Cortejo Fúnebre
Cidades pequenas do interior sempre tem muitas lendas e folclore.
E na minuscula cidade de florbela não era diferente e a mais conhecida lenda era a a do cortejo fúnebre da sexta feira de toda terceira semana de cada mês.
Contava-se que entre as 23 horas e meia noite desse dia, não era bom ficar fora da casa, pois um cortejo fúnebre sempre passava pela rua principal que cortava a cidade.
E sempre nesse dia, todos se recolhiam e fechavam todas portas e janelas.
Alguns diziam ouvir choro, gemidos e lamentos. E talvez por coincidência toda sexta feira da terceira semana a lua se negava a aparecer.
Mas nem todos acreditavam em lendas, principalmente os mais jovens.
Irreverentes beirando a rebeldia. Se arriscavam.
Mas existia um detalhe interessante que orientava para que no caso alguma pessoa estivesse na rua nesse determinado dia, o dia do cortejo fúnebre e o visse vindo pela rua, deveria abaixar a cabeça até que o cortejo passasse e não se ouvisse mais nenhum som.
Agosto. Terceira sexta feira. A tarde se vai e a noite vem. Está quente. As pessoas pelas ruas, conversam, brincam, se divertem. A noite se adentra.
Pouco a pouco vão sumindo da ruas as pessoas. Portas e janelas se fecham.
Alguns jovens continuam a conversar. Preferem não acatar aos conselhos dos mais velhos.
23:30 horas e a noite parece ficar ainda mais escura.
De repente avistam adentrando à rua um grupo de pessoas....um arrepio toma conta de cada um deles. Medo e curiosidade. Abaixam a cabeça e continuam imóveis.
Um deles sussurra: Não olhem, não se movam.
O som de lamento, choro e dor vai ficando cada vez mais audível. O medo aumenta.
Sentem que estão bem próximos agora.
Estão exatamente em frente a eles. Estão parados....
O medo vira pavor. Os ohos continuam cerrados.
Menos um par, que não resistindo à curiosidade, se abriu e ao olhar para frente, cruza diretamente com outro par de olhos, fixos aos dele.
Um pavor gélido toma conta de seu corpo, mas ele não consegue desviar sua atenção.
O que ele vê o amendronta como nunca.
Quatro hoemens altos vestidos de preto seguram um caixão, três deles olham para o chão, mas um deles continua olhando fixamente em seus olhos, como se sugasse sua alma, seu espírito.
Após alguns segundos que parecem ter sido uma eternidade, eles continuam a andar. O som vai ficando cada vez mais longe até desaparcer.
O garoto curioso continua com os olhos fixos no nada, e os outros levantam suas cabeças e nem notam que alguém tinha olhado e visto o cortejo passar.
Setembro. Terceira sexta feira. Os garotos estão lá na rua para ver o cortejo passar. Todos menos um.
Na verdade ele está vendo o cortejo, só que de outro ângulo.
E torcendo para que pelo menos um de seus amigos seja curioso o bastante para olhar o cortejo e trocar de lugar com ele.