O Relógio

Carlos e Humberto eram dois irmãos com certas divergências.

Humberto sempre muito religioso, fazia suas orações antes de dormir.

Carlos zombava dele por ser ateu.

Dizia para que deixasse de perder tempo e fosse dormir pois tinham de trabalhar no dia seguinte.

Vindos do interior agora trabalhavam como operários em obras na capital.

Dividiam um pequeno quarto numa pensão de quinta categoria.

Humberto nunca retrucou as chacotas do irmão.

Mas não ficava feliz, pois em sua crença sabia que Carlos estava errado.

Um dia cansado de ouvir os insultos do irmão, Humberto rompe relações e vai morar em outro canto da cidade.

Pega suas coisas que não eram muitas.

Carlos não tentan impedi-lo, mas sente uma dor, um sentimento ruim.

Mas seu orgulho não o deixa pedir desculpas.

E uma úlitma vez zomba de Humberto.

Humberto então o alerta para que deixe de ser zombador com coisas sagradas.

E faz um trato com ele de que quem morrer primeiro avisará o outro se existe ou não o tal céu.

Carlos cai na risada e se despede.

Humberto vai embora.

Deixa para trás um relógio quebrado na parede que a muito não funcionava mais.

O relógio fica lá por muitos anos.

Às vezes eles ainda se falavamm por telefone, ou mesmo se cruzavam pelos botecos e mercados da vida.

Muito tempo se passou, e cada um dos irmãos viveu sua vida.

Numa noite de inverno, Carlos acorda assustado com 10 badaladas.

O relógio que permanecerá imóvel por tantos anos o desperta. 22 horas.

10 badaladas, 22 horas é o que marca o relógio quebrado.

Um arrepio sobe todo seu corpo.

Ele não consegue mais dormir naquela noite.

Sozinho como sempre foi, fica a perambular pela casa.

Se lembra de Humberto, da promessa, mas não acredita nisso.

O dia chega e o telefone toca desesperado.

Ele atende. A esposa de Humberto no outro lado da linha.

- Bom dia Carlos. Somente para te avisar que seu irmão faleceu. Teve um infarto fulminante.

Atônito e quase sem conseguir falar :

-Como? Quando? ......

-Ontem à noite, por volta das 22 hs.

Nada mais se ouviu. Apenas o silêncio e um certo medo.

Humberto estava certo.

(adaptação de uma música sertaneja bem antiga)

Paulo Sutto
Enviado por Paulo Sutto em 31/12/2009
Reeditado em 31/12/2009
Código do texto: T2004484
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