A Lenda da Dama do Caixão
Depois de um tempo desempregado, finalmente Turíbio conseguiu um emprego. Não era bem o que ele estava procurando, mas o ajudaria a pagar suas contas. Um amigo seu o havia indicado para aquela vaga, e ele não poderia fazer uma desfeita.
Turíbio era exímio vendedor. Não havia produto que não conseguisse vender. Com sua paciência, simpatia e um jogo de persuasão infalível, o moço logo dobrava o cliente. Já havia trabalhado com roupas, calçados, jóias, planos de saúde, filtros de água, enciclopédias... enfim, Turíbio topava tudo.
Seu novo emprego seria mais um desafio em sua carreira. Ansioso, chega cedo ao local de trabalho. Funerária Luz de Cristo. Alícia, funcionária da loja, lhe informa sobre seu trabalho e sobre os produtos. O novato escuta tudo atentamente.
O movimento daquele dia estava fraco. E agora que se aproximava a hora do “recesso”, é que o movimento ia despencar mesmo. Como é típico das cidades do interior, do meio dia até as duas da tarde, quase todo o comércio fecha e as ruas ficam tão desertas quanto uma cidade fantasma...
Àquela hora, quase todas as lojas tinham fechado, exceto a Funerária Luz de Cristo. É então que nessa hora, entra uma linda e misteriosa jovem, de longos cabelos negros com pontas quebradiças e irregulares, muito pálida e vestida de preto dos pés a cabeça. A moça entra e fica olhando os produtos expostos na loja, admirando com olhos atentos.
Turíbio se aproxima da jovem e pergunta, cheio de simpatia:
- Boa tarde! O que deseja?
- Quero um caixão.
Turíbio então começa a comentar sobre as qualidades de cada produto e as facilidades da loja:
- Irei mostrar-lhe nossos melhores produtos. Temos caixões para todos os gostos. Aceitamos cheques e todos os cartões. Temos descontos especiais à vista! – com um sorriso de ponta a ponta, apresenta: – Veja este, uma verdadeira obra de arte! Observe seu tom de marfim, que beleza! O melhor mesmo, está por dentro: totalmente forrado com a mais pura seda!
A moça olha com curiosidade.
- Este outro, feito de mogno, com estes ricos entalhes na tampa. Veja seu brilho!
- É realmente bonito - a cliente concorda, indiferente.
- Agora, se o que busca é conforto, este aqui é o melhor: por apenas novecentos e cinqüenta reais, você tem este belo exemplar feito de jacarandá, muito bem acolchoado por dentro. Também temos esta versão totalmente rosa choque, por dentro e por fora. Posso conseguir um preço especial por este.
A moça olha, olha. Parece indecisa. Silêncio. Turíbio prepara o fôlego e a garganta de tenor para fazer a fatídica pergunta:
- É... para adulto ou para criança?
De cabeça baixa, sem olhar para o vendedor a sua frente, a mórbida cliente responde:
- É para mim!
Só nesse momento é que o pobre Turíbio percebe que a moça está toda suja de terra e sangue nos cabelos e vestido. Lentamente, ela levanta a cabeça e o olha nos olhos. Turíbio sente o coração subir pela garganta. Os olhos da sinistra figura não passavam de duas órbitas ocas e negras. O rapaz sente aquele cheiro de terra e morte invadir o recinto, de modo que ele sente vontade de vomitar. A dama então suspira tristemente e desaparece, deixando o desafortunado vendedor petrificado, de olhos arregalados, cabelos em pé e calças borradas.
* Baseado em lenda do sul do país.