A árvore da calçada oposta
Sentado na sua calçada ele sempre ficava.
Altas horas. Noites de calor.
Poucas pessoas circulavam por ali.
Alguns amigos às vezes apareciam e se sentavam, trocavam palavras, riam e acabavam indo pra casa.
Era um rotina.
Mas naquela noite seria diferente.
Ele saiu, sentou-se na calçada e ficou ali sem nada para fazer.
A noite estava escura.
Havia uma árvore na calçada oposta e um pouco acima de onde costuma se sentar.
Ele nunca havia notado o tanto que ela crescera. Seus galhos tocavam a fiação elétrica.
Aquela noite seria diferente. Mas ele não tinha a mínima noção disso.
As horas foram passando. Ele lá, sentado, pensamentos ao vento.
Vento que começou a balançar a alta árvore.
Um detalhe. Ele notou que a grande árvore se agitava ao vento.
Mas somente ela, as outras permaneciam imóveis.
Como que assustadas. Com medo.
Ele se assusta, a árvore parece aumentar de tamanho.
E balança muito ao vento inexistente.
Sente medo, mas continua imóvel sentado na calçada.
De repente, luzes aparecem por entre as folhas.
Não. Não são luzes, são olhos que brilham como luzes.
Vários pares de olhos aparecem e ficam a olhar para ele.
Imóvel como as outras árvores e com o mesmo medo estampado no rosto.
Ele sente que os olhares se aproximam dele, como se a árvore estivesse chegando mais perto.
A luz aumenta e de modo assustador o suga para o interior das folhagens.
A árvore volta à sua posição normal, os olhos de luzes se apagam devagar.
Sem vento para a balançar.
O dia amanhece e somente a árvore está lá.
E o cara da calçada nunca mais apareceu nas noites de verão.
Bem, na verdade ele só mudou de calçada.
Ainda está lá, sempre está lá.
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