A Fera - Azar - Primeira Parte

Em noites como essa, aconteciam coisas estranhas entre as árvores ao redor do bairro Cabralzinho, porém nenhuma pessoa havia presenciado tais fatos, ninguém a não ser um grupo de jovens que usavam o ar livre como seu local de reunião e treinamento, pois Henrique, Edu, Jack e Daniel gostavam de praticar artes marciais, e como não tinham um local para treino os quatro decidiram improvisar no antigo clube de escoteiros que ficava no final da Alameda Calçoene, o local não era grande, mas era suficiente para os amigos que apenas estavam em busca de um lugar reservado para treinarem.

- Bem acho que aqui serve. - falou Henrique olhando ao redor.

- Cara, aqui está muito bom para treinarmos, o problema vai ser a iluminação quando tiver anoitecendo. - lembrou Jack tentando pensar numa solução.

- Não se preocupem, foi meu pai que fez tudo isso. - respondeu Henrique com orgulho. - Ele conseguiu alguém da Companhia de Eletricidade para instalar energia aqui quando ainda funcionava o grupo de escoteiro.

- Legal. - animou-se Daniel.

Os quatro amigos sabiam que o bairro Cabralzinho era cercado pela mata que vinha da Lagoa dos índios, porém, não imaginavam que tudo isso tinha uma razão de ser, esse local, fora a bastante tempo tomado por uma tribo indigena antiga e que usavam da bruxaria para afastar os homens brancos que os maltratavam por pura diversão ou para satisfazerem os seus interesses pessoais, mas esse segredo não permaneceria escondido por muito tempo.

Os jovens passaram uma semana arrumando o lugar, tiveram que podar os galhos das árvores que adentrava o local dedicado ao grupo de escoteiro, e de vez em quando eles atravessavam o lago que no momento estava seco devido ao periodo seco do mês de outubro, e as vezes voltavam com algumas frutas e mudas de pequenas árvores frutíferas, era assim o dia dos quatro jovens, todas as sextas após os treinos eles atravessavam em busca de algo novo para a TOCA como chegou a ser batizado pelos quatro, mas eles não sabiam que essa sexta iria ser diferente para eles, e isso mudaria a vida deles e de todos ao seu redor.

- Cara nos temos que pegar alguns bambus, os boquens¹ que nós fizemos, já estão apodrecendo. - informou Daniel ao ver Henrique surgir no meio das árvores.

- Então vamos naquela fazenda que vimos na semana passada, lá tem alguns bambus por trás daquela casa.

- Ok.

Os jovens seguiram o caminho que sempre percorriam as sextas feiras, o mato aberto que se estendia ate chegar às poucas árvores que ficavam do outro lado do lago, depois de quase meia hora de caminhada avistaram o pequeno casebre no meio do que fora uma fazenda no passado. Aos fundos do casebre haviam alguns bambus que foram vistos por Jack.

- Hei, Henrique, olha lá. - falou Jack apontado para os fundos do casebre.

- Vamos lá pessoal, temos que pegar alguns bambus antes que escureça.

Os quatro caminharam em direção ao casebre, passando pelas janelas que foram seladas com tábuas igualmente velhas feito a casa, der repente escutaram algumas pessoas conversando alto e rindo, Henrique pediu silêncio - os quatro encostaram-se na parede da casa e sorrateiramente começaram a contornar a casa, passando pelos fundos.

Ao lado da casa Henrique havia contado três pessoas, um deles sem camisa, e os outros com pedaços de pau, estavam todos sentados e distraídos. Henrique afastou-se aos poucos pedindo para os companheiros fazerem o mesmo.

- O que foi cara? Quem eram? - perguntou Edu assustado vendo a cara de medo do amigo.

- Eram fugitivos do presidio, eu vi um deles no jornal, lembra da fuga que teve hoje pela manhã? - perguntou Henrique olhando ao redor.

Os três ficaram assustados e encarando um ao outro começaram a caminhar para o mais longe possível dali, no entanto, ao passarem por uma mangueira depararam com homem alto de pele clara, seus olhos mostravam raiva e espanto ao mesmo tempo, e antes que eles pudessem sair correndo ele agarrou Daniel pelos braços e encostou uma faca pequena na garganta do garoto.

- Calma cara, faz isso não. - falava Henrique nervoso com a situação delicada.

- O que vocês estão fazendo aqui? - perguntou o estranho chamando a atenção dos outros que estavam não muito distantes dali.

Daniel estava nervoso com a situação, mas no momento em que o agressor afastou a faca de seu pescoço chamando os amigos com a mão ele conseguiu abaixar-se livrando-se das mãos do homem e socar seu estômago fazendo-o largar a faca e ir ao chão soltando um grito de dor.

- Corre pessoal. - gritou Daniel para os outros amigos que ficaram paralisados por alguns instantes, ao verem o amigo livre do homem, começaram a correr em direção às árvores.

Os outros fugitivos que acompanhavam o estranho golpeado por Daniel começaram a correr atrás dos garotos, chegaram a segui-los até as árvores.

- Desgraçados. - esbravejou o homem alto. - Vocês não vão ficar aí o dia todo que eu sei, não tem nem pra onde correr, vocês estão cercados cambada de mariquinhas.

Os garotos estavam nervosos, pois o homem que estava gritando não estava mentindo, Henrique havia visto um dos amigos do bandido correr em volta das árvores, cercando-os, a mata era densa, porém, de pequeno porte, e eles não podiam ficar ali no meio do nada sem serem descobertos por muito tempo, não tinham como voltar para as suas casas sem antes passarem por eles, não aguentariam correr durante meia hora em mata aberta, era arriscado de mais.

- O que vamos fazer cara? - perguntou Edu amedrontado por estarem cercados.

- Ainda não sei, é mais fácil esperamos anoitecer para sairmos daqui, assim eles não vão nos enxergar. - falou Henrique tentando acalmar os amigos.

Foi o que eles fizeram, a noites estava se aproximando rapidamente, e os bandidos continuavam cercando a pequena mata onde haviam se escondido.

- Vamos, temos que descer sem fazer barulho. - avisou Henrique. - Já são oito da noite, acho que já é seguro sairmos daqui.

Os quatro desceram das árvores que haviam usado para se esconder. Jack aproximou-se da passagem que haviam usado para entrarem na pequena mata, o homem que havia sido acertado por Daniel estava afastado a mais ou menos trinta metros deles, com um aceno de mão chamou os amigos que vinham a suas costas. Quando o grupo de jovens se aproximaram, Jack apontou para os homens que havia visto cercando eles.

- Está faltando um. - avisou Daniel.

- Eu sei, onde que ele pode estar? - sussurrou Henrique.

- Não sei, mas sei que temos logo que sair daqui. - falou Jack deixando de esconder-se entre as árvores e correndo para o caminho que seguia até a TOCA.

Os outros acompanharam o amigo, e a poucos metros avistaram o homem que estava faltando na contagem deles, ele estava com uma lanterna que foi apontada para o grupo de jovens.

- Carlos, eles estão aqui, não deixa eles voltarem para as árvores. - gritou o homem que segurava a lanterna.

Carlos e os outros bandidos começaram a correr impedindo que os jovens voltassem a se esconder no meio das árvores, um dos bandidos havia ateado fogo nas árvores.

- E agora bonequinhas, como vocês vão se esconder de nós? - perguntou Carlos encarando Daniel. - Você vai perder essa sua mão princesa. - apontou para a mão do garoto com uma faca.

Carlos correu para cima de Daniel desferindo um golpe no ar, Henrique havia empurrado o amigo para o chão o tirando do caminho desenhado pela faca. Jack aproveitou o momento para jogar uma pedra no rosto de Carlos que uivou de dor.

- Desgraçados, vocês vão morrer, não vou ficar bancando o otário para vocês. - vociferou Carlos limpando um filete de sangue que escorria de sua testa.

Daniel se levantou com a ajuda de Henrique e todos começaram a correr em direção ao casebre, Jack foi o primeiro a chegar próximo a casa, a porta estava selada assim como as janelas, ele tentou forçar a porta usando o máximo de sua força, Henrique sem aviso passou por ele e com um chute forte conseguiu quebrar a tábua que trancava a porta, dando passagem aos outros garotos que corriam atrás dele.

- Vamos, corram logo. - gritava Henrique para os outros que estava se aproximando.

Quando todos estavam do lado de dentro Henrique e Jack fecharam a porta, Daniel entendendo a intensão deles encontrou um pedaço de madeira e levou aos dois.

- Usa isso para trancar essa porta. - gritava.

Henrique e Jack conseguiram trancar a porta e a força dos homens do lado de fora não era suficiente para abri-la.

Henrique e Jack afastaram-se da porta com o coração a mil, e quando virou para os amigos que estavam parados atrás deles, Daniel e Edu estavam paralisados, algo chamava a atenção deles no fundo da casa, seus rostos estampavam medo.

- O que foi cara, o que vocês estão olhando? - perguntou Jack aproximando-se de Edu.

Eles não podiam acreditar, havia algo enorme nos fundos, encostado na parede, não era possível dizer o que era, porém seus olhos eram enormes feitos bolas de sinuca, de um vermelho vivo e hipnotizador, aos poucos, a criatura foi escancarando a sua boca, seus dentes pareciam uma dúzia de facas afiadas, escutando um pequeno rugido os quatro sentiram medo e um calafrio em suas espinhas.

- O que é isso? - sussurrou Henrique puxando os amigos o mais possivel próximo da porta que haviam acabado de trancar.

A criatura rugiu baixo fazendo com todos tremessem, não paravam de encarar seus olhos, com força tremenda a criatura bateu sua pata enorme no chão a sua frente, ela estava se levantando, e com a pouca luz que escapava das janelas lacradas por tábuas, eles viram a forma da criatura, tinha pelos longos, corpo enorme e musculoso, suas orelhas eram pontudas e movia-se a todo instante que captava um som, sua boca estava escancarada revelando seus dentes enormes e amarelados com acumulo de sujeira, Henrique conseguiu destravar a porta chamando a atenção da fera, que por sua vez saltou em direção aos garoto que por puro reflexo, Henrique puxou seus amigos para baixo caindo sobre a porta abrindo-a para fora com peso de seus corpos, fazendo com o que a fera caísse sobre os homens que estavam do lado de fora preparando tochas para atearem fogo na casa onde eles estavam. Dois dos homens foram ao chão com o peso da criatura, Henrique e os outros começaram a correr para a TOCA, algumas vezes olhavam para traz vendo os homens sendo atacados pela fera, aqueles homens nunca mais iriam causar terror a eles, pois algo de mal e insano havia escapado daquela casa botando os moradores do bairro Cabralzinho em constante perigo, ninguém sabia o que estava por vir, apenas Henrique, Edu, Daniel e Jack poderiam fazer alguma coisa, porém eles ainda não sabiam da desgraça que eles haviam libertado.

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1-Boquem é uma espada feita de bambu que é usada para treinos com espada.

...Continua

Isso vai depender dos comentarios dos leitores, sinceramente espero que gostem...=)