O Maior dos Medos
Ele vinha exuasto, afinal trabalhara o dia todo, nem lembrava mais do gosto do café com pão e margarina que comeu antes de sair, também isso foi a quase treze horas atrás. Durante o trajeto do rotineiro coletivo que pegava para retornar a sua residência, reparou as pessoas que estavam sentadas, atentas e aflitas lendo jornal, as que não tinham, estavam com as cabeças de lado sequestrando as letras do jornal do seu companheiro de assento, até as que estavam em pé, apertadas com a casual falta de espaço e excesso de passageiros se expremiam para tentar captar aquelas tão valiosas informações do jornal, o homem estranhou, nunca tinha visto tanta procura por informação e cultura. Não se preocupou, desceu do ônibus e com passos desmotivados caminhou para casa, mas antes passou pelo açougueiro, padeiro, o cara do mercadinho, o cara que vendia gás, no bar da esquina, casa lotérica e por ultimo procuraria pelo dono da casa onde morava, quando se dirigia para seu ultimo destino antes do retorno ao lar, reparou que as pessoas estavam em alvoroço, parou em frente a uma loja de eletrodomésticos e viu na televisão que o aquecimento tinha chegado ao ápice, as geleiras haviam derretido causando o avanço do mar em locais próximo ao mar, ele deu com os ombros e seguiu seu caminho. Chegou em frente a casa do dono da casa onde morava, chamou-o, o dono da casa onde o homem morava apareceu, perguntou o que ele queria, o homem disse que era o óbvio, o outro homem desceu e recebeu o que o homem lhe entregou, porém estava intrigado por que o homem que morava na casa que era sua, estavava tão calmo mesmo com tudo que estava acontecendo e lhe disse:
- o mundo aqueceu, as geleiras derreteram e o mar vai engolir nossa cidade e você ai? não tem medo do fim do mundo, não?
Ele olhou para o homem que fez aquela pergunta, olhou para trás relembrando todo percusso que fizerá até ali: 55 para o açougueiro, 20 do padeiro, 90 do cara do mercadinho, 35 do cara do gás, 37 do bar da esquina, 127 na lotérica(águas, luz, telefone), lembrou também das ultimas notas que acabara de entregar para aquele homem a sua frente e sem pensar respondeu:
- Tenho medo do final do mês!
Então virou-se e foi em direção a sua casa(que era alugada), preparado para enfrentar sua esposa o chamando de imprestável, que deveria mudar de emprego, afinal de conta como se pode viver com uma miséria de salário. O único alento era que séria a ultima reclamação da sua mulher, ultimo ônibus lotado, ultima decepção ao ver o contra-cheque, o fim dos tempos, o ultimo fim de mês da sua vida.