Pânico No Hospital
- Boa noite, Joe – cumprimentou uma enfermeira que passava pelo corredor.
- Boa noite, querida – disse Joe que não conseguia lembrar o nome dela, memória nunca foi seu forte.
Joe Vinder é um médico de 45 anos que trabalha há dez no Hospital Santa Lúcia onde é especialista em cirurgias de coração. Ele é branco, tem cabelos pretos começando a ficar grisalhos e é alto.
Ele tinha acabo de voltar de um curto intervalo para lanchar, falou rapidamente com a sua secretária, entrou em sua sala e trancou a porta. Joe não estava muito bem, sentia uma tontura e uma dor de cabeça torturante, leve e constante.
Apertando o botão do telefone direto para a secretária ele disse:
- Não tenho nada marcado para as próximas duas horas, por favor, Marina, não quero falar com ninguém.
- Sim, senhor.
Joe tirou o jaleco e jogou na cadeira, baixou a temperatura do ar-condicionado para 15° e deitou na pequena cama do consultório.
• • •
Parecia que estava tudo bem quando Joe acordou uma hora depois. Ele levantou, esfregou os olhos e destrancou a porta para falar com a secretária. Ela não estava lá. O médico andou pelos corredores próximos e não viu ninguém, achou estranho, mas continuou a andar, foi ao refeitório e também o encontrou vazio. O que está acontecendo?
- Marina?! – chamou ele aumentando o tom de voz. – Alguém está ai?
Nenhuma resposta.
Passando pelos corredores ele notou que não havia mais nenhum paciente nas macas e camas. Só pode ter acontecido algo muito grave e esqueceram de me chamar! Só pode ser isso. De súbito ocorreu a Joe que a entrada do hospital era sempre muito movimentada, ele correu para lá e murchou perdendo todas as esperanças quando viu a porta fechada e ninguém a vista.
- Merda! – gritou ele batendo na porta.
O calor que Joe sentia já tinha se esvaído a essa altura. Sem muitas alternativas ele não pensou muito. Pegou um extintor de incêndio que estava preso a parede e jogou com força contra a grande porta de vidro. Em vão. O extintor se chocou com a porta sem causar nenhum arranhão e caiu no chão provocando um estrondo.
Entrando em desespero o médico tentou usar o telefone da portaria, mas não funcionava, tentou o da recepção. Nada.
- TEM ALGUÉM AQUI?! – Joe gritava enquanto voltava para sua sala. O silêncio e branco o consumiam como um monstro a cada passo que ele dava. – Isso é algum tipo de brincadeira idiota?
Ao entrar em sua sala Joe tomou o maior susto de sua vida e quase caiu para trás.
Uma mulher negra, de cabelos curtos e bagunçados usando uma bata branca estava parada à sua frente com um sorriso enigmático impregnado no rosto. Ela disse:
- Olá, doutor Vinder, está passando bem à noite?
- Quem é você? – perguntou ele com pausas entre as palavras.
- Oh, doutor, nem faz tanto tempo assim... Não se preocupe, você vai lembrar. – Ela parecia muito segura. – Uma ajuda: Meu nome, Katarina. Lembra?
Joe realmente não fazia idéia de quem era. Katarina parou de sorrir, segurou o homem pelo pescoço e o encostou com força contra a porta.
- Será que com um trauma violento você lembra? – ela começava a deixar a expressão tranqüila.
Joe não fazia idéia do que era tudo aquilo.
- Porque você está fazendo isso comigo? – murmurou ele sufocado.
- Porque VOCÊ fez aquilo comigo? Você era um médico tão renomado... Por que eu?
Katarina começava a sentir raiva, os vidros das janelas e da mesa se despedaçaram e caíram fazendo barulho no chão.
- Me desculpe se eu fiz algo a você, peço desculpas e prometo ajudar no que puder pra resolver seu problema.
- Me ajudar? – Katarina o soltou e riu alto – Como você pretende dar de volta a minha vida?
- Sua vid...
- É, isso mesmo! Você me matou, doutor, ME MATOU!
Joe continuava sem entender, ele agora se andava vagarosamente para longe da mulher. Ele só queria acordar desse sonho.
- Está com medo, doutor?
Medo era uma palavra que se encaixava perfeitamente.
- Você vai sofrer, doutor, porque merece sofrer!
A raiva de Katarina crescia. As luzes se apagaram, a mulher voou para perto de Joe e bateu a cabeça dele com força na prateleira de madeira. Uma lágrima desceu do olho esquerdo de Joe com o impacto da dor.
- Quando você lembrar a gente conversa. – disse ela com um olhar assassino.
Katarina fez um leve movimento de cabeça e vários abjetos voaram em volta dela. Joe só tentava lembrar. Essa mulher tem que estar em algum lugar da minha cabeça. Não vou mentir para ela, será pior. Os objetos voaram até baterem com força na barriga do médico que gritou de dor, sua camisa estava rasgava e derramava sangue.
A mulher não parou e não era um sonho.
Ela empurrou Joe no chão e depois rasgou sua própria bata. Havia uma grande cicatriz na altura do peito esquerdo dela, cicatriz de cirurgia. A mulher segurou o médico pela cabeça e jogou contra uma parede lateral fazendo-o urrar de dor e cair sobre a cama.
De frente para Joe estava um representação exata de um coração, ele olhou para o objeto depois para a cicatriz da mulher e lembrou.
Joe voltou para suas memórias de 4 anos atrás, ele estava na sala de cirurgia operando mais um coração doente. Na cama ele via Katarina desacordada, tudo dera errado naquela cirurgia, ele estava nervoso, não sabia o motivo, ele errou, errou feio. Ele deixou Katarina morrer. Ficou arrasado, passou sete meses afastado do hospital em recuperação e apagou aquele dia da memória, ou pensava ter feito isso.
- Eu... Eu me lembro de você – disse ele aflito.
- Ora, mas finalmente! – Katarina parecia se acalmar.
Apenas parecia.
- Agora que já lembra já sabe exatamente porque está passando por essas coisas, não?
Joe não respondeu. Katarina levantou os braços, a sala ficou muito mais escura e fazia um frio congelante. Joe estava machucado, exausto, não tinha mais idade para tanto movimento. Ela baixou os braços fazendo o chão e o teto racharem. Ventava muito na sala fazendo os objetos balançarem. Joe tremia. Frio e pânico.
A cama em que ele estava foi arrastada para perto da mulher.
- Eu tinha família, doutor. Eu tinha uma filha!
- Me desculpe Katarina, eu realmente não queria. Me desculpe!
- Não! Eu NÃO desculpo!
Com um movimento lento e doloroso Katarina arrancou o coração de Joe fazendo-o sangrar, sangrar, sangrar...
• • •
Minutos depois Marina entrou na sala de Joe com sua chave olhando para uma ficha.
- A Márcia está querendo falar com o se... Doutor?! – Ela presenciou o ataque de coração fulminante de Joe.