A Alma Corrompida do Diabo
Não era fácil viver naqueles dias de puras trevas e escuridão, sangue e fuga, era tudo muito terrível.
Eu ainda lembro-me de quando eu era criança, meu pai estava nasala vendo TV, minha mãe estava fazendo tricô, minha irmã estava brincando com suas bonecas Barbie, sentada com seu sorriso lindo, tinha apenas cinco anos, eu tinha oito, mas ainda lembro como se fosse ontem, dez anos não mudam muito, as lembranças ficam gravadas na mente para sempre, a dor, a doença...
Ela estava brincando com as bonecas, foi tudo muito rápido, minha mãe parou de fazer seu tricô, ficou paralisada, minha irmã começou a tremer e minha mãe chorando, largou o tricô e correu para ela, meu pai deu um salto do sofá e pegou ela no colo, eu fiquei parado olhando, sem saber o que fazer, o que estava acontecendo, vi as lagrimas da minha mãe, do meu pai e comecei a chorar também, eles não disseram nada, apenas entraram no carro e saíram, fiquei em casa sozinho, não sei quanto tempo foi que fiquei sozinho, mas quando meu pai voltou ele disse que minha irmã estava doente e iria ficar uns dias no hospital, acreditei, não poderia fazer nada, não sabia de nada.
No dia seguinte fui visitá-la no hospital, quando entrei vi seu corpinho magro e fino, branco como perola naquela cama de hospital, ela sorriu para mim, sorri também, as lágrimas escorrendo, cheguei perto e ela me estendeu a mão, segurei sua mãozinha, estava fria como gelo.
- Como você esta maninha? – Perguntei, ela não chorava, apenas sorria. – Você esta bem?
- To sim, to bem por enquanto, mas não por muito tempo.
- Como assim? Por que não por muito tempo? O que você tem?
- Não sei, mas logo vou sair daqui, você vai ver, logo vou estar em casa...
E foi assim mesmo, dois dias depois ela estava em casa, sorrindo e brincando comigo novamente, eu estava feliz por ter minha irmã de volta, mas havia algo ali que eu não sabia, algo que ela não queria me contar, algo que meus pais sabiam e não me contariam também, ou algo que eles mesmos não sabiam.
Três meses depois ela me chamou num canto da sala, estava segurando um livro, me sentei de frente para ela, ela não sorria, perguntei o que queria e ela começou a ler a bíblia, até onde eu sabia não sabia ler tão bem daquele jeito, ela ainda trocava as palavras, mas naquele dia, naquele momento ela lia perfeitamente bem, leu o primeiro capitulo de Genesis e o ultimo de Apocalipse, disse que era o inicio e o fim, não tinha meio naquilo, e foi apenas aquilo naquele dia.
Dois meses depois, ela já estava com seis anos, me chamou para o quintal, debaixo do pé de laranja, ela estava segurando uma, mas não havia laranjas no pé, nem em nenhum canto da casa, ela estava sorrindo, até ali tudo bem, quando me aproximei vi que seus olhos estavam negros, totalmente negros.
- O que é isso? Por que seus olhos estão negros assim? O que aconteceu com você?
- Calma, já vai acabar, venha comigo, venha. – Ela segurou minha mão, sua mão estava gelada como um cubo de gelo, sua mão era dura como pedra, ela ainda sorria. – Já vai acabar eu prometo.
Ela me levou até a piscina, sentou-se com os pés na água, fiz o mesmo, ela abriu a bíblia novamente, pediu para mim segura-la e não largá-la por nenhum motivo, fiz o que me pediu, ela se levantou, não me preocupei, mas estava com medo. De repente senti suas mãos frias nas minhas costas, senti a força de seu empurrão sobre mim, quando dei por mim eu já estava dentro da piscina, eu não sabia nada, a piscina não era funda, mas naquele momento era funda como o oceano, tentei subir, mas a bíblia estava presa em minhas mãos, como se estivesse colada, não sentia mais a respiração, senti meu cérebro sendo encharcado pela água, não vi mais nada.
Quando acordei, fiquei sabendo que minha irmã estava morta, havia entrado na água para me salvar, me tirou da piscina e não saiu, meus pais disseram que quando chegaram a cena, havia uma mancha negra boiando na água que sumiu do nada, acabei descobrindo que era a força do diabo, o demônio possessivo, buscando uma alma inocente para ser corrompida...