máximo que tinha feito nesse primeiro dia foi ter assistido a filmes horríveis e beijado seus pés, essa era uma exigência que ela me pedia a todo instante, ela é muito cismada com os pés, adora ser acariciada e sentir a língua entre seus dedos, adorava uma massagem, do calcanhar até a ponta dos dedos, muitos mimos também na hora de alimentar. Sorvia uma colherada cheia, tinha que limpar sua baba que escorria pelo queixo, enquanto mastigava lentamente, apreciando o paladar, se eu demorasse muito em servir, lá vinha a chicotada. No meio da primeira refeição, já tinha pego o tempo, me esquivando assim da surra.
As coisas ficaram complicadas a partir do segundo dia, confesso que abusei das horas em que estive fora: Cerveja, hamburguer, muita fritura, algo que a tirou do sério. Obviamente não contei para ela que tinha comido no tempo em que estive fora, mas foi a primeira coisa que ela me perguntou, neguei. Pouco depois, quando ela me agarrou e me deu um beijo na boca, percebeu que a enganei, me deu um empurrão, caí sentado no chão, ela se aproximou, me defendi quando ela falou muito brava:
- Você traiu a sua princesa, estou de mal, vai demorar um pouco para conquistar a minha confiança, se é que conseguirá.
Argumentei que estava faminto e que tinha comido apenas um sanduíche, mas ela não quis me dar ouvidos, foi logo me colocando uma algema e me prendendo a um grande armário na sala, por mais que eu me esforçasse, não conseguia mover aquilo nem por um centímetro, fora que machucava os pulsos. Depois de algumas horas ela veio me soltar, unicamente para que eu desse comida em sua boca e acariciasse seus pés, uma hora inteira fazendo massagem, ela se deliciando com a situação, conta o êxtase em que ficava, nessa hora tentei me aproveitar e retirar suas roupas, estava excitada, mas ela voltou ao controle, me empurrou, disse que não queria e que não era para eu tentar de novo, obedeci.
Nessa mesma noite, enquanto ela assistia televisão, percebi algo se rastejando em sua direção, estiquei o pescoço para ver o que era, da onde eu estava não conseguia ver nada, apenas escutava alguns sussurros. Seja lá o que tivesse sido, sumiu de vista, só saberia o que era uma hora mais tarde. Se aproximou de mim, sussurrou algo para que eu acordasse. Acordei assustado, ele me fitava, era um homem muito branco, denotando que não pegava sol a muitos anos, fora que era muito magro também. Me trouxe um prato de comida, muito pouca comida. Um punhado de arroz, cenoura, cebola e tomate, tudo ralado e em uma quantidade muito pequena, como avidamente, após terminar a refeição, me deu um copo com suco de laranja pela metade, bebi em um gole.
- Continuo faminto, não tem como repetir?
- Sou apenas um escravo, obedeço ordens, infelizmente isso é o máximo.
Falando isso saiu apressado para a cozinha, eu ainda não conhecia a cozinha nessa altura. Ele andava de quatro, com os braços e pernas esticados, parecia um caranguejo, uma aranha, algo bem estranho de se ver. Como assim um escravo? Achei que fosse o único, senti uma pontada de ciúmes. Mais tarde quando ela apareceu, queria que eu lhe desse comida, a ceia, perguntei a ela:
- Quem é esse cara?
- Rodolfo, meu escravo.
- Achei que fosse o único. – Falei fazendo doce.
- Ele é o mordomo e meu escravo permanente.
Ela me agradeceu a ceia com algumas chicotadas e me deixou algemado, tive que dormir preso. Durante a noite parece que ouvi alguns gemidos distantes, alguns “psiu” e o sibilar do chicote da princesa. Achei que fosse apenas imaginação, mas foi assim também nas noites seguintes.
Mas a ação ocorreu no último dia, logo pela manhã murmurei se seria solto hoje, ela confirmou com um fraco “sim”, para logo em seguida gritar um: “cale a boca”, fiquei quietinho, contei os minutos. Quando você pára para contar o tempo, o maldito fica fugidio, esquivo, as horas distantes se escondem atrás da névoa, sendo impossível encontrar, o único jeito era deixar para lá, ele iria encontrar você na mesma. Meus pais deviam estar preocupados com o meu desaparecimento, meus amigos da faculdade também. Estava magro, me sentia tonto e fraco, meu pulso estava em carne viva, meu corpo carregava as marcas das chicotadas. Entrei nessa pela oferta de sexo grátis e só encontrei sofrimento. Pouco depois das 20 horas, era a hora em que solto, o mordomo vinha se “rastejando”, no seu andar aracnídeo peculiar, era a hora em que fazia minhas necessidades e tomava uma ducha. Enquanto usava o toilet, percebi que a princesa o tinha chamado, deixando assim de guardar a porta do banheiro, não entendia o motivo de tanta precaução, seria o dia da minha libertação. Saí do banheiro e andei me esgueirando pelo corredor, escutei sussurros vindos da porta trancada do seu quarto, coloquei meu ouvido na porta e o que escutei me deixou de cabelo em pé.
- Assim que sair do banheiro, você o captura e leva para o calabouço.
- Sim, senhora.
Calabouço? Calabouço? Não conseguia parar de repetir mentalmente essa palavra, um calabouço, eu seria levado pata um calabouço, mas que tipo de loucura é essa? E aonde seria esse calabouço? Isso explicaria as vozes de murmúrio que eu ouvia todas as noites? Decerto, só sei que as coisas passavam pela minha cabeça de modo atropelado enquanto tentava achar um meio de fugir dali. Não demorou muito e a porta do quarto se abriu, procurei pelas minhas calças e não a encontrei, embora naquele momento estivesse consciente que brigava pela minha vida, não poderia sair correndo nu pela rua, embora eu soubesse que isso iria acabar acontecendo. Escutei um grunhido, o mordomo se lamentava pelo meu sumiço, notei que ele vinha se aproximando, com aquele seu andar de aranha, corri para o lado oposto, o lado da cozinha, nunca tinha vindo para esse lado, mas o mordomo trazia a comida por esse lado. Deduzi comigo que todas as cozinhas dão acesso a rua, uma espécie de porta dos fundos ou lateral, quebrei a cara, ali não tinha nada, tentei abrir as janelas e não consegui, tinha uma porta que julguei ser da despensa, resolvi espiar para ver se encontrava alguma coisa.
Atrás da porta, para a minha surpresa, tinha outra porta, curioso a abri, a porta dava acesso a uma escada, no fundo eu conseguia enxergar uma luz bem fraca e ouvir pessoas murmurando, se lamentando da má sorte, devia ser o calabouço, eu deveria ter voltado, mas a curiosidade falou mais alto, o mistério, tinha que desvendar o mistério. Desci lentamente me apoiando na parede, pé ante pé até entrar na câmara, naquela alcova demoníaca. Um cheiro forte de excremento bateu fundo em minhas narinas, fiquei enjoado com o cheiro, mas o pior foi o que meus olhos viram. Pessoas, três pessoas acorrentadas, magras, esqueleto puro, não sei como conseguiam respirar e emitir ruídos lamentosos, buracos no olhos de olhos, cicatrizes recentes, foram extraídos a pouco tempo, muito ferimentos de tortura ao longo do corpo, tradicionais cortes do chicote. Tinham os lábios ressecados e cortados e em um pequeno vislumbre, percebi que um tinha a língua cortada. Quando me aproximei um pouco mais, pude notar que eles se agitaram, fiquei com medo, um irracional medo de que aquelas correntes se soltassem e eles pulassem em mim.
“Plac”, um grande estalo da corrente, pulei de susto, antes de ir embora vi chocado, não tinha percebido ainda, mas lá estavam as correntes, esperando o seu mais novo morador. Aqueles três corpos gemeram alto, bem alto agora, parece que pediam ajuda, pouco podia fazer por mim, que dirá por aquelas pessoas, subi as escadas correndo. Ouvi barulhos na cozinha, devia ser aquela criatura esquelética, hesitei em abrir a porta, mas na cozinha eu teria mais chances de escapar, naquele antro eu seria uma presa fácil. Quando me lancei correndo pela cozinha, ele já estava ali parado, tinha em mãos um porrete, fiquei circulando a mesa de jantar, ele embora andasse de quatro, era bastante ágil, ficamos naquele jogo de roda até ele se cansar e saltar em cima de mim, consegui com um reflexo rápido me esquivar da pancada que estremeceu a mesa. Corri porta afora, quando cheguei na sala a porta estava trancada, sem sinais de ver a chave, as janelas trancadas, não consegui abri-las, a criatura novamente se aproximando, sibilando, olhos exalando perversidade, agora estou cercado, a princesa vem descendo as escadas, exibia um imenso punhal.
Fui andando para trás, rezando por um milagre, quando a morte ou então o pior, aquele confinamento estava se tornando inevitável, o milagre chegou. A luz acabou, sabia mais ou menos aonde estava localizada a escada, dei um pulo no sofá e corri para as escadas, consegui dar um empurrão na minha princesa, mas essa ação não foi totalmente um sucesso, a lâmina do seu punhal se arranhou na altura da cintura. No segundo andar fui tateando até encontrar o quarto que julguei ser o dela, a janela estava aberta, não tive dúvidas em pular.
Poderia ter esmiuçado o que aconteceu depois, fugi mancando pelas ruas, pulei em um quintal para roubar uma camisa e uma bermuda, uma velhinha segurando uma vela me viu e ficou chocada. Mas tudo isso é sem importância, poderia ter contatado a polícia, mas como iria explicar a constrangedora situação, minha família sabendo de todo caso, meus amigos da faculdade, nem pensar. Agora, consultando sites na internet, estou em busca de outra dominadora, espero dar sorte dessa vez.