A gata Preta
Ele chamava-se Felipe, um homem de 25 anos, alto, cabelos escuros, pele clara, era muito religioso, nunca tinha namorado, mas em seus sonhos aparecia um linda morena para beijá-lo e deixá-lo bem louco. Acordava suado e feliz, mas punia seus pensamentos considerados imundos. Ele tinha horror a gatos, odiava a todos, principalmente as fêmeas de cor preta, sua mãe dizia que os gatos eram servos dos demônios e as gatinhas bruxas sedutoras. Em seus sonhos, a sua bela morena se transformava em gata e ele ficava arrassado e com ódio.
Acordava religiosamente ás 7:00 da manhã todos os dias, fazia sua oração matinal, jejuava, se considerava um homem bom, honesto e virtuoso, julgava a todos da vizinhança, principalmente as mulheres, achava que a mulher era um ser reprodutor acéfalo, nenhuma valia nada com exceção da sua mãe. Há dois meses tinha se mudado para a vizinhança Thaís, uma morena de olhos verdes brilhantes, ela era muito bonita, logo Felipe se sentiu atraído por ela, achava que ela era a morena dos seus sonhos, tinha sonhos pervertidos com ela, sentia-se culpado e enojado, mas de qualquer forma feliz. Só tinha aquela sensação de ter uma mulher quando dormia. Em uma dessas vezes, acordou suado e foi tomar seu banho para se purificar e esquecer aqueles pensamentos sujos e quando saiu do banho deu de cara com uma gata preta linda de olhos verdes, ele ficou aterrorizado. Depois todos os dias a gata aparecia na mesma hora todas as manhãs depois de ter sonhado com Thaís.
Ele saia para a rua e se escondia de Thaís, achava ela uma bruxa do mal, estava possuído pelo demônio, tinha sonhos eróticos, desejava aquela mulher, aquilo estava deixando o virgenzão bem louco. Ele estava ficando doente, não conseguia tirar aquela mulher da cabeça, se punia, jejuava, orava e nada. Sua mãe estava estranhando o comportamento do filho, ela dizia para o filho que ele iria arrumar uma mulher virtuosa e honesta, mas ele não achava graça nas mulheres da igreja, queria mesmo Thaís.
Chegou a um ponto de estar tão louco, que ele começou a se cortar com a faca, primeiro foram uns cortinhos, depois uns rasgos na pele, mordia-se, batia-se, chorava, amava Thaís mesmo sem conhecê-la, mas ela era uma bruxa, ela era aquela gata de olhos fascinantes que aparecia todas as manhãs para atormentá-lo, acusá-lo de seus pecados imundos. Para não sonhar com ela, estava com insônia, doente, mal comia, não ia mais a igreja, só pensava em Thaís, a desejava muito. Sua mente virou um poço doentio, disposto a se livrar de seus pecados resolveu matar Thaís em forma de gato, então em um dia pela manhã atraiu a gata para dentro da casa a aprisionou e a enforcou até ela sufocar e cair morta no chão. Levou a gata e enterrou no seu quintal, cheio de flores e plantas, dali a uma semana sentia-se aliviado, agora até dormia, mas todo o jardim de sua casa tinha secado, estava horrível. E um dia passando pela rua Thaís o encarou e ele derreteu, sentiu vergonha, seu desejo por ela continuava e ainda era mais forte. Sentia-se atormentado e começou a ver Thaís em forma de gatos em tudo quando era lugar.
Pegava os gatinhos pretos á noite, atraía-os, deliciava-se em acariciá-los, aquilo o excitava e depois do ritual de amar os gatinhos, os matava com um ódio cego. Depois de matar trinta gatinhos pretos, sentia-se um herói de estar limpando o mundo daqueles servos do diabo. Agora, estava mais firme na igreja, considerava-se um servo de Deus, sua missão era matar aqueles seres imundos. Os gatos mexiam muito com Felipe principalmente por seu comportamento independente, misterioso e sensual, aquilo o machucava e o excitava profundamente, sua mente era doentia e fanática.
Depois de um mês começaram a procurar os gatos da vizinhança e começaram a desconfiar de Felipe, Thaís tinha perdido a sua gata e resolveu ir até a casa dele perguntar sobre o paradeiro da Brida. Ele viu Thaís, abriu a porta e se apavorou, estava frente a frente com a sua tentação. Ela era linda, ele a agarrou e começou a beijá-la, a tirar suas roupas e ela tenta impedí-lo, começa uma luta de Thaís para se livrar daquele doente. E ele enquanto tenta combater e se entregar a seus impulsos vê Thaís em forma de gato e a enforca com força e com um ódio violento. Thaís caí morta em seus braços e ele chora, chora muito, matou seu amor, leva ela para o quintal e a enterra.
Há três dias a polícia procura Thaís, as investigações levam a Felipe e a polícia descobre em seu quintal um cemitério de cinquenta gatos pretos enterrados e mais o corpo de Thaís. Aquilo revolta os moradores, querem linchar Felipe, a mãe se lamenta, sente-se culpada por ter arruínado o filho, ela dizia que tudo era pecado e era muito religiosa, depois da mídia ter divulgado a história de Felipe, vários religiosos condenaram a atitude do homem, em algumas religiões se prega o amor e a tolerância, mas a maioria dos líderes pregavam a intolerância e o fanatismo, o mesmo que levou Felipe a prisão no manicômio.
Felipe foi levado, estava louco, só sonhava com gatos, via gatos em tudo que era lugar. Falava sozinho, via vultos, via Thaís. Ria ás noites, chorava, mordia-se, queimava-se, usava facas para se cortar. Uma noite ao acordar levantou-se, saiu para andar e conseguiu fugir do manicômio. Andando viu um lago, e olhou e viu Thaís ao redor de cinquenta gatos. Ela o chamava e ele foi, ajoelhou-se perante ela e seus gatos, pediu perdão e ela pegou sua mão quando os gatos miavam e ronronavam e então ela o levou para o fundo e ele a abraçou e amou aquele momento e morreu no fundo do lago. Depois de uma semana encontraram o corpo do infeliz, ele foi enterrado e só sua mãe compareceu ao enterro. Naquele momento sua mãe chorou até secar sua alma, sentia-se culpada, aquela religião tinha destruído a sí e ao seu único filho, transformando-o em um doente mental.
Há um mês Helena, mãe de Felipe, deixa a religião e encontra o amor e a paz ao superar a perda do filho ao acolher gatos de rua, principalmente pretos. Agora, Helena antes fanática religiosa e conhecida com a véia dos gatos.