O Bananal do Cemitério
Numa tarde calma de verão, Rubão que era homem mulato e forte, caminhava tranquilamente pela orla da praia, observando toda a natureza ao redor e as ondas do mar levemente quebrando-se na areia.
A certa altura do calçadão, resolveu entrar na praia, caminhou mais um pouco e encontrou enterrado na areia um amuleto, assim que o limpou, ele ficou intrigado, era um amuleto de basalto no formato de uma mão aberta com os dedos separados.
Foi para debaixo de um coqueiro para ficar debaixo de uma sombra, pois o Sol estava muito quente, ele virou o amuleto de todos os jeitos tentando decifrar a utilidade daquele objeto, julgou que se tratava de alguma proteção e levou-o consigo para casa, arrumou uma corrente e o deixou guardado em cima da estante.
Na alta madrugada, o amuleto brilha e uma pequeníssima entidade esverdeada de aparência humana e olhos puxados emerge, ele voa até Rubão dentro de redemoinho e o observa atentamente e sua áurea transmitia uma força de grande ódio e assim ficou, até o dia clarear e se desmaterializou no amuleto.
Rubão acordou indisposto, mas foi para a rua trabalhar, colocou o amuleto no pescoço e seguiu seu caminho, porém na metade da caminhada sentiu uma grande vertigem e sentou-se na calçada, os transeuntes que passavam tentavam ajudá-lo, sem conseguir nada, após mais alguns instantes ele foi levado para o hospital.
Chegando ao hospital, os médicos não sabiam o que ele tinha, parecia um morto-vivo, não respondia a nenhum estimulo e ficou em estado catatônico, uma vez ou outros seus olhos se mexiam, causando grande preocupação a todos.
Quando a noite caiu, próximo da meia noite, um homem alto sisudo de capa preta e rosto coberto se esgueirava pelos corredores do hospital, até chegar ao quarto onde Rubão estava, vasculhou as gavetas e achou o amuleto, falou algumas coisas numa língua estranha e Rubão se levantou da cama e disse em voz de zumbi:
-Sim mestre!
Ele vez um aceno com mão e eles partiram do hospital, rodaram pela cidade inteira até chegar ao cemitério, já passava da meia noite, nos fundos do cemitério havia um bananal muito sinistro, onde uma névoa espessa o cobria; ninguém tinha coragem de ficar ali, nem de dia e nem de noite, as pessoas tinham sensações estranhas e para lá eles partiram.
O homem sisudo começou a investigar as bananeiras, pois procurava alguma coisa e encontrou numa delas uma faca encravada, retirou-a e nela estava escrito:
“Mais uma plantação para o meu pomar”
Aquele homem estranho bateu palmas e Rubão saiu do transe, assustado e desorientado, olhou para as bananeiras e nelas faces de homens horrorizados enraizados, as bananeiras gemiam, eram pedidos de socorro e clemência que ecoava pelo ar, sentiu um grande medo no coração e tentou correr, mas suas pernas estavam presas no chão.
Após observar mais atentamente, percebeu que suas pernas haviam se transformado em um tronco de bananeira, olhou para o homem encapuzado, que pegou o amuleto e colocou na palma da mão e novamente surgiu a entidade esverdeada que disse em voz super estridente:
-Eu sou o duende das bananeiras, você foi escolhido para fazer parte
do meu jardim, pois você tem um segredo guardado!”
Rubão que tinha 40 anos lembrou-se que na sua mocidade havia feito algo degradante, havia estuprado uma moça na época em que vivia na boemia dos bares e havia escondido o corpo daquela jovem num rio ali próximo e ninguém havia descoberto o crime.
Rubão ficou com a face horrorizada, não houve tempo de pedir clemência, foi lentamente se transformando numa bananeira, a base de gritos o processo levou quase duas horas, após o ocorrido, a entidade voltou para o amuleto e aquele homem encapuzado sumiu pela eira da noite.
No dia seguinte o velho guarda Pedro estava mostrando o cemitério para o jovem guarda João Paulo e passaram pelo bananal e o jovem disse com um arrepio na espinha:
-Nossa essas bananeiras tem um aspecto estranho, parecem homens
gritando! – Parecia que dava para ouvir os gemidos.
-É meu filho. – Respondeu o velho, apertando o passo. –Ninguém se atreve a tirar essas bananeiras daqui e te aconselho a não ficar andando por aqui.
O jovem concordou e já era fim do seu turno, se arrumou e ao sair do cemitério encontrou um amuleto de basalto no formato de uma mão aberta, ficou intrigado com aquilo e o levou para casa...
Amadeu Paes
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