Cobras
Cascavel, coral, jararaca, jararacuçu, jibóia, sucuri, surucucu, e muitas outras espécies, se mostram lânguidas, além de expor suas peçonhas para todos os passantes. Benedito todo dia presencia uma por uma. Passa longe delas, mas, à noite quando vai dormir...
Sonha com seus onze filhos transformados em bestas_ cobras. Corpo de cobra e cara humana. O homem acorda aos berros. A mulher houve sobre o pesadelo. “Dito, suma, mas, suma mesmo, com essas cobras, o mais rápido possível Tô cansada de acordar todos os dias com seus berros. Quem vai ter um siricutico qualquer hora, e morrer do susto vai ser eu!”
Dia seguinte logo de manhã decidido Benedito bate na porta: “Entra!”
A sala prima pela limpeza e pela ordem. Uma escrivaninha Inglesa do século XIX escancara as suas quatro gavetas repletas de papéis, parece que estão sorrindo para quem entra na sala.
“Bom dia! O senhor me desculpe, mas preciso dialogar um pouco.”
“Bom dia! Pois fale!”
Benedito, um homem calmo de fala pausada coçou a cabeça e resmunga: ”Hummm! Por onde, que começo!”
“Ué do início. Vamos fale homem tenho um dia muito agitado. Fale!”
“Bem! O senhor sabe que tenho pesadelos há um ano com cobras. Acordo todo dia berrando, que nem nenê desmamado!”
“Ah! Já sei! Você precisa entrar mais tarde para ir consultar um psiquiatra?”
“Não! Não! O senhor se recorda do Jurandir?”
“O professor de Biologia que morreu atropelado pelo carro do zoológico?”
“Este mesmo! É que pouco antes de ser atropelado o homem foi na minha sala. ”
“Sei, sei!”
“Ele levou uns vinte vidros daqueles que ele tinha na sala de biologia.”
“Sei! E daí...!”
“É que os vidros tão cheios!”
“Cheios? De que?”
“Pois é, cada um deles tem dentro uma cobra.”
“Mas, elas estão mortas, Benedito!”
“Sei, mas elas assustam. Fico pensando na morte do professor debaixo das rodas do carro do zoológico. Isto é mau presságio! Será que o senhor não poderia me ajudar a jogar todo o bando num terreno baldio? Só assim posso dormir em paz!”
“Coloque todas em sacos e vamos providenciar a desova.”
“De? O quê?”
“Desova é o mesmo que jogar fora.”
“Obrigada, senhor Diretor!”
Na manhã do dia seguinte onze sacos de estopas recheados de serpentes esperam os dois na caminhonete do diretor. Saem à procura de um terreno para arremessá-los. Várias tentativas foram feitas, mas o trânsito de automóveis e pedrestes frustram os dois homens da jornada. Quilômetros se passam e a zona urbana fica para trás.
Avistam uma fazenda. Desligam o motor e arremessam os sacos. Conseguiram!
No dia seguinte o jornal da cidade estampa na primeira página: ”COBRAS SEQÜESTRADAS NO BUTANTÃ INVADEM A CIDADE!”