Amor de Sangue e Álcool
Foi uma coisa simples, aconteceu rápido demais, quando percebi estávamos nos amando, eu estava sobre ela, ela gritava, ela gemia, ela levantava os olhos para o céu, o êxtase de Santa Tereza, posso estar pecando fazendo essa comparação, mas só o viver já é um pecado tremendo. Eu sei que pode parecer estranho o que vou falar, mas é a mais pura verdade, ela me dava desejos estranhos e anormais, desapertava coisas loucas em mim, seu corpo, seu perfume, seus olhos, sua boca... aquele cheiro que só ela me dava de graça.
Éramos dois amantes, não tínhamos segredos um com o outro, não éramos jovens, mas vivíamos como dois jovens loucos, alucinados e sem responsabilidade alguma, não nos importávamos com nada, com os olhares das pessoas, com o que elas pensavam, ou acreditavam ser a verdade para elas, eu e ela, éramos apenas eu e ela e mais nada. Sempre fui muito cuidadoso com ela, sempre fiz todas as coisas que ela me pedia, sempre dei tudo o que ela queria, no final acabei dando coisas demais.
Tudo começou naquela maldita noite de vinte e dois de dezembro de... Eu estava em casa sozinho, ela havia ido fazer compras de natal, eu fiquei em casa com uma garrafa de Vodka de um lado e um copo na mão, meu sangue já estava fervendo, eu não a via a dois dias já, estava desesperado, eu me alimentava dela, do nosso sexo, sentia fome, uma fome monstruosa dela, bebi uma garrafa e comecei uma segunda, a maldita bebida, o maldito álcool, o licor do diabo. Eu ouvia a voz dela pelos cantos da casa, o desespero só aumentava, eu não via mais as paredes do mesmo jeito, havia fogo por toda a casa, estava tudo desabando em meio às chamas, para onde eu olhava só havia fogo, agarrei a maldita garrafa de Vodka e sai cambaleando pela sala, ouvi uma porta sendo batida, me virei e ela estava ali, parada na porta, sem sacolas, olhei para ela e falei sem saber o que estava falando de verdade.
- Onde estão as merdas das sacolas? Por que demorou tanto pra vir em? Onde você estava sua vadia?
- Do que você esta falando? Você esta bêbado? – Ouvi aquilo fez meu sangue pulsar, eu não era um bêbado, não era um alcoólatra, eu nem bebia para começar. – O que você esta fazendo seu louco?
- Louco? Bêbado? Vou lhe mostrar quem é o louco e o bêbado sua vadiazinha...
Eu a agarrei pelos cabelos e a puxei para o quarto, as paredes ainda estavam em chamas, a casa estava queimando e ela estava me chamando de bêbado, ia lhe ensinar umas coisas. Seus gritos ecoavam na minha cabeça, eram como um martelo em um sino, eu a joguei na cama, havia lágrimas escorrendo do seu rosto, ela se arrastou para o canto da cama, subi na cama ainda com a garrafa nas mãos, puxei suas pernas e ela gritou, aquilo foi demais, minha cabeça doeu, agarrei a boca da garrafa e a desci sobre a cabeça dela, a Vodka lavou toda a cama, o cheiro de sangue tomou conta do meu nariz e subiu até minha cabeça, lambi aquela mistura de sangue e álcool, era demais, tentei acorda-la um tempo depois, era tarde, seu corpo já estava frio, o desespero tomou conta de mim, havia uma mulher fria e morta na minha cama, na minha casa, o fogo que havia na casa havia desaparecido, o diabo havia me deixado.
Corri até a cozinha, havia uma garrafa de álcool ali, peguei um isqueiro e corri para o quarto espalhando álcool por todo caminho, joguei sobre a cama e ascendi o isqueiro, deixei o fogo cair sobre a cama e lamber tudo, me sentei num canto e esperei, o diabo sorria para mim, bem de frente sorri para ele, enquanto seu corpo em brasas lambia toda a casa, todo aquele corpo que havia alimentado meus desejos todos aqueles dias passados, senti meu corpo sendo lambido pelo fogo, senti a mão do diabo me puxando, me levantei e o acompanhei, ele me deitou sobre a cama, sobre aquele corpo frio em chamas e lavado de sangue.
Não sei como, mas hoje me encontro numa sala branca e estofada, não sei que lugar é esse, mas sei que não é o paraíso...