Memento Mori

Ela veio negra como a noite, lambendo o chão com seu manto negro, arrastando seu cajado em forma de foice. Ela veio mansa e risonha, acenando com seu véu de trevas para mim, ela veio e se foi rapidamente, levando consigo minha alma, apenas sussurand... Memento Mori!

Eu nunca fui de sair com minhas amigas para baladas e afins, sempre fui mais caseira, preferia ficar em casa lendo um bom livro, adorava livros de terror, amava todos os do Stephen King, era meu mestre, tambem gostava dos contos de Poe, eles me inspiravam para poder escrever também coisas bonitas, coisas de morte. Nunca fui muito popular na escola, minhas roupas pretas não eram nada catalogado como conceito de moda, uma calça e uma blusinha preta básica, cabelo liso e escorrido, unhas sem pintar, e um all star no pé, eu era a estranha para muitos, uns me chamavam de Vandinha Adams, um dia resolvi dar uma lição em um dos idiotas que me chamavam assim, foi atras da escola, perto de um barranco, marquei um encontro com ele lá, foi romantico, lindo e sanguinareo.

Marcamos atras da escola, ele já estava lá quando cheguei as três horas da tarde, estava sentado no barranco, cheguei e me sentei ao lado dele, ele me olhou dos pés á cabeça, eu estava de vestido branco, sem maquiagem, cabelo solto e unhas vermelhas, totalmente diferente do comum.

- Você, esta bonita hoje sabe, você deveria se vestir mais assim, mais arrumada.

Ele sorriu para mim, tinha um sorriso lindo, mas não merecia sequer um sorriso meu, não merecia nada de bom que eu pudesse dar a ele ou qualquer outro.

- Você acha? – Respondi com outra pegunta, eu não queria saber se estava bonita para ele. – Não me importo se estou ou não. Agora me diga, por quê você veio me encontrar, logo você que me rega peças, que me batizou de Vandinha Adams?

- Não ligue para isso, é só brincadeira, agora venha cá, não viemos para cá por nada não é mesmo?

- Sim, não viemos mesmo. – Falei sorrindo, tentei dar o melho sorriso, estava perto agora. – Você lembra aquele dia em que você colocou um recorte no meu armario, não sei como você conseguiuo abri-lo, não importa agora. Mas você lembra quando você colocou uma imagem da Vandinha com um balão com ela falando “Vandinha Manda Lembranças”, lembra não lembra?

- Lembro, mas foi apenas uma brincadeira... Venha cá, vamos brincar agora...

Ele se levantou e me agarrou pelo braço, me colocou de frente para ele, apertando meu braço, ele sorria, um sorriso malicioso, sorri tambem e agi. Peguei a faca presa na bota que estava usando por debaixo do vestido e enfiei em seu peito, ele me largou, dando uns passos para trás, não demorou muito e caiu barranco abaixo, rolando como uma pedra, sendo coberto pela terra vermelha, o rastro de sangue ficava para trás, como um tapete vermelho. Com muito cuidado comecei a descer até onde ele estava, ele ainda vivia, respirava muito lentamente, sorri e tirei a faca de seu peito.

- Sabe, eu até gostava de você sabe, amava sua voz, seus olhos, mas você estragou tudo, me fez odiar te amar, agora perdemos tudo, você perdeu a chance de viver mais, eu perdi você e também a vida, não vou sofrer nas mãos imundas dos humanos.

Com um suspiro forte, fechei meus olhos, respirei mais uma vez e coloquei dentro de meu coração a mesma lâmina banhada com o sangue daquele que amei e odiei cada dia de minha vida até aquele dia, a dor foi imensa, senti meu coração ser cortado pela fina lâmina banhada de sangue, meus joelhos tremeram sobre o peso maldito de meu corpo, as lágrimas banhavam meu rosto, cai sobre ele, encostei meu labio sob os dele e sussurrei para ele...

- A morte manda lembranças... Memento Mori...

Nunca mais vi mais nada vivo, nada que fosse belo como a liberdade de um pássaro ou uma rosa em seu jardim, mas de qualquer modo, jamais veria se continuasse a viver, afinal ele era minha rosa e meu pássaro que nunca tive...

Markos Queiroz
Enviado por Markos Queiroz em 21/12/2009
Código do texto: T1989390
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