O Mistério do Cemitério

Contam os antigos, que numa cidade do interior, num velho cemitério, havia um coveiro que ao descer o caixão à sepultura perdeu uma das mãos, inexplicavelmente por ser ele muito grande, forte, depois de sepultar os defuntos, a noite ele profanava os túmulos e decepava a mão esquerda do morto para ver se servia no seu antebraço.

Foi mais de uma centena de mãos experimentadas e nenhum delas serviu, até que o coveiro mutilador veio a falecer, e todas as noites quem passa na frente do cemitério dizem ver um homenzarrão andando por entre as covas procurando uma mão que lhe sirva.

Foram mais de um século, ouvindo que um coveiro maldito assombrava a região que um grupo de três adolescentes resolveu por um fim nesta história, marcando numa noite que esperariam pela alma do coveiro nem que para isso algum deles tivesse que morrer, e riam quando pronunciava a palavra morrer. E conversaram entre eles com deboche e zombaria.

Milena era a mais escrachada, seguida por Bill, e Dhoni, por ironia do destino eles escolheram uma noite de sexta-feira de lua cheia que clareava as sepulturas como se fosse dia. Combinaram que ficariam cada um num canto diferente do cemitério e quem encontrasse primeiro a penada alma, gritaria avisando os demais.

Milena foi para esquerda, Bill para a direita e Dhoni foi caminhando pelo centro da necrópole que era muito extensa, Milena deparou com um despacho e riu criticando a fé alheia pensando: “como o ser humano é besta, colocar galinha e pinga num cemitério onde já se viu os mortos ajudarem em alguma coisa?”

Bill, seguindo a direita olhava atentamente tudo que seus olhos poderiam alcançar no campo santo, um vento assoviava nos ouvidos dele, um calafrio percorreu sua espinha dorsal, o fazendo tremer.

O silêncio das covas não incomodava de forma alguma os pensamentos de Dhoni, imaginava e, formulava mil e uma perguntas a fazer para o defunto que levantasse das sepultura, não ria nem zombava, não duvidava, também não acreditava, respeitava somente.

Milena continuava sua caminhada rumo ao desconhecido, olhando por todos os lados, a negritude da noite, se fazia mais breu do que antes, seus passos já pareciam pesados já não os trocava com tamanha facilidade, cansada de rodar os túmulos e sempre deparando com o mesmo destino conhecido, o roteiro já estava maçante na sua cabeça, desesperada começou a gritar, e cada vez mais alto, sem que nenhum de seus companheiros respondesse.

Bill, já exaurido de berrar e caminhar em círculos procurou uma jazida com degraus mais elevados e sentou na esperança de seus colegas o encontrarem, seu rosto estava estampado o pânico, todo o sacarmos que acompanhava desde a entrada no cemitério, olhou o céu, a lua já na brilhava, como as estrelas, ela escondia seu clarão nas nuvens escuras do céu.

Dhoni, já não tinha mais esperança de encontrar o coveiro maldito, ou qualquer outro espectro, conferiu as horas no relógio, e estranhou que ele tinha parado, pegou o celular outra surpresa, fora de área, decidiu então procurar pelos amigos, olhando por toda a extensão do campo santo, tentou refazer na mente os caminhos que ele andou até aquele lugar em que se encontrava se orientando, buscou as marcas que fez por onde passou nada, sumiram-se todas, visualizou as pequenas ruas entre um jazigo e outro, notou que seus passos haviam se apagado.

Tentando concatenar suas idéias, escorou numa grande cruz, e ficou olhando o nevoeiro que se aproximava, balançou a cabeça, rindo pode ver seus amigos dormindo cada um numa lapide, levantou correu até eles.

Numa manhã de domingo o jornal trazia na manchete principal. TRES JOVENS MORREM DE OVERDOSE NO CEMITÉRIO CENTRAL. Mas na foto não revela que a moça e um dos rapazes estavam sem a mão esquerda do braço.

valdison compositor
Enviado por valdison compositor em 19/11/2009
Reeditado em 10/12/2014
Código do texto: T1932628
Classificação de conteúdo: seguro