O homem que carregou o menino Jesus
Natal.
Paz. Luzes. Shoppings cheios.
Pessoas indo, vindo, comprando. Felizes.
Todo ano ele estava lá. No mesmo shopping, indo de loja em loja.
Sua roupa surrada e suja. Sua pele queimada de sol. Seus cabelos longos e mal cuidados.
Seus olhos olham o além como se as pessoas à sua volta não existissem.
Em seus lábios raramente se via um sorriso.
Durante o resto do ano poucas vezes era visto.
Pouco se sabia dele, a não ser que havia sido um empresário, um homem normal até que uma tragédia se abateu sobre sua família e ele nunca se recuperou.
Era véspera de natal. Eram felizes, ele, sua esposa e um filho de alguns meses.
haviam comprado presente para todos. Todos menos um. Sua esposa o convidou para irem ao shopping, pois queria comprar o presente para ele, ele que era a melhor pessoa que ela conhecera.
Fim de tarde, shopping lotado. Pessoas apressadas, corre corre. Felizes.
Entram, saem, riem, brincam e se divertem.
De repente, gritos, tumulto, barulho.......pessoas correndo desesperadas.
Assalto? Polícias? Tudo ao mesmo tempo.
Sem saber para onde eles també correm, precisam se proteger, mas de que? Nem sabem...
Ela com o bebê no colo. Mãos dadas, correm.
Um grito. Uma dor. Ele sente a mão dela se soltar da sua.
Vira e somente a vê caida ao chão.
Sangue. Pessoas correndo. Ela e o bebê feridos. Ele grita como se ninguém estivesse por perto.
Seu presente jogado ao chão.
Polícia. Um elemento detido, um louco. O som de muitos disparos. outras pessoas feridas.
Mas ela, sua amada esposa e seu bebê não estão apenas feridos, estão mortos, ele sabe, ele sente.
A dor é infinita. E ele não consegue aceitar.
Os dias passam mas a dor piora. A dor aumenta.
Ele passa a viver nas ruas. Perambulando a olhar para o céu, ele tem a certeza que ela está lá em algum lugar com seu bebê. Ele sabe que estão bem.
Mas a culpa por terem saido para comprar seu presente o persegue.
Todos os anos na época de natal, ele vai para os shoppings e fica como que vigiando os presépios, como se quisesse pegar as esculturas que representam o menino Jesus.
Os seguranças sempre ficam atentos, pois já foram avisados sobre ele.
Mas sabem que ele não faz mal a ninguém.
Fica por ali, olhando como se visse algo que as pessoas não veem.
Acaricia as esculturas, as vezes fica impaciente, quase que desesperado.
Mas os seguranças sempre estão por perto.
Um dia as pessoas o veem circulando com um bebê de verdade no colo.
Mas não estranham, alguma mãe pode ter ficado com pena e permitido que pegasse se filho.
Em uma loja a vendedora nota que o menino Jesus do presépio sumiu.
Ela fala com os seguranças, mas ninguém viu nada, somente ele com um bebê de verdade circulando pelo shopping. Mas o bebê era real.
Ele aparece no meio co corredor com o menino Jesus, apenas uma escultura.
Quando questionado sobre o bebê, ele diz que somente pegou o menino Jesus.
Ele explicou que algumas pessoas estavam vindo das profundezas para levar o menino.
Pessoas que somente ele via, e que fora incumbido de cuidar de toda escultura de menino Jesus que ele encontrasse.
Ele devolveu o menino Jesus à manjedoura, se desculpou e saiu.
Algumas pessoas disseram ter visto alguns vultos usando sobretudos negros saindo pelos corredores e desaparecendo como fumaça.
E outras ainda afirmaram que o homem carregava um bebê de verdade em seus braços.
Existem coisas que nunca teremos certeza.
Muitas vezes nossos olhos nos enganam.
Ou queremos que eles nos enganem.
Teria aquele homem visto mesmo os vultos?
Teria ele carregado o verdadeiro menino Jesus nos braços?
Quem sabe...........