A Primavera ( PARTE 4 DE 9)

Não é que eu seja o tipo maluco sem noção de realidade. Eu sou o tipo de maluco que sabe que é louco. Sou doente, tenho um problema sério, um distúrbio. Vou procurar um médico, me tratar, tomar meu remédios regularmente...

A quem eu estou engando? Fico repitindo essas coisas todas as vezes que ela mata mas nunca faço nada disso.

Eu sei que ela não existe, mas é tão real quanto aquela parede. Os tijolos não vão sumir se eu fingir que não estão alí, se eu correr na direção da parede com os olhos cerrados eu vou bater a cabeça nela, acredite, eu já tentei.

Disseram que eu matei minha família naquele acidente de carro... MAs como se eu nem me lembro deles? É possível um pai esquecer o sorriso de uma filha que ele ama? Ou o olhar da esposa que te olhava com tanto carinho naquela foto de família?

Não recordo nada.

Só a maldita fada dançando na sala em volta do corpo do jornaleiro e repitindo 1, 2 no final das frases sempre que fala qualquer coisa.

Ela não some, dela eu não esqueço... (Será que quero?).

Com seu vestidinho azul e seus cabelos louros, tão diferente da filha que eu tive e que na foto tem cabelos negros...

- Não vai atender o telefone, 1, 2? - Pergunta ela sorrindo pra mim.

Me arrasto até o aparelho que tocou toda a manhã e atendo.

- Alô?

- Oi, é a Marisa, olha, você sabe que eu não gosto de fofoca...

Todo fofoqueiro diz isso. Marisa, minha detestável vizinha gorda que trabalha como fiscal na prefeitura. Odeio fiscais e odeio fofoqueiros... Odeio Marisa.

- Pois, não dona MArisa.

- Dois homens passaram o dia rondando a rua e espiando sua casa... Achei que devia te avisar, afinal o senhor é tão reservado...

- Obrigado dona Marisa.

Desligo.

- Era a dona MArisa? Mandou um beijo pra ela? - PErguntou a fada.

Eu odeio a gorda... Ela adora!

- Você vai ter que limpar essa bagunça... - Diz Deva.

Eu sempre limpo e só pra que ela mate denovo.

- Ei, olha pra trás... - Aponta ela.

Eu olho e um choque de dor atinge meu olho. Vejo dois caras vestidos de terno parecendo o Gordo e o Magro.

Caio no chão e sinto que estou perdendo os sentidos.

- Xiii.... - Diz a fada - Você vai desmaiar denovo?

Ouço risos, palavras confusas, um som seco que não identifico.

- Pronto! - Diz o homem gordo - Agora é só levar esse maluco pro patrão.

Fernando Airan
Enviado por Fernando Airan em 12/12/2009
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